black sabbath foi a trilha sonora que inaugurou a psicodelia do meu período carburado, a partir dos 15/16 anos.
tenho um apreço especial pelos discos black sabbath 4 (tive um vinil peruano, com um álbum de fotos entre as duas capas e os nomes das músicas apenas em espanhol! que tal ceguera blanca?) e never say die, de levadas poquito más jazzísticas.
gostava tanto deles que, em 2000, anos depois de sepultadas as últimas baganas, comprei uma coletânea dupla em CD. tinha também umas músicas do grupo já sem o ozzy, absolutamente passáveis, mas no todo deu o velho arrepio maneiro no espinhaço.
tô falando disso pq outro dia, tentando baixar changes, do david bowie, e veio a do black sabbath. né por nada, não, mas já viram a letra?
não tô querendo dizer nada (e já me contra-dizendo), mas é bonita pracará.
31 janeiro 2004
i'm going through changes (amigou intro tiê e gens)
leo jaime é um figuraça
encontrei essa entrevista com o rotundo cantor na rede.
percebam a presença de espírito na resposta (o resto também vale a pena):
Monique Evans disse que você foi o primeiro cara que a fez sentir orgasmo. Qual o segredo?
É simples. Quando se conhece uma mulher que não chega ao orgasmo, tem de perguntar do que ela gosta, e evitar fazer isso a qualquer preço. Se o que ela gosta não a conduz ao orgasmo, você tem de evitar aquilo. E Monique sempre foi muito romântica, queria uma relação de muito carinho, feita com doçura... Quando ela falou isso passei logo uma rasteira e meti a mão (risos). Daí ela se apaixonou. Foi uma relação muito boa. E ela não fala disso a troco de nada. Mas meus amigos até hoje acham que a declaração dela à Veja foi matéria paga, que fiz só pra me dar bem (risos). Me perguntavam qual a receita e eu respondia: "Treino muito quando estou sozinho".
notícias de hoje (II)
Canibal alemão é condenado a 8 anos
injustiça da grossa. não devia sequer ser preso, mas teve gente qua achou pouco. ora, se um camarada põe um anúncio em jornal procurando alguém para literalmente devorar, e um outro doido atende, quem vai comer quem, e como, é problema sexual exclusivo deles.
todos os vizinhos, amigos e conterrâneos do caboclo são unânimes em afirmar que ele era um lorde com adultos e crianças. pervertido, sim, mas reservado (como reza a boa conduta alemã), sem jamais dar pinta, importunar ou forçar quem quer que fosse. "sou doente, mas sou limpinho", devia ser seu mote.
e para quem esteja me achando tão pervo quanto o tedesco, boto mais lenha na fogueira: e o time uruguaio de rugbi, que em 73 passou 70 dias na neve dos andes, depois da queda de seu avião? eles só conseguiram sobreviver porque deram vazão aos próprios instintos antropofágicos, canibalizando quem tinha morrido na queda. depois, até a santa madre igreja os perdoou. mas do alemão - com o perdão da metáfora - estão todos querendo-lhe a carniça, só porque ele, além de comer, gravou um vídeo "culinário" e o assistiu várias vezes, segundo os jornais, "para satisfazer sua sexualidade".
pergunto: por que a manutenção da sobrevivência é mais louvável do que a satisfação dos desejos? ou melhor: qual a razão de se estender uma existência, se nela não há prazer? ora bolas, o canibal não forçou ninguém. o tal engenheiro-refeição se apresentou de livre e espontânea vontade. segundo consta, ainda saborearam juntos o pênis flambado do último. e, apesar de ter ficado um pouco carregado no sal, parece que os agradou sobremaneira.
o que dizer dos casais que se engajam em relações onde reina a perversidade e a agressão mútua, ainda que sem violência física? não são igualmente danosas? no entanto, elas também não dizem respeito a ninguém. são acordos entre duas pessoas, sem direito a cláusulas de interferência de terceiros. a não ser indiretamente, mas qualquer idiota sabe que quando um não quer, dois não brigam, e que em briga de marido e mulher, ai daquele que meter a colher.
eu mesmo conheço alguns casais que, pela maneira como se tratam, deviam estar amargando um xilindró a pão e laranja.
