29 junho 2006
adiós, cumpá!
acabou de entrar para o time dos "lá-de-cima" o diretor fabián bielinsky. argentino, diretor do genial nove rainhas cantou para subir aos 47 anos, aparentemente de ataque cardíaco. o detalhe mórbido, porém, fica a cargo do lugar: são paulo.
lugar mais besta para se morrer...
mais informações no globo.
28 junho 2006
campeãs de audiência
dois motivos para não perder o jornal da bandeirantes: mariana ferrão e nadja haddad.
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ah, agora tem também o franklin martins.
a gente vai levando, a gente vai levando...
às vezes me acho um ingênuo por acreditar que, no fim, a vontade do povo prevalecerá. não vai. pelo menos não se as coisas continuarem do jeito que estão. não se não tomarmos o destino em nossas mãos. cada vez mais acho que certo estava o diderot (pelos motivos errados): " o mundo só estará a salvo no dia em que morrer o ultimo rei enforcado nas tripas do ultimo padre". falou e disse.
porém, antes de considerarem-me um derrotista neurótico, recomendo a leitura do texto a seguir, retirado do comunique-se:
Triste fim na novela da TV digital brasileira
Antonio Brasil
Como toda novela, a implantação da TV digital brasileira teve um final previsível. Mas não foi um final feliz. Muito pelo contrário. O governo resolveu aproveitar o clima de euforia e o entorpecimento geral dos brasileiros na Copa para anunciar o capítulo final. Destaco algumas manchetes sobre essa polêmica decisão:
"Ministro Hélio Costa confirma acordo com Japão para a TV digital"
"Redes saem vitoriosas com padrão japonês de TV digital"
"TV Digital: Radiodifusores já debatem implantação do padrão japonês"
E como toda novela, os últimos capítulos também já indicavam que certos personagens estariam dispostos a tudo para garantir o final "feliz":
"Globo oferece Copa em TV digital para Ministério das Comunicações, Câmara e Senado"
"Lula elogia 'padrão nipo-brasileiro' de TV digital"
Nenhuma surpresa.
Há muito tempo o noticiário já sinalizava a pressão dos personagens radiodifusores para que o governo não atrapalhasse o enredo e escolhesse logo o padrão japonês. Por que esticar a novela? Principalmente em meio a tantas ameaças.
Ou seja, apesar das recomendações e protestos de diversos setores da sociedade brasileira que insistiam na necessidade de estendermos a trama, Lula preferiu ouvir somente os personagens poderosos da novela: as velhas famílias que há anos controlam a radiodifusão brasileira.
Mas, como em todo folhetim, já surgem críticas e reações contra a qualidade do enredo e a previsibilidade do final.
"Decreto da TV digital mantém monopólio"
"Entidades defendem mais debate sobre escolha do padrão de TV digital"
"Europeus lançam plano para AL e defendem adiamento de TV digital"
"Gil defende decisão sobre a TV digital só após as eleições"
A novela da TV digital brasileira, no entanto, ainda pode nos reservar algumas surpresas.
Segundo o mesmo noticiário, Lula já teria orientado seus ministros a negociar com o Japão as contrapartidas para que o anúncio produza ganho político no ano eleitoral.
Mas o governo japonês já deixou bem claro que não pode garantir a implantação de uma fábrica de componentes no Brasil. Há somente um compromisso de formação de mão-de-obra especializada e ajuda para a criação de condições no país que viabilizem a implantação dessa indústria. Podemos ter caído em um conto do vigário. E o pior. Um conto do vigário japonês.
Em sua decisão, o presidente teria levado em conta o lobby das grandes emissoras de TV do Brasil a favor do padrão japonês. Não seria inteligente contrariar essas empresas no ano em que disputa a reeleição.
Ou seja, sob pressão dos radiodifusores e sem os recursos financeiros do Valerioduto, Lula preferiu garantir pelo menos uma certa neutralidade durante a campanha eleitoral. Ele conhece muito bem o poder do jornalismo investigativo das TVs brasileiras e suas câmeras ocultas para revelar falcatruas e maracutaias. No momento, as câmeras ocultas estão "sob controle".
