bom mesmo é esquecer-se dos problemas e maravilhar-se com as pequenas coisas da vida, como a brisa de uma tarde de sol de outono.
26 maio 2005
vergonha pelos outros
"Enquanto os guardas o seguravam, ela tirou sua própria blusa, abraçou o detento por trás e pôs a mão na região genital dele. A interrogadora estava menstruada e espalhou sangue tirado de seu corpo no rosto e na cabeça do detento".
retirado de um relato do fbi, datado de abril de 2003, sobre abusos cometidos por uma interrogadora, na base de guantánamo. a notícia inteira está aqui: Documento do FBI relata caso de exemplar do Corão jogado em vaso sanitário (o globo on-line de 25/05 - 20h12m.
aí eu me pergunto, como é que os estados unidos esperam ser respeitados, se continuam tratando todos os demais países na base do big stick? quer dizer, todos, não, porque eles já aprenderam que com os "amarelos", o buraco é mais embaixo. para os coreanos do norte e vietnamitas, eles sabem que têm que pedir "licença" e "se faz favorzinho", e no final, dizer "obrigado".
parece que setembro de 2001 não bastou. ainda não atinaram os barbudos também são orientais, e que com eles não se brinca. atirar o alcorão numa privada seria o equivalente a que cagar na bíblia, limpar a bunda no santo sudário e usar uma pia batismal como bidê. o livro em árabe é considerado a palavra viva de deus, e até para tocá-lo o muçulmano precisa estar de mãos limpas. além do que, o que essa mulher fez, se for verdade, é de uma falta de respeito consigo própria imperdoável; uma vergonha para todas as mulheres. ela não merece o respeito nem de seus pares de tortura.
quantas bombas, quantas vidas desperdiçadas serão necessárias até que essa insanidade acabe? foram onze anos até que a mão da consciência -- ou da opinião pública, como queiram -- baixasse a cabeça do nixon (os franceses aprenderam em oito). fora o sacode de 1991, que não deu em nada e fez os ianques voltarem pra casa com o rabo entre as pernas, já temos dois anos de iraque. pelo visto, há tempo ainda...
enquanto isso, basta pedir para a imprensa vendida substituir as notas da invasão por "michael jackson", em letras garrafais. e nada de fotos de caixões cobertos pela bandeira, com "nossos meninos" dentro.
convocação aos cidadãos
caros, há quase duas semanas, eu e mais cinco nos reunimos no amarelinho para discutirmos formas de reivindicarmos nossa representatividade junto aos políticos. primeiramente unidos pelo site um brasil melhor, os que lá apareceram decidiram primeiramente não falar em nome do grupo, que ainda não dei]via ter mais de um mês de criado, mas que através de uma ferramenta de emails, possibilitava disparar mensagens para todos os parlamentares das duas casas de brasília. ficamos sabendo pelos jornais e até por alguns parlamentares que a inundação (não apenas nossa) surtiu efeito.
outra coisa que decidimos foi agir localmente, pressionando na medida do possível e da disponibilidade de cada um, tanto os membros da câmara dos vereadores quanto a alerj, mandando emails, comparecendo às sessões, interpelando-os ao vivo. ao longo da semana surgiu a idéia de elaborar uma cartilha com dicas para o eleitor se informar sobre os parlamentares, do voto à vigilância do mandato.
neste sábado, dia 28, vamos ter nossa segunda reunião, entre 13h30m e 14h, sob o vão do MAM, no centro. quem quiser aparecer por lá, não se acanhe. o grupo ainda é pequeno, eclético, e inexperiente, mas temos muita gana e criatividade, e estamos todos interessados em construirmos juntos nossa cidadania.
24 maio 2005
nelson motta e o casal molequinho
vale a pena. crônica publicada na folha, em 20/05/2005:
Aleluia, irmãos!
RIO DE JANEIRO - Uma sentença histórica de uma juíza corajosa colocou o roliço casal Garotinho em seu lugar: inelegíveis até 2007. Aleluia, irmãos!