e querem saber de mais? apesar do meu apetite se inclinar mais para carnes femininas, branquinhas e malpassadas, viva o alemão. como disse oswald de andrade em seu manifesto antropofágico:
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
finalmente um bostejo que faz jus ao nome do blog. estou me sentindo o próprio caeté diante do bispo sardinha.
notícias de hoje (I)
Celular não causa câncer, diz estudo.
pena...não haverá castigo na terra para os chatos de cinema?
andres calamaro
uma das coisas boas que me ficaram da argentina é o andres calamaro (um dia eu explico). para mim, melhor que charly garcia. destaque para la canción abajo:
Pasemos a otro tema
Pasemos a otro tema ,
no quiero hablar de eso,
la casa esta vacía y fría,
la ropa en el pasillo me da la razón
Ella me abandono
Esta todo guardado,
hay cosas con candado,
hay cosas que abandono para siempre,
y hay un lugar vacío,
es el que había pensado
solo para los dos
Ella es tan formal,
que nunca me va a perdonar
Mejor no hablar de eso
pasemos a otro tema
Y compréndeme, no puedo
entender cuál es el juego
de verdad, no te voy a perdonar
Fue por el "efecto suelo"
y una frase del Abuelo:
"el lugar se cubrió de pedazos de cristal"
30 janeiro 2004
augusto dos anjos já sabia
achei aqui as obras completas do poeta de pau d'arco, paraíba. o sacana morreu com 30, a idade que tenho hoje. deixou apenas um livro publicado, que depois engordado com outras poesias soltas, é editado até hoje com o título de "Eu e outros poemas".
me faz lembrar os idos dos meus 17/18 anos, quando eu vivia fundo a boemia, cometia umas poesinhas, e dei ao meu ao meu pai seu mais profundo desgosto: não ter ficado tuberculoso. é que ele, meio (pra aliviar) hipocondríaco, tinha certeza absoluta de que minha vida dissoluta não era nem uma rima, nem uma solução. mas que me renderia várias hemoptises.
eu, no entanto, chato, cri-cri e metido a dono da verdade como qualquer adolescente que mereça o título, não dei o braço a torcer e mantive uma saúde de ferro - tirando o fígado, coitado, que nessa época levou surras homéricas.
mas, voltando ao dos anjos, dele selecionei essa pérola. meio cascuda, mas muito boa:
Versos de amor
(A um poeta erótico)
Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, aposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias - o inventor da flauta -
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!
Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d´alma!
29 janeiro 2004
não consigo ler nada...
...e tampouco escrever.
até quando será que posso agüentar a tensão? não é suficiente ter que eparir
trocentas páginas em menos de um mês? preciso mesmo de um foguete entrando no rabo pra poder me mexer?
de qualquer forma, li isso hoje no globo:
Gêmeos
A hora é boa, mas é necessário que você tome uma atitude. Empenhe-se naquilo que quer. E, no fundo, você sabe o que quer. E já viu que reclamar dos obstáculos não faz com que eles saiam do caminho.
...
caraca! quem escreveu isso? minha mãe ou meu analista?
bom, a ordem é lê-lo pelo menos três vezes ao dia, em jejum.
já providenciei cópias do texto para colar até dentro do chuveiro.
frases de cinema
ontem na madruga, pra aliviar a tensão de escrever (tá foda, parceiro, tá foda mas é porque é o começo...), reassisti "as horas". nicole kidman de virginia woolf tá um escândalo (como um nariz valoriza, mesmo falso). e a julianne moore, então? obra-prima embalada pelo phillip glass.
do filme, algumas frases e o fim de uma suposta carta de suicídio da virginia woolf (mas não são as reais):
"you cannot find peace by avoiding life"
"what does it mean to regret when you have no choice?"
"Dear Leonard,
To look life in the face,
always to look life in the face.
And to know it, for what it is.
At last to know it. To love it for what it is,
and then to throw it away.
Leonard, always the years between us,
always the years.
Always the love,
always the hours."
27 janeiro 2004
skylab
sempre achei o rogério skylab uma figuraça. embora nunca tenha o visto ao vivo, acho hilárias sua letras & performances (aliás, quem quiser me dar um presentão, é só me levar para um show dele). e hoje, num momento de relax teórico, flanando pela internet descobri essa pérola:
Samba
Vivo em papos de aranha,
Tô aqui a ver navios,
Leio sempre o Catatau,
Acabou o século XX.