Neste triste final de novela barata, Lula decidiu por um sistema de TV digital experimental, ainda em construção. Um sistema que não foi adotado por nenhum país da América Latina, do Mercosul e do mundo. Um sistema que não está totalmente implantado sequer no Japão. Seremos cobaias dos cientistas japoneses e estamos isolados nessa decisão.
Essa escolha do governo do Lula põe fim a uma longa guerra de bastidores que envolveu ministros de Estado de países estrangeiros, multinacionais fabricantes de equipamentos, operadoras de telecomunicações e redes de TV.
Mas, pelo jeito, a guerra, ou novela, continua. O governo ainda terá que regulamentar o "modelo de negócios": nessa fase, poderá ser definido quem poderá participar da nova televisão e se haverá ou não mais competição no setor. O Congresso Nacional, que tentou participar da escolha do padrão, agora deve voltar suas atenções para esse "modelo de negócios".
Mas como essa decisão afeta o futuro da televisão brasileira?
Ao privilegiar o padrão japonês, essa decisão deve dificultar a entrada de novos concorrentes, novos canais de TV.
Qualquer que seja o resultado da Copa na Alemanha, por aqui, mais uma vez, perdemos a Copa do nosso futuro. As forças do atraso venceram. O Japão e seus aliados brasileiros, os radiodifusores com capitanias hereditárias, comemoram. Ou seja, nada vai mudar. Tudo vai continuar da mesmíssima forma.
O padrão japonês é melhor para as TVs brasileiras porque é o que trará menos impacto ao seu modelo de negócios. Não haverá a entrada de novos concorrentes, principalmente as temidas telefônicas.
Ainda no noticiário...
"Presidente da Comissão Européia critica populismo na América Latina"
BBC Brasil
O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, criticou o avanço do que ele considera "populismo" na América Latina. "É um sinal negativo para o continente. Parece um filme que está voltando para trás", afirmou Barroso em uma entrevista coletiva, sem citar nomes de líderes da região.
E tem mais...
Apesar da decisão do governo pelo polêmico padrão experimental japonês, a campanha de Lula enfrenta problemas televisivos...
Marqueteiro de Lula mostra insatisfação com o tempo na TV
Talvez isso explique...
A festa das concessões
"É impressionante como as coisas funcionam neste nosso País. Entra governo, sai governo e continua a mesma coisa. Vi a listinha dos felizes contemplados com canais de rádio e televisão. Em sua maioria, políticos e igrejas. No Brasil, a radiodifusão "ou é altar ou é palanque'."
Governo Lula distribui TVs e rádios educativas a políticos
"O governo Lula reproduziu uma prática dos que o antecederam e distribuiu pelo menos sete concessões de TV e 27 rádios educativas a fundações ligadas a políticos."
Ministros negam motivação política para concessões
"O ministro das Comunicações, Hélio Costa, e seus antecessores no governo Lula, os deputados federais Miro Teixeira (PDT-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), dizem que não usaram critério político para aprovar as outorgas de rádio e televisão educativas."
Minas Gerais recebe oito emissoras de TV na gestão do mineiro Hélio Costa
"Político mineiro, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, autorizou oito concessões de TVs educativas em seu Estado desde que assumiu o cargo, em 8 de julho de 2005."
E nessa "Copa do Mundo" da TV digital podemos perder a liderança continental para a nossa principal rival. Em artigo recente da Tele Síntese:
TV digital: Argentina pode assumir papel de liderança na América do Sul
"Como, no Brasil, a decisão pelo padrão ISDB japonês é dada como certa, ficou para a Argentina o papel de liderança neste processo continental".
"'Nenhum outro país da América do Sul vai adotar o padrão japonês. Será DVD (europeu) ou ATSC (americano)', afirma Mário Baumgarten, CTO da Siemens, empresa integrante da coalização DVB no Brasil. Segundo analistas de mercado, a escolha de um padrão único seria um grande benefício para a região, que contaria com as vantagens de uma economia de escala."
