22 dezembro 2003

telemerda e o fim da cidadania

há dias que não consigo mais ligar para celulares do meu telefone fixo. no finde, tive a idéia de tomar satisfações com a telemerda, mas como só lembrava disso nos horários mais desarrazoados, resolvi deixar pra hoje.

assim, descobri que fui vítima de uma armadilha semântica: através de uma atendente que provavelmente não leva o cérebro para o trabalho (ou será esse um pré-requisito para trabalhar nesse cargo? será que eles ganham adicional de insalubridade para aturar os maus-bofes de consumidores como eu? será que estamos, pela privação de alimentação e alternativas de educação, criando uma sub-casta como os ipsilones semi-imbecis do admirável mundo novo, do huxley? eu sei, sou obcecado por esse livro. mas, enfim, divago...), a atendente me informou que em novembro eles "habilitaram" esse serviço de bloqueio de celular.

- desabilitaram, você quer dizer.
- não, senhor. o serviço foi habilitado, e gratuitamente.
- não, você não me entendeu. vocês desabilitaram. se antes eu conseguia ligar para celulares e agora fui impedido de fazê-lo, eu deixo de ter um serviço à minha disposição, correto? fui, portanto, desabilitado.
- senhor, esse é um dos serviços que a tele... oferece ao custo de dois reais mensais.
- peraí! vocês não estão me cobrando por isso, não, é?
- não, senhor, o serviço foi oferecido gratuitamente para o senhor.
- mas se foi oferecido, como é que eu não fiquei sabendo? como é que vocês presumiram que eu queria fazer uso disso, se eu não disse nada? se não concordei com nada?
- a informação foi enviada junto com a a sua conta de novembro.

bom, diante disso, não havia mais o que fazer, a não ser pedir que me reabilitassem logo. não costumo ler as propagandas e demais chorumelas que eles me mandam.

mas tive mais uma prova da engrenagem do capital neoliberal: você não importa, mesmo que pague. antes, se você pagava, anida tinha direitos, era tratado de "doutor" e tinha lá sua cota de rapapés; hoje, nem isso. as decisões são tomadas à sua revelia, e você que se dane para acompanhá-las.

o consumidor, hoje o substituto do cidadão, tem que dançar conforme a música que tocam. e ai daquele que não puder sequer ser consumidor. perde o direito à própria dignidade humana; e um resquício de ética religiosa é o que os impede de desenvolver uma "solução final" efetiva aos párias do capital. no entanto, se as previsões de que, com a automação, 20% terão trabalho e 80% terão "tempo livre" (ô, eufemismo!), é bom preparar o pescoço para o fio da espada.