27 novembro 2003

sincronicidade é isso aí!

e não é que fui acordado hoje com uma reportagem da cbn sobre planejamento familiar?
a matéria citava duas ongs, a BEMFAM (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil), que existe desde 1967, e o CEVAM (Centro Vergueiro de Atenção à Mulher).

Louvável, mas as ongs não podem assumir as responsabilidades de uma política de estado. é pouco, ainda.

em todo caso, meu faro para pautas está afiadíssimo.

26 novembro 2003

incêndio na ceasa e o excesso de crianças

antes que a notícia envelheça demais, gostaria de tecer algumas considerações sobre os saques ocorridos depois do incêndio da ceasa. no noticiário de anteontem, apareceu uma senhora favelada reclamando da fome, pois só tinha sal para dar de comer aos seus sete filhos.

aí penso cá com meus botões, o problema não é de fome. é de planejamento familiar. ora bolas, se essa dona tivesse dois - em vez de sete – filhos, ela talvez não estivsse sofrendo tal penúria. esticando um pouco mais o raciocínio, lembrei que há anos não ouço nenhum governante falar no assunto. a última vez, para ser bem preciso, foi em 1996, na feira de ciências do colégio militar (instituição que freqüentei tempo suficiente para aprender a detestar qualquer tipo de organização de massa). antes disso, também, no começo da minha vida escolar, passada nos bancos de diversas escolas públicas, nos estertores da ditadura. depois do governo sarney, nunca mais. é como se o problema não existisse.

aí, apresentada às conseqüências da falta de informação, o que faz a nossa gloriosa classe média, da qual faço parte? oscila entre a vontade nunca confessa de exterminar as hordas de pivetes e mendigos que enfeiam a garcia dávila, ou apela para soluções paliativas de distribuição de sopão na madrugada, à moda zarur (essa é só pra quem tem mais de quarenta). mas sobre planejamento familiar, silêncio fúnebre.

quero deixar claro que não estou falando de esterilização sem consentimento, mas da possibilidade consciente de decisão entre ter ou não (mais) filhos. até porque, sem isso, acontecem coisas como a que eu ouvi de uma amiga, que contou que o porteiro de seu prédio desejava mandar a mulher de volta para o nordeste, “porque aqui ela só sabia era fazer filho”.

19 novembro 2003

neuromancer

comecei a ler a nova edição em portuga de neuromancer, do william gibson. para quem não sabe, o camarada é autor do ciberespaço, conceituando-o como um ambiente virtual de transmissão de dados. o personagem principal, Case, é um caubói do ciberespaço, um hacker viajando pelo ambiente binário da Matrix.

qualquer semelhança com algo que vocês já tenham visto é mera chupação mesmo. os irmãos wachowzchfpsky realmente se inspiraram até o talo no livro. este aliás, mais do que a história, prende pela construção do ambiente, que vêm influenciando a ficção científica desde antes de blade runner, e pela caracterização e situações, um tanto clichês pinot noir, mais ainda assim, deliciosas.

como diz um coleguinha, recomendo com ênfase! a próxma aquisição é the difference engine, do mesmo gibson, e do bruce sterling. mas sobre esse eu falo depois.

flash mob contra o fim das prisões especiais

diante do anúncio do possível fim da prisão especial para nível superior, gabi sugeriu protestarmos com uma flash mob. em conjunto, estabelecemos como palavra de ordem "universitários, unidos, jamais serão prendidos!"

man on the mam, ou a volta do diabo da garrafa

desde domingo, pé de cachimbo, estou para contar sobre como enchi os cornetos no finde. fui ao mam para umas festas de algum evento. eu mais uma amiga mais seu namorado batemos ponto na sexta, e no sábado repetimos a dose, sem o namorado, que estava tocando com sua banda.

bão, na sexta marcamos num japa aqui de laranjeiras, e enquanto eles jantavam, mergulhei no saquê até atingir um estado que, na vertical, poderia se aproximar de um arremedo de consciência zen.

