30 agosto 2007

macca sabe tudo!

Every night - Paul McCartney

Every night I just wanna go out, get out of my head
Every day I don't want to get up, get out of my bed
Every night I want to play out
And every day I want to do ooh ooh oh oh

But tonight I just want to stay in
And be with you,
And be with you.
Ooh ooh, believe me mama.

Every day I lean on a lamp post, I'm wasting my time
Every day I lay on a pillow, I'm resting my mind
Every morning brings a new day
Every night that day is through ooh ooh oh oh

But tonight I just want to stay in
And be with you,
And be with you.
Ooh ooh, believe me mama.

***

24 agosto 2007

é pique, é pique, é pique!

comentei com uma amiga recém-leitora sobre um troço que tinha bostejado em 2003. ela se assustou com o tempo de vida do blog.

pois fui checar a data de início, e não é que no dia 13 fez quatro anos que entupo a rede com minhas bobagens? pior do que uma sexta-feira 13, só uma segunda-feira 13 (inventei esse ditado outro dia no trabalho).

na época em que comecei morava na casa da minha avó, tinha acabado de terminar um namoro de ano e meio, estava desempregado e constipado com um mestrado.

nesse meio tempo mudei de casa cinco vezes, casei e descasei, tive três gatinhos de estimação, terminei o mestrado aos trancos, e arrumei um emprego em que provavelmente devo me gastar pelo resto da vida profissional.

também aprendi que leveza é a alma do negócio, que afeto não é feito para se economizar, e que até a gente morrer, é tudo vida. e que o melhor é não querer nada. meu projeto de vida tem sido esse: não querer nada. e aproveitar o que vier.

acho que os textos melhoraram um pouquinho. tento ser menos metido a gaiato e, principalmente, menos sabichão. querer parecer inteligente é, na minha opinião, o primeiro passo para se escrever mal. mas tenho muita vergonha dos escritos antigos, assim como terei vergonha dessas linhas daqui a quatro anos. se chegar lá.

enfim, nós, que insistimos na vida, os saudamos. felizes bordunadas!

23 agosto 2007

cadê meu nariz de palhaço?

acabei de ler n'o globo que produtores músicais e artistas foram ao congresso pedir isenção fiscal para a produção fonográfica nacional. a mátéria diz que isso já acontece com jornais, periódicos e livros.

peraí, livros não pagam impostos?! então porque diabos eles continuam custando tão caro? as editoras devem estar faturando os tubos! sim, porque alguém acredita que autores ou designers de capas (ou como quer que sejam chamados atualmente) andam por aí desfilando de carro importado ou esquiando nas férias em aspen?

vai perguntar para o cony, o veríssimo, o fausto wolff ou o marcelo rubens paiva, por exemplo, se eles não preferiam deixar os jornais para se dedicarem apenas à literatura? a mais-valia deve ser usada para negociar o passe de best-sellers como o paulo coelho e que tais.

sei não, mas parece que os músicos estão sendo usados como bois-de-piranha das gravadoras. é a conseqüência do modelo de divisão do trabalho taylorista/fordista aplicado às artes, que dá aos artistas o status de "seres elevados", apenas responsáveis pela parte da "criação", enquanto os aliena do controle de sua produção.

como muitos aceitam o papel de "prima-donas" (muitas vezes por preguiça de pensar), fica fácil para os tubarões da indústria cultural manipular os fatos, na tentativa de dar sobrevida a um modelo de negócios que a troca de arquivos digitais já dinamitou há muito tempo. é por isso que endosso a pirataria musical e literária.

a morte e a morte do meu computador

o cerco (ou seria o circo?) está se fechando. no domingo meu computador teve um segundo "avs" -- acidente de velhice do sistema.

chego em casa de manhã, feliz da vida, e vou ver a quantas andam as músicas e filmes que estava baixando. mas eis que ele tinha reiniciado (malditas atualizações de sistema!), e, como de costume, a setinha do cursor encontrava-se congelada no meio da tela.