É, pode ser.
A escolha do padrão japonês significa que o governo quer, antes de tudo, agradar às grandes emissoras de televisão do país em ano eleitoral. E vocês ainda têm dúvida de que o Brasil é "excrusividade" da Globo?
Mas como diz o presidente Lula, "em time que está ganhando não se mexe". Agora só nos resta descobrir "quem" estaria ganhando com essa decisão.
No momento, certamente perdem os defensores da democratização dos meios de comunicação e os produtores independentes, alternativos e comunitários. Desperdiçamos a chance de aumentar a diversidade e a pluralidade de conteúdos televisivos.
Ainda podemos ganhar a Copa do Mundo de futebol. Mas certamente estamos sendo derrotados na Copa por uma televisão brasileira melhor e mais democrática.
26 junho 2006
jebronhas
continuo a série fausto wolff/nataniel jebão com uma série de aforismos filosóficos:
Quem tiver mais de 50 anos e disser que nunca foi corneado jamais comeu ninguém.
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Sou favorável à cota extra para negros nas universidades. Garçons, copeiros e motoristas diplomados custam mais caro, mas são mais eficientes.
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Se você é vegetariana, faça amor com um pepino sem medo de engordar.
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Diogo Mainardi, amigo de Gore Vidal, vai queimar seu terno azul Armani porque Lula está usando um igual. É isso aí, rapaz, não deixe água na bacia.
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Se Shakespeare estivesse vivo, seria office-boy do Paulo Coelho.
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Quem se masturba pensando na própria mulher não sabe o que está perdendo.
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Honesto é o político que uma vez comprado permanece comprado.
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Se em vez de ir para a cruz, Jesus tivesse economizado um salário mínimo por mês, hoje teria um apartamento na Vieira Souto.
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Um homem bem sucedido só necessita saber três palavras: táxi, hotel e champanhe.
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Coma um rato podre pela manhã que nada de pior lhe acontecerá.
com a palavra, jebão
nataniel jebão é o alter ego do impagável fausto wolff (ele não deve gostar nada do adjetivo, mas enfim...). como citado no post anterior, publico o artigo jebônico que saiu na revista f.:
Nossa sociedade
por Nataniel Jebão
Do Epistolário Maldito
Inúmeros leitores vêm escrevendo há meses, impressionados com o sucesso desse JEBÃO entre as mulheres. Já as leitoras querem me conhecer. Para realizarem esse sonho devem se apresentar à minha secretária, srta. Nina Rolas, que já atualizou a tabela de preços de acordo com o último aumento da gasolina (uma lambida no umbigo, por dentro, por exemplo, pode custar muito caro). Os marmanjos, além de quererem saber minhas táticas e mumunhas, torram os meus países baixos, imaginando que posso lhes dizer qual a mulher ideal. A fim de contentá-los, depois de instalar a srta. Nina Rolas debaixo da mesa, ditei-lhe algumas notas sobre o assunto.
Da estonteante beleza jebaica
Meu sucesso se deve ao fato de eu ser bonito, rico, culto, bem-dotado e gostar de mulher. Mulher é bom, mas é preciso ir com calma. Em primeiro lugar, é necessário que ela não tenha pênis. Se tiver, já imaginou a decepção do leitor ao descobrir que o dela é maior que o seu? Também não pode ser escocês e nem pader. Se não tiver pênis, não for escocês nem padre, o leitor pode ir em frente porque é bom.
De árvores, hienas & cia.
Se o leitor, porém, tiver passado dessa fase preliminar e encontrar-se no momento na fase seletiva, as coisas se complicam, porque mulher é um bicho essencialmente complicado. Caso contrário não seria mulher e essa nota não teria razão de ser. Elas se camuflam de todos os modos possíveis a fim de atingir seu objetivo: ir para a cama comigo, e de preferência, sem a companhia das minhas nove esposas. Cuidado, portanto, irmão. Se alguém quiser te apresentar uma "jovem atlética", pode ter certeza de que ela tem uma cintura que parece um tronco de árvore. Se lhe falarem de uma moça "talentosa", prepare-se porque ela é gorda e ri muito alto. Se, porém, ela for uma "grande companhia", cautela, porque vive de porre, mas em compensação não faz doce. Tenha cuidado com as soi-disant "chiques". Geralmente tem mais de 1,90m de altura, nem sombra de seios e são ligeiramente corcundas. Fique longe das que são consideradas "engraçadas". São maníaco-depressivas e farão o leitor se jogar do 18o andar, feliz da vida.