embora a festiva em si estivesse fraca, valeu por ter encontrado alguns amigos que não via há tempos. saímos de lá relativamente cedo e partimos para o recém-reinaugurado jobi, o pai de todos os bebuns no leblon. os garçãos, coitados, envergando coletes xadrez iguais às toalhas das mesas. feio que só.

sábado, pela primeira desde que cheguei no bairro, há dois meses, dei as caras no choro aqui na rua com gabi e salsão. estava, segundo eles, mais cheio que de costume, graças à matéria do caderno de bairros do globo. comi pastel e bebi garapa. de álcool, nem uma gota sequer. encontramos com uns amigos paulistas, fizemos um tour pelas redondezas e paramos no serafim. chopes e doses de magnífica molharam as palavras dos amigos, enquanto eu fiquei no mate (ou coca, não lembro).

depois vieram todos pra cá, mas fui pra cama. de noite, segui para a casa do casal, e de lá rumamos para o mam, diversas doses de uísque com red bull depois.

o show do autoramas foi legal, bacalhau está destroçando na batera, mas a baixista tinha uns trejeitos esquisitos. de vez em quando repetia o mesmo gesto de levantar o baixo na vertical à sua frente, e fazia umas caretas que lembravam o lon chaney interpretando o fantasma da ópera. alguém precisa avisar pra essa menina...

minha partner de noitada saiu cedo pois o namorado veio buscá-la, e fiquei só, zanzando como barata tonta depois de algumas generosas doses de vodca pura com gelo. e a carne começou a esquentar. e o desejo aumentou na mesma medida em que eu me dispersava. o conhecido e temido desfecho caminhava a passos largos para sua realização: sairia dali de manhã - sozinho, obviamente.

mas antes encontrei com uma amiga e ex, que por sua vez estava acompanhada de uma amiga (dela), figura em quem já havia reparado noutra ocasião. mas como àquela altura meu meu filme ficando quieto. mas tarde, entornaria o caldo queimando-o, quem sabe, irremediavelmente.

nas indas e vindas pelos dois salões, mais birita foi absorvida, meu senso decrescdo proporcionalmente. e o velho diabo da garrafa ia tomando conta da personalidade. reencontrei as duas, que há horas conversavam com dois camaradas. o clima era de pegação, mesmo assim puxei minha "amiga ex" e sussurrei (sem muita certeza de não estar sendo ouvido por todos): "pô, esses caras não vão tomar uma atitude? esse papo já tá rolando há um tempão e até agora, nada!"
ela me mandou um "vai tomar banho", enquanto eu me afastava, contente com a molecagem.

amanhecia, a pista esvaziava, e pintou uma cadeira de plástico numa parte afazstada do salão. sentei e me pus a admirar uma menina que, apesar da pouca idade, já tinha passado da validade de ser a avril lavigne que ela gostaria. era bonita, e pela lentes embaçadas, dava a impressão de estar retribuindo os olhares. fui até ela, que estava meio de costas pra mim, conversando com uma gordinha à minha frente. quando me aproximei, a gordinha levantou o olhar, avisando-a. ela se virou, eu disse oi. ao que ela respondeu, com uma agressividade de quem se acha muito esperta:

- algum problema?
- problema nenhum. só gostaria de me apresentar. meu nome é marcelo.
- meu nome é michelle.

na verdade, não lembro se o nome era esse, nem o que exatamente eu disse em seguida, mas acho que pedi o telefone, ou coisa que o valha. talvez tenha dito que gostaria de conhecê-la melhor. a resposta foi um "não" seco. não perdi a pose e disse que que achava que quem devia estar com problemas era ela, com aquele humor péssimo. encerrei a discussão dizendo que ela não sabia o que estava perdendo; virei as costas e voltei para minha cadeira em triunfo, certo de que havia ensinado àquela fedelha uma lição de educação e malandragem. um sorriso estampou-se em meu rosto enquanto eu caminhava despreocupado, as mãos nos bolsos. devo até ter assoviado, mas de qualquer forma ela não ouviria, com todo o volume da música. sentei-me, e fiz uma varredura no entorno, começando em sua direção, mas sem fixar o olhar. sentia-me magnânimo e paternal, como um barão admirando seus escravos trabalhando a terra.

