28 fevereiro 2004

matsuo bashô, por leminski

matsuo bashô é o maior poeta de haikais de todos os tempos. com a morte de seu mestre em 1667, o jovem bashô, com apenas 23 anos, se vê obrigado a tornar-se um ronin - um samurai sem mestre. como integrante de uma casta de guerreiros, ele tem direito de assumir funções administrativas em edo (antiga tóquio).

assim o faz durante um tempo, mas logo abandona tudo para dedicar-se a duas disciplinas, com o afinco e o rigor que caracterizavam um verdadeiro samurai: o estudo da cultura e da poesia chinesas, e a prática zen, num mosteiro dirigido pelo monge bucchô.

tudo isso está no livro vidas, da editora sulina, uma reunião de quatro personagens geniais biografados pelo cahorro louco paulo leminski: cruz e souza, jesus, trótski e bashô. o polaco curitibano era um poeta iluminado, faixa-preta de judô, bebum notório e gênio audidata. aprendeu a ler grego, latim, hebraico italiano e francês ainda jovem, quando estudou num internato beneditino, e desvendou o inglês e o japonês sozinho, para traduzir whitman, fante, ferlinghetti, john lennon, mishima e bashô. em vidas, há uma pequena história, bem ao estilo meio nonsense que o zen, sobre a iniciação do poeta:

Bucchô, do mosteiro de Kompanji, um monge de amplas leituras e profundas luzes, tornou-se professor de Bashô.
Indo ao templo de Chokeiji, em Fukagawa, perto de Edo, um dia, ele visitou o poeta, acompanhado por um homem chamado Rokusô Gohei.
Este, ao entrar no quintal da choça de Bashô, gritou:
- Como vai a Lei de Buda neste jardim quieto com suas árvores e ervas?
Bashô respondeu:
- Folhas grandes são grandes, folhas pequenas são folhas pequenas.
Bucchô, então, aparecendo, disse:
- De uns tempos pra cá, qual tem sido o seu empenho?
Bashô:
- A chuva em cima, a grama verde está fresca.
Então, Bucchô perguntou:
- O que é que era esta Lei de Buda, antes que a grama começasse a crescer?
Nesse momento, ouvindo o som de um sapo que pulava na lagoa, Bashô exclamou:
- O som do sapo saltando na água.
Buchô ficou cheio de admiração a esta resposta, considerando-a uma prova do estado de iluminação atingido por Bashô.
Deste momento, data esta microilíada zen, o mais célebre haikai, o mais lembrado poema da literatura japonesa, isto de Bashô:

a velha lagoa
o sapo salta
o som da água