A sentença é exemplar; os argumentos, contundentes; os fatos, irrefutáveis. O que restou a Garotinho, com a leviandade e a arrogância que caracterizam seus julgamentos sobre seus adversários, foi acusá-la, sem qualquer prova, de "terrorismo" e de ter "ligações" com o candidato que os derrotou em Campos. Mas como, se a juíza também cassou-lhe o mandato na mesma sentença? Já Rosinha só conseguiu argumentar que a sentença foi "vingança" e que era uma "insensatez". O que será "sensatez" para Rosinha? Deixar que ela use R$ 165 mil de dinheiro público -meu, seu, de nossos impostos- para atacar, em virulentas matérias pagas de página inteira, um jornal que a acusou exatamente dos mesmos crimes pelos quais a juíza agora a condena? A juíza disse o óbvio: que eles e o PMDB deveriam pagar a conta.
O que aconteceu em Campos foi grotesco, digno de coronéis nordestinos dos anos 50. Ficou provado nos autos que milhares de kits escolares foram distribuídos - em outubro! - por cabos eleitorais do candidato do casal. Mais de 3.000 pobres ingênuos foram cadastrados às pressas com promessas de casas de R$ 1, às vésperas das eleições - mas àquela hora somente em Campos e em nenhuma outra cidade do Estado. Milhares de "cheques-cidadão", esmolas de R$ 100 que o casal dá a seus eleitores com nosso dinheiro, foram distribuídos sem nenhum critério na reta final da eleição.
A sentença da juíza prova o que se desconfiava: que o único projeto deles é manter-se no poder a qualquer custo; e que eles administram o Estado como se fosse um programa de rádio AM que dá esmolas, comida e empregos aos ouvintes. Só que com dinheiro público.
Garotinho acha que Deus está do lado dele. Bush também. Senhor, tende piedade de nós.
caceta dourada!
na verdade, minha vontade era dizer "caralho buceta cu", com muitos pontos de exclamação, mas achei que não ia pegar bem.
o motivo de tanto palavrão é a súbita constatação que, em breve, o sol completa mais uma volta desde que esse filho da mãe e do pai que vos escreve foi posto nesse vale de lágrimas, de risos escondidos e de mãos na bunda.
ainda falta, mas deixo registrado desde já: viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!
finalmente o ano começará.
08 maio 2005
momento recordar é viver
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Grândola Vila Morena - José Afonso
homenagem atrasadíssima aos 31 anos da revolução dos cravos - 25/04/1974.
(vai procurar na rede, ô mané!)
06 maio 2005
verdade, por fausto wolff
Como eu ia dizendo aqui no JB antes de ser rudemente interrompido por 20 anos de ditadura militar e 20 de ditadura branca, talvez ainda haja salvação para o Brasil. Neste meio tempo, para ficar apenas no fundamental, acabaram com a nossa cultura, o nosso futebol e a nossa imprensa. O povo, principalmente o carioca, sempre tão gentil, emburreceu, a classe média vive tão desesperada em sua ânsia de não descer ao inferno do proletariado que não tem tempo para outra coisa além do pobre umbigo. O último estadista, Leonel Brizola - tinha um dedo podre para escolher parceiros mas era um homem de bem - morreu. Em seu vício pelo vício de fazer dinheiro, a televisão agoniza enquanto mostra os seres humanos como se fossem porcos em programas ao estilo de Big Brother que torturam Orwell até depois de morto. O país tem solução? Tem e precisa ser drástica, se não quisermos que, desesperado pela dor da fome, o povo desça e o resto dance. O jornalismo pode ser uma solução. Outro dia perguntaram-me se era possível voltar a fazer do JB o melhor jornal do Brasil. Respondi que sim por dois motivos: primeiro, por causa do insípido e medíocre panorama da nossa imprensa; segundo, se recolocarmos a mocinha, a heroína, a estrela, no centro do palco. Estou me referindo à verdade. O erro dos que se propõem a entrar no ramo é imitar as grandes corporações, que só têm compromisso com o lucro e desabam sobre seu próprio peso, enquanto a maioria dos seus colunistas fala de uma vida que não viveu. Em princípio o jornal é o advogado do povo. É o advogado daquele que tem dinheiro para comprar jornal e não para comprar advogado. Os bandidos têm medo dos jornais, pois podem ser desmascarados por eles. A não ser, é claro, que os jornais sejam sócios dos bandidos, quer os privados quer os da Justiça, do Executivo e do Legislativo. O povo precisa sentir que o jornal é parcial; que está do seu lado; que não trata caricaturas de seres humanos que navegam em naves de papelão como pessoas sérias; que o jornal não admite justiça sem força e força sem justiça. Para começar, por que não dizer a verdade? Severino, o presidente da Câmara, não é uma bizarra exceção. Exceção são os não Severinos. Severino apenas faz escancaradamente o que os senhores pomposos, elegantes e bem falantes - do poder ou não - fazem às escondidas. É isso aí. O Brasil não tem mais a cara de Carmem Miranda, mas sim a cara do Severino, que ri dos que dele riem, pois a cumplicidade é óbvia demais. Como na peça de Ionesco, tornamo-nos uma nação de rinocerontes exatamente porque não temos coragem de nos reconhecermos rinocerontes. No Brasil encenam uma realidade para encobrir a verdade e a verdade está na nossa bandeira. O verde representa os que vivem com menos de dez reais por mês; o amarelo, os que vivem com menos de cem; o azul, os que vivem com menos de mil. E os pontos brancos são os tiranos que sendo tão poucos nos esmagam com tamanha facilidade.