fui embora por volta das sete, sob o sol já então castigando. assisti a uma briga de casal no ponto , num espaço de tempo que me pareceu eterno. tomei o ônibus e saltei na padaria perto de casa. comi um risole que jurou algum dia ter hospedado um camarão. frito em óleo de caminhão. tomei um mate e pedi um queijo minas na chapa.

na saída, liguei para a "amiga ex", para perguntar como tinha sido a noite. estranhei a rapidez com que ela atendeu e a clareza da voz. perguntei onde estava. em copa, foi a resposta, com a amiga e os dois carinhas. não resisti:

- pô! quer dizer que os caras ainda tão aí de papo, sem tomar uma atitude até agora?! ah, não! que é isso, meu deus! e por acaso seu pai sabe que você está na rua até essa hora?

e continuei falando disparates. acho que no começo ela riu, mas depois deve ter ficad brava. tenho esse problema, perco os amigos, mas não posso perder a piada. aliás, acho que liguei duas vezes, pois se não me angano a amiga também atendeu, e até brincou por eu ter confundido as vozes.

enfim, foi isso. não falei com ela até hoje. acho que amanhã eu ligo para saber como foi. e como fui.

dessa história, só sei tirar uma conclusão: não posso facilitar com o diabo da garrafa, pois ele parece ser muito meu chapa, mas sempre acaba me sacaneando. mas o pior é que, olhando em perspectiva, me divirto bastante. afinal, o que é a vida sem essas pequenas incongruências?

de qualquer forma, vou dar um sossego no bicho. acho.

17 novembro 2003

frase da semana

"Um homem que detesta crianças e cachorros não pode ser mau de todo".
- W. C. Fields

qualquer semelhança é...bem, deixa pra lá.

11 novembro 2003

a esperança veio me ver

uma baita esperança entrou no meu quarto, botou uma fileira de ovos atrá do cartaz do festival de cinema de miami de 2001 pregado embaixo da janela, e agora está passeando sobre a minha cortina branca. pensei em enxotá-la do quarto, mas resolvi deixa-lá em paz. afinal, é raro eu ter a esperança por companhia.

as invasões bárbaras dos genes egoístas

ainda estou sob o impacto de as invasões bárbaras. é sem sombra de dúvida um dos melhores filmes que já vi. apaixonante, singelo, politicamente incorreto, sexista...posso gastar teclas e teclas de adjetivos e elogios. roteiro afiado, atores idem (destaque para a junky interpretada pela marie-josée croze, que além de tudo é portadora de uma beleza narcótica).

levante já essa bunda da cadeira e corra até o cinema!

mas não era sobre isso que eu queria falar. o personagem principal está à beira da morte, e desfia uma série de questões sobre o sentido de sua vida, e lamenta-se pelo que poderia ter feito. isso mexeu muito comigo. minha crença em vida após à morte, reencadernação etc. é variável. depende mais do dia e do interlocutor do que de uma certeza interna. se o sujeito é crente na matéria e eu estou num bom dia, sou até capaz de acreditar. mas às vezes sou cético, acho tudo isso besteria; a gente morre, vira comida de verme e pronto. afinal de contas, é muita pretensão querer conservar o ego além da matéria, né? ah, não, faça-me o favor... quando chegar minha vez de tocar harpa na terra do pé junto, quero descansar de ser marcelo. apagar a ficha, zerar a contagem, e que tudo o mais vá pro inferno!