é preciso abrir um parêntese para explicar que esse computador tem, brincando, mais de dez anos. e embora quase nenhum componente hoje seja da configuração original, sou dos que acreditam que o funcionamento da máquina é "moldado" pelo usuário.

isto posto, entre outras manias e achaques, meu "cérebro eletrônico" exige ter o mouse bolinado enquanto está sendo ligado, sob a pena de congelar o cursor. fecha o parêntese.

tentei reiniciá-lo, quem disse que o féla voltava? a cada tentativa, aparecia uma novidade, mas nada de funcionar. liguei para a tati, que entre outras qualidades, sabe tudo de computador. é quase uma susan calvin. o diagnóstico foi formatação imediata.

ela passou a tarde de segunda inteira aqui para descobrirmos que o maior e principal dos discos rígidos (que, num acidente semelhante anos atrás ganhou dela o carinhoso apelido de "merdão") estava queimado. passou-se o sistema operacional para o "merdinha" (disco secundário, de apenas 3 gigas), mas nada de internet.

depois de horas de tentativas de ligações para a net (incrível, não briguei com nenhum atendente, mesmo eles me indicando os processos mais bisonhos para restabelecer a conexão), consegui agendar uma visita para a manhã do dia seguinte.

o cara chegou na hora marcada e tomou uma canseira até quase meio-dia. e descobriu que a placa de rede também já tinha passado desta pra melhor. a gambiarra que ele fez demorou o resto do dia para funcionar.

como saldo final, além de ter perdido todos os arquivos e dispor de apenas uma vaga lembrança em disco, a placa de som também não funciona, e, apertem os cintos, o processador de textos sumiu! escrever, agora, só no bloco de notas. ma-ga-vi-lha!

não tem jeito, vou ter que comprar um novo. e tome facada no orçamento. mas para a próxima vez, já tomei uma decisão: uíndous, nunca mais! vou me aproveitar do conhecimento de uns povos do trabalho e meter um openoffice na máquina nova. adeus, biu guêitis!

se alguém foi no link acima e se interessou pela empreitada, basta entrar aqui para baixar a bagaça. o bom é que, o processo de migração certamente vai dar novo fôlego aos bostejos. aguardem!

18 agosto 2007

eu não tenho pé

torci o pé. mas a maneira como aconteceu poderia figurar na série "se eu contar ninguém acredita". até porque, não tem ninguém acreditando.

mas olha, o negócio foi assim:

na quarta à noite, voltei do cinema empolgadíssimo. não sei se tanto pelo que passou na tela ou na platéia. afeto é bom e feito para se gastar, pensava. sabe-se lá se daqui a pouco você vai estar comendo capim pela raiz?

cheguei, fiz um chazinho de camomila e outras mumunhas para dormir cedo, e nem liguei a tevê para fazer barulho (porque para assistir tá cada vez mais difícil, não tem net que salve). peguei um livro muito do subversivo e li até cochilar.

a luz acesa me incomodou e acordei para apagá-la. devo ter dormido sobre a perna esquerda, porque ela estava completamente dormente (e não é que o sacana do ortopedista teve a cara-de-pau de dizer que "isso acontece com muita freqüência quando se toma umas cachaças", sendo que eu estava purinho?).

como o pé estava completamente bobo, devo tê-lo apoiado errado, porque ele virou para dentro, com meu peso em cima. despenquei de dor, mas o sono era mais forte e me arrastei de volta para a cama.

no dia seguinte, fui trabalhar, mesmo sofrendo uma dor excruciante. até porque a carteirinha do plano de saúde estava na gaveta do escritório. caminhar do ônibus ao trabalho foi uma tarefa de tirar o fôlego. literalmente.

cheguei, explanei o caso para a chefia, desci para o serviço médico, me deram um analgésico e me mandaram de táxi (exclamação) para um ortopedista. ainda ganhei o auxílio luxuosíssimo de uma colega de trabalho como acompanhante (outra exclamação).

radiografia, a piadinha supracitada, edema e estiramento de ligamentos de diagnóstico, dez dias de fisioterapia. apenas um dia de dispensa, e porque eu pedi. chegando em casa, cruzo com salsão no botequim. o sacana me pergunta se vou competir no parapan. fico mais um dia de molho por conta própria, pois a dor ainda era muita.