Eu pareço com Ulisses,
Atravesso a Rio Branco,
Lá na frente tem uma blitz,
Eles tão me rebocando.
Entro na Leonardo da Vinci,
A gringa não percebe nada,
Eu estou desempregado
E quero mais ficar assim.
Eu não tenho nada a ver
Com a linha evolutiva,
Gosto é de ficar deitado
Com o meu piru na mão.
Vou comprar uma mutuca
Lá no quinto dos infernos,
Eu não sou nenhum mané,
Rio de Janeiro.
Sou um garoto seqüelado,
Quero ouvir Zumbi do Mato,
Hanny baby é o caralho,
O meu samba é assim.
...
e não é que o caboclo lê leminski?!
olha a sincronicidade aí, gente!...(chora cavaco!)
domingo, bostejei uma das minhas frases preferidas do cinema, e hoje, isso.
pode vir quente que eu estou fervendo. TSSSSSSSS!...
25 janeiro 2004
a cara de sumpaulo
outro dia, no quadro que o xexéo e o cony tem na cbn, o repórter heródoto barbeiro perguntou qual música eles consideravam a cara da cidade. a do cony não lembro, mas a do xexéo foi a indefectível "sampa".
discordo. para mim, uma das músicas que melhor caracteriza, se não a cidade, o paulistano jovem médio - ou o modelo de juventude que os publicitários de lá querem vender para o resto do país -, é "hey boy", dos mutantes (todos, aliás, paulistanos da gema).
HEY BOY
(Arnaldo Baptista / Élcio Decário)
He he he hey boy
O teu cabelo tá bonito hey boy
Tua caranga até assusta hey boy
Vai passear na Rua Augusta.
Hey he he hey boy
Teu pai já deu tua mesada hey boy
A tua mina tá gamada
Mas você nunca fez nada.
No pequeno mundo do teu carro
O tempo é tão pequeno
Teu blusão importado
Tua pinta de abonado
Tuas idéias modernas.
He he he hey boy
Mas teu cabelo tá bonito hey boy
Tua caranga até assusta hey boy
Vai passear na Rua Augusta.
A menina e as pernas
Vão aparecer
Nos passos ritmados
Do iê-iê-iê bem dançado
Da cuba-libre gelada.
Hey boy, viver por viver
Hey boy, viver por viver
Hey boy, viver por viver
Hey boy
mais tim na sua vida
maia, veja bem. nada a ver com a famigerada operadora de celular.
num rasgo de suíngue jamais visto na música brasileira (popular ou erudita), o negão esculpiu mais uma obra-prima nas massas de ar (como ensinou a natureza de seu ofício frank zappa):
Meus inimigos
Meus inimigos vão falar
Venha comigo pra saber agora
Venha comigo para ver
Por isso mesmo vou lhe mostrar
Tudo no seu devido lugar
Os bons amigos vão me saudar
E agora, sentimentos fora
Desse embalo
Vou botar pra quebrar
Meus inimigos vão contar histórias
Meus inimigos vão falar
Venha comigo pra saber agora
Venha comigo para ver
...
a quem interessar possa, uma boa matéria sobre o tim.
os sons que me contaminam
estou atoladaço com o mestrado. tenho que entregar a dissertação no fim de fevereiro (adeus carnaval...).
mas jacaré já começou a escrever? nem eu!
pois bem, contrariando as ordens auto-impostas, não posso deixar de bostejar, e o assunto de hoje, amiguinhos é a trilha sonora que me acompanha nesses momentos de cu apertadíssimo.