mas também não era exatamente isso. recapitulando: o cara questiona o sentido da vida - e fiquei pensando que talvez não haja nenhum. talvez o importante seja perceber isso e aproveitar tudo até o momento de atar as duas pontas do nada. mas sem egoísmo, pois a fila atrás de você é interminável, e a toda hora chega mais gente. então, o importante é manter a casa arrumada (não apenas para os seus), porque eles têm tanto direito a curtir tanto quanto você.

a receita deve ser mesmo ouvir boas músicas, ler bons livros, cultivar amizades e atrasar contas; porque afinal, já que você vai perder um tempão por aqui, o ideal é que pelo menos você se distraia durante a estada. e o resto que se dane!

certo deve estar o Richard Dawkins, que escreveu que não passamos mesmo de um amontoado de genes egoístas, cuja única função é a auto-reprodução. o gene só quer saber de se perpetuar, e vem daí toda a aventura da vida, seja ela um vírus, um cocker spaniel, o paulo maluf ou a luana piovani (aliás, luana, se o seu gene quiser se reproduzir às minhas custas, é só mandar um imeio que a gente de cá dá um jeito, viu?). veja bem: qual a utilidade de um mosquito ou de uma barata, a não ser se multiplicarem ao ponto de se tornarem uma praga ou uma epidemia? não há qualquer explicação para eles, salvo o egoísmo genético.

como explicar a rãzinha do deserto do arizona, que passa a vida toda enterrada na areia, só saindo durante o período das chuvas, quando têm não mais que uns quinze dias para chegar à superfície, procurar uma fêmea, cruzar, procriar e se enfiar de novo no chão, onde passrá mais um ano sem fazer absolutamente nada, em estado de quase hibernação. que sentido tem essa vida bunda? que sentido tem a nossa? só porque construímos torres e as explodimos, escrevemos livros e os queimamos, criamos deuses e os esquecemos? cantamos, dançamos, andamos de bicicleta, nos equilibramos sobre o meio-fio, caímos, enfiamos moedas no nariz, chupamos gilete, somos explorados no trabalho e corneados, jogamos no bicho, nos apaixonamos, levamos fora, choramos, bebemos guaraná com formicida, rimos, algumas vezes envelhecemos, e sempre haveremos de morrer. e sabe de uma coisa? isso é tudo. kaput. surpresa! esse papo de transcendência é só para confortar as crianças, os angustiados e os que têm medo de se arriscar. "ah, nessa vida fui pio, casto e só rezei, mas quando chegar do outro lado vou botar pra quebrar, vocês me aguardem!" não senhor, querido. o tíquete só dá direito a uma viagem. bobeou, perdeu. depois daqui, babau. já era. se a tua energia se decompõe e se recompõe com outras para formar uma nova pessoa, não sei. nunca ninguém achou o caminho de volta para contar.

acho que o assunto deveu-se também ao impacto de descobrir Lugal e Nin, os imortais do Max Mallman. ou será o próprio Max um deles? respostas (e mais dúvidas) no zigurate.

aliás, Max, parabéns. li o livro de quase um fôlego. agora vou atrás da epopéia de gilgamesh. não consigo mais parar. ah, rapá, você me paga...

04 novembro 2003

enquanto isso, em gotham city...

...os comentários parecem que resistiram às mudanças. bom.

report dead links

flanando, acabei de descobrir que dois links da minha lista morreram: águas claras, do meu bróder dude, e brazileira preta, da clarinhah averbuck. ambos deixaram mensagens de despedida, que reproduzo a seguir. primeiro as damas:

Sexta-feira, Outubro 24, 2003

brazileira!preta - R.I.P.
28.9.01 - 24.10.03

Foi bom, foi lindo, frutífero e inspirado, dois anos de posts ininterruptamente cuspidos e jorrados diretamente do coração desta que vos escreve, dois anos de paixões e amigos e risadas e momentos tristes e uns outros momentos do caralho, dois anos de miséria e euforia.

Mas tudo o que é bom tudo acaba. Senão não tem graça.