De outras dicas diabólicas
Como descobrir o que realmente se esconde atrás da mulher a qual o leitor foi apresentado e pela qual se crê apaixonado? Se as unhas do pé forem duras, se tiver veias no nariz, se tiver dentes perfeitos, aliás, perfeitos demais, pode ter certeza que ela é velha. Se ela rir muito, tiver longos cabelos repartidos ao meio, gostar de caftãs, usar maiô inteiro, andar principalmente de preto e fora de moda, acredite, a jovem é gorda. Tome, porém, o máximo de cuidado com as mais perigosas: as que usam mais de três brincos, mais de cinco anéis, as pretas que usam sombra branca nos olhos e as brancas que usam sombra preta nos olhos, as que conhecem todos os jargões de psicanálise e querem te modificar. Essas, definitivamente, são malucas. Por mais que os leitores queiram, jamais poderão ser um Nataniel Jebão. Portanto, se quiserem acabar misógenos, olhem-se nos respectivos espelhos, façam sincera autocrítica e tentem esquecer-se de tudo o que disse. A mulher ideal mesmo é aquela que não é homem.
23 junho 2006
o lobo (pensante) solitário
a revista f., tocada pelo allan sieber, leonardo e arnaldo branco é hoje o que a chiclete com banana foi nos anos 80 e a animal nos 90. nesse número, fizeram uma entrevista etílica com o fausto wolff, gaúcho de santo ângelo, escritor, candidato a presidente, e que num país um pouco menos filho da puta, seria considerado o maior jornalista do país (e isso é um elogio!). separo duas declarações do lobo -- uma de seu discurso de posse. depois transcrevo um texto genial de seu alter ego, nataniel jebão:
"Eu voltei lá [em Santo Ângelo], me convidaram para um negócio chamado 'Diáspora'. Esse negócio de diáspora é negócio de judeu... meu pai e minha mãe saíram daqui porque estavam sem grana... então não foram corridos (risos). Tudo bem. Aí eu vou fazer a palestra e tinha que receber uma Comenda do prefeito. Aí eu deia a palestra e eu pergunto 'onde está o prefeito'? O prefeito tinha ido embora. Teve um cara que era um santangelense que aparentemente tinha se dado bem na vida, um cara que eramicrocirurgião. Aí veio o microcirurgião 'ah, mas a minha carreira, é difícil, microcirurgião e tal, mas eu também escrevo poesia'. E disse duas ou três poesias. Aí me chamaram no palco, e eu: 'Meu nome é Fausto Wolff, eu escrevo poesia, mas nas horas vagas sou microcirurgião' (risos). 'Se vocês não acreditam, se alguém tem algum problema...' (risos). É claro que não sou uma pessoa muito bem querida em Santo Ângelo (risos)".
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"L: O negócio da sua candidatura. Fausto Wolff presidente. Primeiro de janeiro de 2007. Discurso de posse.