mais tarde a piv me viu, disse que estiramento nada, o roxo denunciava ligamentos rompidos. levei um esporro por ainda não ter comprado o antiinflamatório, mas ganhei emprestado o "robofoot" dela, uma bota que imobiliza o pé e o tornozelo. para vocês poderem visualizar, a geringonça é algo entre o pé do robocop e aqueles aparelhos de paralisia infantil.

dois dias depois, lá vou eu, todo pimpão, a caminho da labuta. as mulheres me olham na rua, mas desconfio que não é pelas minhas doces olheiras. quando vê minha bota nova, minha chefe diz que não era para estar lá, que se um fiscal do trabalho aparecesse, era multa certa para a empresa.

a doutora do serviço médico confirma e me recomenda voltar ao ortopedista e pegar um atestado decente. eu realmente nem poderia ter entrado no prédio com aquele calçado.

resumindo: vou ficar mais uma semana cevando, olhando para o teto, lendo e vendo filmes. preferia tirar esse tempo para viajar, ou, pelo menos, ter uma moça para cuidar de mim.

hipotética trajetória poética

(nas letras do paulo leminski)


vi vidas, vi mortes
nada vi que se medisse
com o azar que tive
ao ter você, minha sorte
***

escurece
cresce tudo
que carece
***

quem me dera
até para a flor no vaso
um dia chega a primavera
***

arisco asco
a partir de ti refaço
uma alma em pedaços
***

longo o caminho
até uma flor
só de espinho
***

vertigo
ver te
comigo
***

nu como um grego
ouço um músico negro
e me desagrego
***

essa vida que quero,
querida

encostar na minha
a tua ferida
***

la vie en close
c'est une autre chose

c'est lui
c'est moi
c'est ça

c'est la vie des choses
qui n'ont pas
un autre choix

09 agosto 2007

invasores de corpos

nunca fui um sujeito magro. meus pais contam que, no primeiro ano de vida, quando tentavam me colocar sentado, o bebê-eu caía esparramado para os lados, como uma espécie de joão-bobo ao contrário.

o padrão seguiu-se por grande parte da minha vida, sempre mais afeito que fui aos livros e aos desenhos do que aos esportes. pelo menos até o período entre os quatorze aos vinte e três, quando, impulsionado pelos hormônios da adolescência, e depois pela urgência de agradar o sexo oposto, espichei (não muito, vide minha altura) e emagreci.

no entanto, a descoberta do álcool, do tabaco e de drogas como carboidratos de várias procedências, ketchup e maionese, fizeram-me retornar às origens rotundas. mas foi a aparição de uma presença muito especial na minha vida que me tirou da escuridão. não, não me refiro a jesus, e sim ao colesterol.

desde que nos apresentaram formalmente, saltei da montanha-russa de peso, procurando maneirar na gastronomia. em compensação, fiz um trato comigo mesmo de não subir mais em balança. e assim vamos vivendo em paz.

mas não era nada disso que tinha a dizer. minha intenção era contar algo do tempo em que um imeio selou o fim do meu primeiro casamento. sim, amiguinhos, devo ter sido o desbravador das separações via internet (a propósito, se o guiness estiver interessado, ainda devo ter uma cópia impressa em algum lugar).

entre as várias tolices que fiz nesse período, a maior delas deve ter sido me envolver com outras mulheres sem ter cicatrizado a ferida. creio que fui responsável por algumas semanas de análise a mais de pelo menos duas. aliás, se alguma delas estiver lendo estas mal-digitadas, gostaria que soubessem que sinto muito. não era eu naquela época. ou talvez fosse eu demais. sei lá.

enfim chegamos aonde eu queria: uma dessas moças era uma atleta dedicada -- principalmente para os meus padrões. ou será que academia não é esporte? tem gente que acha que fórmula 1 é. divago...

mas a moça era tão bacana que quis dar uma aprimorada no meu shape. para me estimular, apresentou um método muito ajeitadinho de exercícios chamado body for life, desses em que bastam dez minutos por dia para você passar de barbapapa a super-homem num piscar de olhos.

ela me trouxe uma série de planilhas, encapadas numa pasta transparente, com um disquete colado (era no tempo do disquete), para o caso de eu precisar imprimir mais folhas.