Poderia dizer que não tenho mais tempo e que estou afundada entre fraldas e mamadeiras e noites mal dormidas e um frila na mtv - o que é verdade, mas não me impediria de continuar se eu realmente quisesse. Poderia dizer que agora sou uma mulher casada, fiel e apaixonada e que não sofro mais de amor perdido, o que também é verdade - e é que eu procurei a minha vida inteira. Mas isso também não me impediria de escrever no blog. A única coisa que me impede sou eu mesma. Cansei disso tudo, porque um dia cansa.

E eu não vou ficar me forçando a fazer algo que não quero. Sem paixão não rola. Sem paixão não tem condições. Está nos meus Dez Mandamentos: não faço nada que não queira, nada que seja forçado, senão fica sem alma e sem alma não presta pra nada. O brazileira!preta, de um tempo para cá, tornou-se mais uma obrigação do que prazer. Antes eu era obcecada por postar, postar, postar, escrever, escrever, escrever, o tempo todo, o dia inteiro, com chuva, com sol, neve, granizo, coração partido, álcool nas veias, lágrimas nos olhos. Passou. Claro que eu não vou parar de escrever, senão eu morro. These words I write still keep me from total madness, mas elas agora serão escritas de outro jeito, em outros lugares, lidas por outras pessoas, em jornais ou livros ou revistas ou qualquer outro veículo. Mas não mais aqui. Cansei, saturou, não quero mais saber desse negócio de blog. Só essa palavra já me embrulha o estômago, dá ânsia de vômito, "bloooogh". Cansei. Mas não vou parar. Só vou mudar de novo, e de novo, e de novo. Prometo que aviso quando o Vida de Gato sair. Vocês reclamem com o Joca Reiners Terron, que eu já entreguei o livro para ele e agora não é mais comigo. Estou escrevendo outro livro, agora para uma editora grande, bem grande, mas não vou falar sobre essas coisas porque dá azar. Agora eu vou escrever livros. Chega de blog, chega de escrever de graça, chega de gastar as minhas histórias. Queridos leitores, obrigada por tudo, todo o carinho, todos os emails, todos os presentes e tudo que vocês me deram. Eu vou continuar por aí, nas prateleiras, nas revistas, nos arquivos do blog e no coração de vocês.

E agora chega, que eu detesto despedidas.

Com amor,

.: Lady Averbuck :. 1:46 AM


...

já meu amigão foi sucinto. não sei se o que ele mantém com a patroa, o barulinho continua valendo. desconfio que não, mas mantenho o laço que nos une:

Segunda-feira, Novembro 03, 2003

C'est fini. Mas quem quiser usar os links, fique a vontade.

... rascunhado por Dudu mais ou menos às 10:38 AM


...

justificados ou não, ambos cantraram pra subir. com isso, declaro automaticamente extintas duas posições da lista.

bem que minha mãe falou pra eu não acreditar nesse povo de blog!

sem comentários

pô, toda vez que eu mexo no template, essa bagaça apaga o código dos comentários.

ah, minha santa querupita!...mas será impossível?!

comentários

graças à matéria do informática etc., ao blogs.com.br e ao falou e disse, até eu pude instalar um sistema de comentários.

pelo menos agora saberei que não falam comigo pela qualidade dos textos, e não por falta de acesso.

em breve teremos novas e eletrizantes configurações. uau!

01 novembro 2003

a los muertos

amanhã é dia de finados. quão apropriado.

em comemoração à data e ao clima tãããããão acolhedor, siga a bolinha, por peter gabriel:

Indigo

It's too late, this model's out of date.
Got every spare part, but there ain't much heart inside here.
Not like the start, I was good at the art of survival;
I've always tried to keep my feelings deep inside
Where I can hide them, now I'm open wide.