há dois anos, estudando para as provas de admissão no mestrado, na casa da minha avó, me entupia de remédios para emagrecer cheios de anfetaminas e outras bolas na fórmula (bons tempos, saudades...me dou muito bem com estimulantes químicos ingeríveis), e escutava uma trilha sonora rigorosa, à base de:
- lou reed (transformer)
- air (uma compliação dos três primeiros discos)
- gorillaz
- maurício negão (os três, incluindo o recente criolina)
- herbie hancock (cantaloupe island)
- frank zappa (strictly commercial)
- strokes (is this it)
- oscar peterson (ultimate oscar peterson)
hoje, a relação segue assim, por enquanto mais por músicas baixadas do que por discos:
- billie holliday (embraceable you, autumn in new york, i got it bad and that ain't good, on the sunny side of the street)
- nina simone (don't let me be misunderstood, ne me quitte pas, four women, i got it bad and that ain't good)
- mutantes (ave, gêngis khan, minha menina, ave, lúcifer, top top)
- sly and the family stone (the very best of)
- tim maia (além do horizonte - com erasmo tremendão, paz interior, réu confesso, meus inimigos, o caminho do bem, o que me importa)
- cornershop (brimful of asha)
- lou reed (transformer).
aliás, do meu amigo lou reed, estou apaixonado por andy's chest e perfect day, da qual destaco as últimas estrofes, das coisas mais simples - quase óbvia - mas por isso mesmo, da mais lindas que já vi escritas:
Just a perfect day,
Problems all left alone,
Weekenders on our own.
It's such fun.
Just a perfect day,
You made me forget myself.
I thought I was someone else,
Someone good.
Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.
You're going to reap just what you sow...
um dia hei de viver isso plenamente, na carne.
depois não me falem de preconceito...
nossos irimãos do além-mar são realmente incríveis.
leiam o texto abaixo, coletado aqui.
Domingo, Janeiro 25, 2004
Conversas interessantes entre raparigas...
- Aquele rapaz ali deve ter 18 anos...
- Ah! Não parece...
- Mas olha que tem 18 anos, olha lá a cara...
- Olha pois parece!
- Ele tem 18 anos...
- Pois... deve ter 18 anos...
- Pois deve...
- Pois é...
- É é...
- É pois...
- Pois... Então ambas concordamos que tem 18 anos...
- Pois concordamos
(10 minutos nisto...)
As pessoas envolvidas não fumam coisas que fazem rir nem bebem alcool em excesso, mas são portuguesas!
post por Doido ás 02:00 com 0 comentário(s)
23 janeiro 2004
ligações perigosas
pode ser que sejam apenas meus nervos, mas será que não há um padrão nessas duas músicas, ouvidas recentemente?
the vibes, the vibes...
I'll follow the sun
(The Beatles)
One day you'll look to see I've gone.
For tomorrow may rain, so I'll follow the sun.
Some day you'll know I was the one.
But tomorrow may rain, so I'll follow the sun.
And now the time has come
And so my love I must go.
And though I lose a friend,
In the end you'll know, oooh.
One day you'll find that I have gone.
For tomorrow may rain, so I'll follow the sun.
Yes, tomorrow may rain, so I'll follow the sun.
And now the time has come
And so my love I must go.
And though I lose a friend,
In the end you'll know, oooh.
One day you'll find that I have gone.
For tomorrow may rain, so I'll follow the sun.
...
Fé cega, faca amolada
(Milton Nascimento- Ronaldo Bastos)
Agora não pergunto mais aonde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser
Faca amolada
O brilho cego de paixão e fé,
Faca amolada
Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranqüilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito tranqüilo
Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar
Faca amolada
Irmão, irmã, irmã, irmão de fé
Faca amolada
Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia
Beber o vinho e renascer a luz de todo dia
A fé, a fé, paixão e fé, a fé,
Faca amolada
Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
Deixar o seu amor crescer na luz de todo dia
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser
Muito tranqüilo
O brilho cego de paixão e fé
Faca amolada.
22 janeiro 2004
um picasso em são paulo é melhor do que nenhum
já sei qual vai ser a primeira coisa que vou fazer quando sair da tumba daqui a um mês, quando entrego a dissertação: me meto no primeiro ôndebus pra sumpaulo pra encarar o picasso.
sem duplo sentido, por favor.
o que é a cara-de-pau...
vejam aqui quem será o novo próximo ídolo pop inglês.
sem comentários.
é um arquivo de vídeo (quicktime). clique com o botão direito do mouse, e em seguida, em "abrir link em uma nova janela". aguarde baixar.
parece tirado de uma daquelas bombas televisivas do estilo "fama", da globo.