o wolff é capaz de me levar às lágrimas. mas continua um visionário (o que não é demérito nenhum, precisamos deles mais do que nunca), pois fazer jornalismo sério no jb, do jeito que está, só com muita fé.
de qualquer forma, boa sorte, jebão. o jornalismo (e os leitores) agradecem.
05 maio 2005
a casa sendas é o retrato do brasil
quem quiser ver o tamanho do estrago que 500 anos de exploração capitalista fizeram ao brasil, basta fazer compras nas sendas. na hora em que se chega ao caixa, a impressão que se tem é que são escolhidos a dedo os mais lerdos e ineficientes espécimes humanos para integrar o quadro de funcionários. e que a casa direciona todo seu orçamento na reforma e embelezamento das lojas, sem deixar um tostão sequer para o treinamento de pessoal.
às vezes, como aconteceu comigo hoje, não dá nem para ter raiva dos empregados, porque vê-se que o caso não é de má-vontade. é incapacidade mesmo. a falta de alimentação decente nos primeiros anos de vida, com proteína animal (leia-se carne e leite), compromete o desenvolvimento neuronal e limita a capacidade de aprendizado. para piorar, o sistema educacional é uma piada, incapaz de atingir sua meta principal -- adestrar os jovens para tornarem-se mão-de-obra para a produção capitalista (se duvida, é só procurar o significado das siglas sesi, senai, senac, sesc).
a quantidade de carboidratos presentes na cesta básica pode ser boa para dar energia para o trabalho braçal, mas para usar a cabeça... não creio que um exército de peões, ascensoristas, caixas de supermercado e empregados domésticos -- por mais dignas que sejam essas profissões -- seja capaz de elevar o pib de um país. então como é que se espera que uma determinada classe social possa manter-se produtiva (expropriada, sim, mas produtiva) num mundo cada vez mais dependente da tecnologia, sem proverem-na minimamente com condições de desenvolvimento mental e capacitação profissional? será essa uma das tais "contradições do capitalismo"?
04 maio 2005
sobre a tatipiv
não foi nem pelo último comentário recebido, mas há algum tempo desconfio que os leitores da tati devem achar que, se não a esquartejei e comi os pedacinhos num ritual satânico-antropofágico, pelo menos devo tê-la trancafiado numa masmorra, mantendo-a com rações semanais de pão e laranja.
embora ela seja muito gostosa, e às vezes (muito raramente, e sempre por minha causa, mesmo) eu realmente tenha vontade de guardá-la no armário da cozinha junto com as vassouras, o faqueiro de prata e a minha avó, ela está bem, em posse de sua saúde e de suas...hã...faculdades mentais.
o que acontece é que ela está em transição de emprego, e ainda não pintaram os joselitos que alimentam o blog e fazem a alegria da galera. por isso, ela anda um pouco preguiçosa para com seu público.
a propósito, ela é quem deveria ter escrito essa nota, mas depois de tanto gastar meu latim com pedidos, resolvi eu mesmo explicar.
mas ela está bem, eu juro. não fiz nada com ela. quer dizer, nada que ela não tenha pedido.