When it ends, again I'll see my friends,
They'll give me a lift, I've been running adrift, so easy...
Shifting the gear, I've got nothing to fear from a showdown,
I'll go down quiet.
And the kids downstairs making a hell of a din,
I'm all alone, getting a quote for the wages of sin.

Beyond the indigo, indigo,
Where the chilly winds, winds will blow,
My time is running low.
Going to cross the dark, dark river,
Going to see my good life-giver,
Better cover my yellow liver.

All right, I'm giving up the fight,
I didn't know when I'd be a stranger again in my own land.
The days are okay, but oh, how I hate these long nights.
You understand?
Darling, please just hold my hand.
You feel so warm, in the eye of the storm,
I'm going away, I'm going away, I'm going away.
See you again someday...
Darling, I'm going away.
Feel like I'm going away, this time I'm going away.

...

taquíuspa!, como eu gostaria de ter escrito isso...

Virgílio já sabia

Forsan et haec olim meminisse iuvabit

ou, em bom portuga "talvez, futuramente, seja prazeroso recordar estes fatos".

sonho frustrado de uma tarde de...verão?

e lá estava eu, debaixo de um calor opressivo dentro das calças jeans e da camiseta escura, pés e meias ensopados de suor, a ressaca atirando dardos no meu cerebelo, a meio caminho de encontrar meu passado. e se não foi bonito, tampouco foi feio. mais parecido com pele morta.

tudo quase como eu havia deixado, com exceção das duas fotos sobre as estantes - estandartes da minha derrota definitiva. eu não conseguia ser engraçado. não conseguia ser nada. o ar faltou, e enquanto falavam ao telefone, busquei a janela da sala. a paisagem resplandecia imóvel, lentamente cozida pelo sol. recuperei-me, e de volta ao quarto, senti-me um pouco mais presente. a ressaca agora atravessava meu crânio com um picador de gelo, e no almoço tomei uns goles de cerveja para rebater. no ônibus, tinha me esforçado para não cair num pranto de auto-piedade pela antecipação do encontro. mas agora, durante o refeição, podia quase reconhecer o velho eu de volta, viçoso, contando histórias e arrancando sorrisos.

quando saímos, entretanto, sabia que o assunto viria à tona. minhas chances eram escassas, e me fechei em copas. mas não fui esperto o suficiente, e uma pergunta me abriu a guarda, expondo meu flanco mais débil. deixei pingarem algumas gotas sobre a situação, mas veio óleo quente sobre as minhas esperanças. respondi com sobras de ironia - quase um dândi - mas meu destino estava consumado. sem perceber, servi meu nervo de bandeja. ela estava certa, eu errado. deixei a emoção tomar conta da situação - embora mais tarde, analisando tudo, no íntimo eu soubesse que ela precisava de uma vitória. sua certeza e paz só seriam completas quando eu me humilhasse. mas no calor do momento, os pensamentos eram amargos: "espero que a proximidade destrua as ilusões", ou "um dia, o amor chegará para mim, esplendoroso, e ao seu lado desfilarei em triunfo".

ao mesmo tempo, pensei quem era eu para querer ainda amor depois de tantas oportunidades atiradas à lama, depois do rastro de corações despedaçados que até hoje marca meu caminho, e às vezes me assombra na escuridão da noite. algum dia terei paz? algum dia serei capaz? algum dia merecedor? alguém?

isso me lembra um poema de Drummond. afinal, mesmo as derrotas precisam de estilo:

Coisa Miserável

Coisa miserável, suspiro de angústia
enchendo o espaço,
vontade de chorar,
coisa miserável,
miserável.

Senhor, piedade de mim,
olhos misericordiosos
pousando nos meus,
braços divinos
cingindo meu peito,
coisa miserável
no pó sem consolo,
consolai-me.

Mas de nada vale
gemer ou chorar,
de nada vale
erguer mãos e olhos
para um céu tão longe,
para um deus tão longe
ou, quem sabe? para um céu vazio.

É melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
entre duas paredes,
sem a mais leve cólera
ou humilhação.