Minhas senhoras e meus senhores, terei que dizer certas coisas que certamente machucarão algumas pessoas. Essas pessoas eu sugiro que comecem a ri rapidamente porque o meu secretário, o Jonhonho (risos) já está ligando para todos os aeroportos do país. Fechando (risos). de modo que esse meu governo vai ser um governo que eu tenho certeza que agradará a todos. Esse meu governo será pai e mãe. Quem não tiver uma casa, terá. Quem não tiver emprego, terá. Quem não tiver hospital, terá. Quem não tiver terra para plantar, terá. E em termos de terra, acabei de dizer ao meu ministro da agricultura o seguinte: que compre todas as terra que não estiverem sendo usadas. E nós vamos pagar o que os proprietários delas declararam para o Imposto de renda. De modo que a Reforma Agrária já está resolvida. A Reforma Educacional: o Estado é responsável pela educação de todas as crianças. Aquele que depois da educação secundária quiser se especializar em uma universidade, será pago pelo governo, e devolverá ao governo assim que cursar. A partir de hoje, todos somos reponsáveis por todos. A partir de hoje, todos os pais são pais de todas as crianças. A partir de hoje todos poderão se queixar ao Estado. Poderão se queixar no bairro, no município, no estado ou em escala federal. A partir de hoje não há mais propaganda eleitoral. A partir de hoje não há mais propaganda eleitoral. Enfim, a partir de hoje, todos os presídios serão examinados. E quem não tiver que estar no presídio será livre. Coisas absolutamente simples."
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Se ele saísse mesmo como candidato, não anularia meu voto.
21 junho 2006
gênios da publicidade
o comercial da skol nessa copa mostra um maluco peladão invadindo o campo de futebol no meio de um jogo do brasil. aí, um mané na torcida avisa ao telespectador que, se o cara que inventou a cerveja tivesse inventado o torcedor europeu, ele seria diferente. mas eis que surge na tela a imagem, adivinhem, de outro cara pelado! pô, se fosse eu, tinha botado era uma mulher pelada em campo!
ah, esses publicitários paulistas!... como se já não bastasse a namorada me ter deixado com a pulga atrás da orelha dizendo que skol tem "cheiro-de-saco-de-homem" (sic), agora essa do caboclo pelado. eu, héin, tô fora!
ps: antes que comecem a especular, aviso: 1) esse papo "aromático" dela foi antes de me conhecer; 2) não tenho como concordar ou discordar de sua opinião, por absoluta falta de referências.
19 junho 2006
viva d. sebastião, o desejado!
acabei de reler, 10 anos depois, um dos grandes livros que já me passaram pelas mãos: O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, do meu mestre ariano suassuna. antes da reimpressão que saiu há pouco, o livro estava fora de catálogo há uns 30 anos. minha edição é de 1971, encontrada depois de muito esforço num sebo que nem existe mais, em frente ao museu da república, no catete.
um amigo meu, pernambucano, me disse, na época da primeira leitura, que se eu fosse à casa de ariano dizendo que tinha lido o livro, era capaz até de ele me convidar pra almoçar.
o tema seria, canhestramente definindo, uma síntese da cultura nordestina e brasileira, escrita sob o ponto de vista de D. Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, ou D. Pedro IV, o Decifrador, um sebastianista que se acredita o verdadeiro herdeiro do trono do brasil (sem nenhuma relação, como ele mesmo diz, "com os impostores da casa de bragança"). aqui tem uma explicação mais completa sobre o livro e o folclore nele inspirado, em pernambuco.
o "tijolo" (625 páginas, fora o posfácio de maximiano campos), é um gozo, digno de um verdadeiro "gênio da raça" -- o criador de uma "obra completa", que reúne as caracerísticas do "[...] Poeta de estro, cavalgação e reinaço, que é o capaz de escrever os romances de amor e putaria. [...] o Poeta de de sangue, que escreve romances cangaceiros e cavalarianos. [...] o Poeta de ciência, que escreve os romances de exemplo. [...] o Poeta de pacto e estrada, que escreve os romances de espertezas e quengadas. [...] o Poeta de memória, que escreve os romances jornaleiros e passadistas. E finalmente, [...] o Poeta de planeta, que escreve os romances de visagens, profecias e assombrações".
para terminar, transcrevo um poema do livro sobre a morte de d. sebastião. ouvi-o do próprio ariano em uma de suas "aulas-espetáculos". a autoria é de um cantador cujo nome infelizmente não recordo:
"Nosso Prinspo se perdeu
nas terras do Malpassar.
Deitam sortes à Ventura
quem o havia de buscar.
O Cavaleiro escolhido
não se cansa de chorar:
vai andando, vai andando,
sem nunca desanimar,
até que encontrou um Mouro
num Areal, a velar.