se bem me lembro, para o troço funcionar azeitado, eu deveria realizar uma série leve por tantos minutos, depois uma pesada e outra média, sempre pelo mesmo tempo, descansando entra cada uma. ou algo assim. e a cada semana entrariam novos exercícios, a duração aumentaria (ou diminuiria) à medida que o tempo passasse, até que, voilá! eu me transformaria no charles atlas.

tudo lindo, se não fosse por vários problemas. primeiro, um camarada que sai de casa meia hora atrasado para um compromisso achando que vai chegar pontualmente, como é meu caso, jamais conseguiria seguir esses minutos como manda o figurino.

segundo, cresci assistindo conan, o bárbaro. portanto, acredito até hoje que para um sujeito conseguir uma forma física situada entre o expressionismo e o realismo fantástico, como é o caso do schw@z&$wrrgueÇxnyegger, ele deve, no mínimo, passar mais da metade da vida acorrentado a uma pedra de mó, empurrando-a sem parar, ao som do canto do chicote, e exposto às intempéries. nunca vão me convencer que é possível ficar forte sem sofrimento.

e terceiro, quando ela me mostrou o livro de onde havia aprendido o método, eu perdi o respeito. e olha que ela é uma de inteligência acima da média. acima da minha, com certeza. mas é que vivi o suficiente para não acreditar em nenhum americano querendo ajudar cucaracho, principalmente os que estampam sorrisos cândidos congelados. pois o sujeito era bem assim. até achei a foto dele para provar.

esse papo todo veio à tona quando hoje, voltando do trabalho, estava prestes a começar a leitura de um livro que está na fila de espera desde meu aniversário. não é que, quando pego o marcador que veio de brinde da livraria, encontro uma foto da versão feminina do camarada? com um baita sorrisão psicopático, e o detalhe macabro -- um estetoscópio, o que sugere que a moça é médica! e deve ser, mesmo, porque tem um "dra." antes do nome dela. alô, povo de branco! podem rasgar seus diplomas.

essas figuras parecem as vagens alienígenas que tomavam as formas humanas no filme invasores de corpos, ou os clones "ipsilones semi-imbecis" do admirável mundo novo do huxley. assustadora é a impressão de que eles estão em cada vez maior número. medo.

08 agosto 2007

cinco músicas marcantes

1. "kid cavaquinho" - joão bosco e aldir blanc:
minha primeira lembrança musical é a versão da maria alcina para essa canção. achava engraçadíssima a voz dela, e o fato de a música conter as palavras "genésio" e "vagabundo". anos depois, já morando com salsão e gabi, perderíamos preciosos minutos fazendo análises sintáticas da letra para tentarmos descobrir a relação entre o "genésio", a "mulher do vizinho" e o narrador. até hoje não chegamos a nenhuma conclusão.

2. "heart of glass" - blondie:
desde cedo tive a sorte de desfrutar da companhia de mulheres mais velhas, como primas -- muitas --, e as amigas da minha irmã bete. numa das vezes em que moramos em brasília, no começo dos anos 80, tive a oportunidade de acompanhá-la em algumas festinhas. nessas ocasiões, tornava-me "mascote" das meninas, e recebia dos caras valiosos conselhos dos sobre como tratar as mulheres. além disso, fui apresentado para as músicas de gente grande. lembro-me bem do que se ouvia na época, mas fui contagiado pela debbie harry. principalmente depois que a vi no muppet show (até hoje é um dos meus programas favoritos).

3. "supper's ready", genesis:
posso dizer que -- estranhamente, devo ressaltar -- minha fase psicodélica começou com black sabbath. ouvi muito seus quatro primeiros discos. depois tive uma fase meio mahavishnu orchestra e emerson, lake & palmer, mas graças a deus passou rápido. o auge mesmo foi com o genesis. os discos da fase peter gabriel foram importantíssimos para minha formação. quantas vezes nas férias não abarrotamos o carro de um amigo, e seguíamos em direção à joatinga, prainha ou grumari, com essa música aos berros? quantas vezes não subi a cachoeira do primata, no jardim botânico, com seus versos na cabeça? é um tema épico de mais de 20 minutos sobre a batalha entre o bem e o mal, com direito ao retorno do messias e a convocação para a "ceia do todo-poderoso" (daí o título).