20 janeiro 2004
prtguês de prtgal, essa estranha flor do lácio
sempre que venho aqui para bostejar, o servidor mostra uma coluna à direita com os blogs recém-mexidos. volta e meia dou umas bandas nos títulos em português, à cata de novidades. mas a esmagadora maioria deles vêm de nossa matriz, portugal. brasileiro, necas.
de qualquer forma, é sempre uma diversão ver os nossos irimãos escrevendo. vejam se o texto abaixo não é capaz alegrar o dia de qualquer um. duvido que você chegue ao fim sem pelo menos um sorriso.
ah, se interessar, tirei daqui. dia 18 de janeiro, para se mais exato.
putos sem vida...
há dias assisti a uma cena mesmo absurda.
mais um dia de escola. pus-me a caminho da estação para apanhar o comboio das 13:18. enquanto este não vinha, estive na conversa com as minhas amigas. reparei num grupo de três rapazes que estavam ao nosso lado. tinham cerca de 14 anos. reconheci um deles, era um puto da minha antiga escola. um miúdo muito traquinas e nem sempre o mais agradável para as pessoas. esqueci o grupinho e entrei no comboio. sempre num diálogo alegre com as minhas colegas. a meio da viagem (que é muito curta, é só uma paragem), dei conta de uma cena muito absurda ali a menos de 7 metros. o tal grupinho estava a assaltar um miúdo do 10º ano da minha escola. o mais estúpido foi o facto de a carruagem estar cheia e ninguém ter feito nada com aqueles três putos. a sorte do miúdo foi ter um telemóvel que não lhes interessava.
eu e o meu grupo de amigas assistimos a tudo. uma raiva enorme consumiu-nos a todas. mas por algo que eu não sei explicar, também não fizemos nada. mesmo querendo mandar um estalo a cada um. ficámos paradas, sem saber o que fazer.
são destas coisas que me revoltam. putos que nem sequer sabem o que querem da vida andam aí a chatear o pessoal. não têm mais nada para fazer então decidem importunar os outros. esses putos...
# plantado por Moranguinha @ 16:34 || Morangos: 0
18 janeiro 2004
li e gostei
não sei com o que se come o autor, mas gostei do texto:
::::Promise yourself::::
Promise yourself to be so strong that nothing can disturb your peace of mind. To talk health, happiness and prosperity to every person you meet. To make all your friends feel that there is something in them. To look at the sunny side of everything and make your optimism come true. To think only of the best, to work only for the best and expect only the best. To be just as enthusiastic about the success of others as you are about your own. To forget the mistakes of the past and press on to the greater achievements of the future. To wear a cheerful countenance at all times and give every living creature you meet a smile. To give so much time to the improvement of yourself that you have no time to criticize others. To be too large for worry, too noble for anger, too strong for fear and too happy to permit the presence of trouble.
Christian D. Larson
17 janeiro 2004
deus à siciliana (ou à moda do brooklyn)
de robert de niro, em entrevista ao actor's studio:
entrevistador - o que gostaria que deus te dissesse quando você chegasse ao céu?
de niro - bom, se deus existir mesmo, ele vai ter muito o que se explicar...
sobre porcos e homens
ontem, zapeando pela tv a cabo de babãe, assisti a uma adaptação da “revolução dos bichos”, de george orwell. 1984, do mesmo autor, é um dos meus clássicos de todos os tempos, e a “revolução...” me impressionou bastante aos 14 anos; os porcos, em especial (muito do asco era graças ao medo que adquiri de jodie, o porco-demônio de “horror em amityville”, que acabara de ler na casa de meus primos).
o filme não estava mal. a computação gráfica foi fundamental para fazer os animais falarem, os porcos caminharem em duas patas e pegarem objetos com os cascos. a transposição do romance também estava bem fiel, até o final botar tudo a perder. no livro, o desfecho é perturbador: porcos e homens sentam-se em torno da mesa da fazenda tomada, negociando e bebendo uísque (em clara desobendiência aos mandamentos da revolução), enquanto o narrador diz que “quem os observasse, não saberia mais distingüir porcos de homens”. ponto final.
mas na película, a maldição do happy end atacou. não satisfeito, o diretor john stephenson quis melhorar o perfeito. e fez com que alguns animais fujissem para as cercanias da fazenda, e lá esperassem o fim da tirania dos porcos. há uma alusão à queda do muro de berlim, e no fim, mostra os animais satisfeitos por receber uma nova família que compra a fazenda (!!!). e o take final mostra papai, mamãe e um casal de filhinhos, todos louros e lindos, com sorrisos de cera à la kennedy, passando com um conversível por cima da placa caída da “animal farm”.
porque os animais que sobraram não assumiram a gestão da fazenda eles mesmos, dentro de um esquema de produção coletiva e igualitária, sem líderes, como era o ideal da revolução?