- Por Deus te peço, bom Mouro,
me digas, sem me enganar,
Cavaleiro de armas brancas
se o viste aqui passar.
- Desse Cavaleiro, amigo,
dize-me lá os sinais.
- Brancas eram suas Armas,
seu cavalo é Tremedal.
Na ponta de sua Lança
levava um branco Sendal
que lhe bordou sua Noiva,
bordado a ponto real.
- Esse Cavaleiro, amigo,
morto está, nesse Pragal,
com as pernas dentro d'água
e o corpo no Areal.
Sete feridas no peito,
cada uma mais mortal:
por uma, lhe entra o Sol,
por outra, entra o Luar,
pela mais pequena delas,
um Gavião a voar!
Mas é mentira do Mouro,
seu desejo é me enganar:
o nosso Prinspo encantou-se
nas terras do Malpassar
e, um dia, no seu Cavalo,
ao Sertão há de voltar!"
18 junho 2006
vai para o trono ou não vai?
minha prima mandou um imeio com o vídeo abaixo. tão bom que quase fiz xixi nas calças.
nunca uma canção do u2 teve interpretação tão apropriada...
15 junho 2006
morra de vergonha, bandini
acabei de desperdiçar 117 minutos da minha vida assistindo a "pergunte ao pó", um massacre cinematográfico do livro homônimo de john fante. acho que passar esse tempo com a cabeça enfiada numa privada suja de botequim, dando descarga sem parar, não se igualaria em degradação. graças à nossa senhora da internet, só gastei a eletricidade para baixar o filme, porque se tivesse pago a entrada do cinema, estaria batendo a cabeça na parede de raiva até agora.
é verdade que desde quando anunciaram, no ano passado, que o canastrão do colin farrell estrelaria no papel de bandini, vi que não sairia boa coisa da touceira. mas a violência cometida contra o espírito do livro foi mais devastadora que uma horda de marines com hidrofobia.
mas mr. tom cruise, um dos produtores, provou o estrago que a combinação "dislexia-cientologia-passa-fora-da-nicole-kidman-ração-de-placenta" causou à sua psiquê. ele o diretor robert towne (responsável por pérolas como orca, a baleia assassina e dias de trovão) transformaram uma puta história, patética e pungente, num aguado "love story" alatinado. o único mérito do filme é mostrar a salma hayek nuazinha em pêlo -- o que não é pouco, mas não o suficiente para livrá-los de um merecido regime diário de surras de pau-de-dar-em-doido.
é por essas e outras que a gente acaba tendo que concordar com o desprezo que o john fante sentia pelo cinema...
08 junho 2006
e o outro lado da notícia?
o texto abaixo, assinado por alceu castilho, editor e jornalista responsável pela agência repórter social, foi publicado no comunique-se ontem (07/06).
apenas leiam...
Willian França: "Esses sem-terra não podem ser nem chamados de animais"
Alceu Castilho
Fonte:Repórter Social
Willian França é diretor de Comunicação da Câmara dos Deputados. Seu cargo público e sua hierarquia não o impediram de se pronunciar nos seguintes termos, na noite de terça-feira em Brasília, em relação aos sem-terra presos no Ginásio Nilson Nelson:
- Por que dar comida para esse tipo de gente? São uns animais. Ou melhor, animal, não, porque animal tem noção de onde pode entrar. Esse tipo de gente não pode ser comparada a animais.
Willian fazia os comentários para uma roda de jornalistas. Não era uma exceção. Mas mesmo repórteres que não ousariam falar contra "a turma dos direitos humanos" demonstravam-se pouco dispostos a questionar as ações do poder público subseqüentes à invasão da Câmara pelo MLST.
A deputada Maninha (PSOL-DF), uma entre os quatro únicos deputados que estavam no gramado enquanto se efetuava a prisão em massa de homens, mulheres, adolescents e crianças, sintetizava aquele entardecer em Brasília: "A única vez que vi isso foi em 1969, quando era estudante da UnB e tivemos de sair em fila indiana, de mãos para cima".