4. "o que é que a baiana tem?" - dorival caymmi:
aqui, se eu quisesse fazer justiça, teria que ter colocado a discografia inteira do caymmi, por isso escolhi essa por ser a mais representativa. foi ele quem me resgatou para os braços da música popular brasileira. foi só a partir de então que vieram joão gilberto, cartola, nelson cavaquinho e guilherme de brito, francisco alves e mário reis, a divina elisete, geraldo pereira, almirante, sinhô, donga, joão da bahiana, pixinguinha, clementina, cadê você? digo sem medo de errar que foi um dos germes que deu vida ao cordão do boitatá. enfim, até hoje ando atrás de saber o que é que a baiana tem...

5. "remember" - air:
meu onze de setembro começou em agosto de 2001. a bolha da internet tinha estourado, e com ela, meu emprego, meu casamento e minha casa. obrigado a voltar para a tijuca, morar com minha avó, com quem nunca tinha tido muita intimidade, resolvi encarar um mestrado. afundei na bibliografia recomendada dia e noite, passando em claro à base de cigarros e café. de vez em quando parava e escutava um cd. um dos que figuravam na bandeja era um do "air", uma dupla de quase-adolescentes franceses que abusam dos teclados e sintetizadores com timbres setentistas. quantos pôres-do-sol não assisti da varanda do meu pai (antes que construíssem um maldito arranha-céu em frente), filosofando sobre a incerteza do futuro, tendo apenas a esperança como sustentação. como no caso anterior, seria covardia escolher apenas uma, já que tinha também playground love, all i need e kelly, watch the stars.

se a brincadeira permitisse mais, eu ainda metia um billy paul, um frank zappa, um novos baianos, mas, por enquanto, é isso aí, pe-pe-pessoal.

03 agosto 2007

um país de dois

finalmente consegui baixar mother night, filme inspirado no livro "o espião americano", do kurt vonnegut. numa semana para lá de estranha, essa foi, sem dúvida, uma das boas coisas que poderiam ter acontecido -- embora nem de longe a única. ou a melhor.

há um trecho que não lembrava, em que o personagem principal -- um escritor americano recrutado para atuar como agente infiltrado de propaganda nazista durante a segunda guerra -- descreve seu amor pela esposa.

mesmo não sendo um vinícius, drummond ou rubem braga, o texto tem lá seus méritos.

Nenhum jovem na terra é tão excelente sob todos os aspectos que não precise de um amor incondicional. Bom Deus, enquanto os jovens desempenham seus papéis nas tragédias políticas com elencos de bilhões, o amor incondicional é o único tesouro real que eles deveriam procurar.

Das Reich der Zwei, o país de dois que minha Helga e eu tínhamos –- seu território, o território que defendíamos com tantos ciúmes, não ia muito além dos limites de nossa grande cama de casal.

Um pequeno país, liso, cheio de tufos e fontes, tendo minha Helga e eu por montanhas.

E, sem que nada fizesse sentido a não ser o amor, que estudante de geografia eu era! Que mapa eu poderia desenhar para um turista de um mícron de altura, um submicroscópico
Wandervögel [excursionista] andando de bicicleta entre um sinal e um cabelinho dourado encaracolado de cada lado do umbigo da minha Helga. Se a imagem é de mau gosto, Deus me ajude. Todo mundo deveria inventar brincadeiras para sua saúde mental. Eu simplesmente descrevi uma brincadeira, uma interpretação adulta de “Este porquinho” que era a nossa.

Oh, como nos apegávamos a isso, minha Helga e eu –- como nos apegávamos sem nos importar com nada!

Não escutávamos as palavras um do outro. Ouvíamos apenas a melodia de nossas vozes. As coisas que procurávamos ouvir não eram mais inteligíveis que o ronronar de gatos.

Se tivéssemos escutado mais, se tivéssemos pensado no que ouvíamos, que casal enfadonho teríamos sido. Além do território soberano de nosso país de dois, nós conversávamos como os lunáticos patriotas ao redor de nós.

Mas isso não importava.

A única coisa que contava –- nosso país de dois.

E quando esse país deixou de ser, tornei-me o que sou hoje e o que sempre serei, um apátrida.