é o maldito reforço da mensagem de que os homens não podem se auto-gerir, de que necessitamos de especialistas que "pensem por nós". de que dependemos de uma estrutura de produção e de vida onde alguém domina o conhecimento e os meios de produção, enquanto o restante permanece alienado do processo, possuindo apenas a força de trabalho. cada um podendo fazer apenas aquilo que sabe, sem que as aptidões de cada um possam ser compartilhadas coletivamente. o conhecimento permanece na mão de especialistas, que o mistificam e o tornam em fetiche. não precisamos de quem nos diga o que fazer. não precisamos de senhores ou líderes. power to the people!
cruzes, como estamos marxistas hoje!...
mas é isso: marx vive! o problema é que as pessoas confundem o regime comunista - fechado em diretrizes de uma elite política, com doutrinas que se cristalizaram e, por isso, ruíram -, com o arcabouço filosófico proposto por marx - plural, dinâmico e, por que não, repleto de contradições, como todo bom arrazoado filosófico.
16 janeiro 2004
os pais do burro
sou tarado por dicionários. como eles são caros, para um geminiano safado como eu, a internet foi uma mão na roda. a disponibilidade deles na rede é um assombro. já cheguei a baixar livros inteiros, só para aproveitar a agilidade que os dicionários virtuais oferecem durante a leitura.
só não entendo como a minha paixão pelo uso correto do vernáculo (uau!) não se reflete em melhoria na minha linguagem. vai entender...
além do babylon (depois de expiração o prazo de gratuidade, sou obrigado a atrasar a data do computador para usá-lo), tenho dois xodós: o american heritage, um fodão de inglês que tem até arquivo sonoro de pronúncia, e o diccionarios.com, que faz traduções de espanhol para outras línguas e vice-versa, ótimo para quem busca termos num terceiro idioma.
os links estão nos favoritos, ao lado. se vira nos trinta.
e como disse drummond de andrade: "Penetra surdamente no reino das palavras./ Lá estão os poemas que esperam ser escritos./ Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata./ Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário".
transgressões previstas pelo sistema
pode ser que eu esteja errado, mas acho que a forma predominante de transgressão da juventude hoje é sexual. nos idos dos meus 15 anos, foram as drogas. buscava-se um tipo de transcendência similar ao da geração dos anos 70, anterior à minha. e assim tomávamos todo o tipo de porcaria em nome da expansão da consciência e de um vislumbre de divindade.
(porcaria mesmo. comi pão mofado, fumei fiapo de banana e tomei coca-cola com aspirina, só porque dizia-se que dava onda. sem falar nas receitas caseiras de loló e lança. só não tomei nos canos porque tenho medo de injeção, e crack e ecstasy porque quando apoareceram eu já tinha deixado a farmacopéia de lado).
mas a petizada hoje parece que abandonou a transcedência em nome da imanência. o que importa é o corpo e seus limites, e o que você pode fazer com ele, como pode modificá-lo. a mente é perda de tempo. pensar pra quê? ninguém mais sabe quem foi castañeda, acham que bukowsky é nome de boate, e sequer ouviram falar das experiências de jack kerouac, rimbaud, verlaine, aldous huxley e william burroughs de misturar drogas e literatura (na música, as experiências podem ter permanecido pelo seu caráter mais "sensorial" do que "intelectual").
agora a onda é piercing, tatuagem, body-modification, fisioculturismo, plástica e lipoaspiração - sem falar nessa febre de lesbian-chic de novela, que parece ter contaminado a todo(a)s. de três em três meses sai uma matéria na veja sobre o número cada vez maior de adolescentes apelando para cirurgiões plásticos para corrigir as "imperfeições", que os tornam únicos. hoje ninguém mais quer ser diferente.