A imprensa considerou legítimo o regime de exceção nos gramados do Congresso. Um presidente comunista da Câmara ordenou a prisão de centenas de pessoas, indiscriminadamente, e mais de 500 brasileiros foram detidos no gramado, em frente ao símbolo maior do País. No início o cerco policial mal existia, e as idas e vindas de transeuntes eram evidentes -- mesmo assim, todos que estavam ali foram presos no início da noite e levados em ônibus da PM para o ginásio Nilson Nelson, revivendo algo que os chilenos viveram no Estádio Nacional, na era Pinochet.
À exceção das lideranças, os sem-terra pouco foram entrevistados. O anoitecer em Brasília viu 10 crianças e 32 adolescentes serem presos, sem a presença de assistentes sociais, promotores, juízes. O Estado de Direito brasileiro foi apunhalado em plena Esplanada, mas a mídia adotou o discurso do vilão único -- os sem-terra que invadiram o Congresso.
Enquanto isso, vestidas com roupas de verão, as crianças passavam frio (tem feito frio em Brasília nos últimos dias) e fome. Algumas tinham comido somente às 4 horas. A única que se alimentava era Douglas Freitas, um bebê de 6 meses, ainda amamentando.
Às 22 horas, após algum tempo no Nilson Nelson, as crianças e adolescentes foram levados, com algumas mães ou responsáveis (mas não pais) para a Delegacia da Criança e do Adolescente. Ali a cobertura da imprensa minguou. Ao meu lado agüentava firme uma repórter da Radiobras, Roberta Lopes. Chocada. Cinegrafistas da Globo gravavam as cenas. Um repórter do Globo chegou quando todos já haviam ido embora, às 2 horas desta quarta-feira.
Antes, uma grata surpresa: nada menos que cinco repórteres do Centro de Mídia Independente, uma rede mundial de informações independentes do setor privado, compareceram ao local e fizeram as vezes dos jornalistas da chamada grande imprensa. (Eu estava no local como correspondente da Associação Paulista de Jornais em Brasília, e aproveito aqui partes do relato enviado à rede de 16 jornais.)
Comida de presídio
As crianças seguiam passando um frio que só aumentava. Os adolescentes, uma delas grávida, estavam amontoados nos corredores da delegacia. A assistente social só chegou às 22h30. Em seguida, um comissão da Vara da Infância. Nada disso impediu que as crianças ficassem até a 1h15; os adolescentes, até 1h45.
"Vocês querem que eu encomende lanches do McDonalds para eles?", perguntava o delegado-chefe José Adão Rezende. "Querem que eu os leve para o sofá da minha casa?"
A comida (arroz, batata, salsicha e farofa) só chegou à 1 hora. Veio diretamente do presídio da Papuda.
Na mesma hora chegaram algumas roupas, somente para as crianças. O frio em Brasília tinha aumentado ? e radicalmente, para pessoas que em grande parte tinham vindo do Nordeste. Mas não foi o SOS Criança, do governo distrital, que levou os agasalhos. Foram vizinhos. Voluntários.
Nada disso foi relatado. Aldo Rebelo passou um cheque em branco para o governador Joaquim Roriz, e ninguém estranhou. O presidente da Câmara enviou por volta da meia-noite uma relações públicas à Delegacia da Criança. Ela adotava o discurso ? o mesmo de delegados e policiais - de que a culpa era somente dos pais, pela negligência.
Os jornalistas não podem ser omissos em momentos emblemáticos da cena brasileira. Ou defendem o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Constituição, o Estado de Direito, dos dois lados da moeda (o que necessariamente deve incluir a cobrança do poder público), ou concordam com o senhor Willian França e sua teoria dos animais.
07 junho 2006
get beck to where you once belonged...
cantou pra subir billy preston, cuja folha corrida acumula os títulos de pianista sangue-bom e, junto com o george martin, o de "quinto beatle". preston foi o terceiro. espero que a jam session lá em cima demore pra começar...
...and in the end the love you take is equal to the love you make.
em potuguês e inglês.