mais do que uma atitude contestatória, a transgressão parece ser uma afirmação do sistema, um traço de consumo. o estilo alternativo e rebelde deixa os jovens exatamente iguais uns aos outros. vestindo as mesmas roupas, ouvindo as mesmas músicas, trepando, falando, bebendo, fumando e comendo as mesmas coisas. mas - invariavelmente - consumindo.
desde que você compre, pode ser e fazer qualquer coisa. e se acontece com a moda, porque não aconteceria com as drogas, que movimentam mais grana por ano do que o mercado de petróleo, só perdendo para o de diamantes? por mais que que se reprima, a demanda é grande e os interesses, enormes. esvaziadas de ritual, as drogas deixaram de ser um meio de expandir a mente para tornarem-se meros aceleradores ou amortecedores de sensações. ou o cara quer ficar mais rápido que o mundo, ou quer desacelerá-lo, calçando-lhe pantufas. aliás, parei de usar drogas quando deixei de enxergar a mística de coisa proibida que me seduzira. tava ficando tão fácil encontrar, com tanto nêgo cabecinha usando, que achei melhor parar. não era mais a minha. sou a favor da liberação geral, mas custo a acreditar, como muitos, de que depois o consumo vai diminuir. só acho que vai morrer menos gente desnecessariamente.
na essência, ser transgresor hoje é não consumir.
digo isso tudo porque ontem fui com meu amigo pedro cabeção no empório, em ipanema, onde não punha os pés desde o aniversário da minha irmã, há uns três anos. e o que vi, além daqueles tipos bizarros que parecem brotar nas rachaduras das calçadas à noite (porque nunca se consegue vê-los de dia), foi uma pivetada brincando de crossover sexual. tinha, por exemplo, um molecote todo cheio de piercings, com braceletes de couro e metal (como os que eu gostava, quando me tornei punk, aos 15 anos), cinto sobre a bermuda, e boné. o sujeito se contorcia, dançava e olhava para os lados como se fosse uma bichinha-lacraia. mas logo depois lascou um chupão numa morena com o cabelo tingido de ruivo. que por sua vez, beijou uma menina linda de minissaia e meia colorida até o joelho (tenho tara por minissaia e meias compridas, deve ser algo relacionado com o fato de ter morado duas vezes perto dos colégios pedro II). essa por sua vez, beijou uma narigudinha meio olívia palito, que acabou sendo beijada pelo lacraia.
não conseguiram me chocar, mas fiquei surpreso com a desenvoltura e o descompromisso da garotada. devo estar ficando velho, porque na minha época, liberdades assim - também ultra-transgessoras - eram muito restritas às esferas privadas ou "marginais". andando pelo mainstream, a primeira vez que vi um beijo homossexual foi na faculdade, numa festa de dois amigos casados. eles se beijaram espontaneamente, e só fizeram isso porque estavam na própria casa, em companhia de pessoas absolutamente confiáveis. e mesmo assim, não foi uma atitude afirmativa e demonstrativa - mas apenas uma expressão de carinho. não essa coisa gratuita, ostensiva, feia inclusive quando com heterossexuais.
ah, sei lá, também...mó sociologia de botequim...estou soando muito tijucano? fazer o quê? eu vim de lá, eu vim de lá, pequenininho...
13 janeiro 2004
outra obsessão
há três posts falava eu de algumas obsessões musicais. outra delas é o tim maia. mas não esses discos póstumos & ao vivo, quando os excessos já tinham minado de vez o alcance vocal do negão. gosto do tim na época em que ele era chamado de "deus trovão", o pai do suíngue brasileiro. destaco, além dos sucessos consagrados, os discos "racionais", da época em que ele se engajou no universo em desencanto. dentre elas, a divina:
paz interior
já não dependo das loucuras
já encontrei o que fazer
agora sei outra verdade
estou vivendo com prazer de viver
eu agora já não dependo de você (2x)
voltou o brilho dos meus olhos
voltou a paz interior
no universo em desencanto
me reencontrei com muito amor
racional, e agora
chegando o bem se afasta o mal (2x)
sem vergonha
não é por nada, não, mas sair de casa me fez bem. tava começando a amarrar um bote pretaço. levei um esporro, pra não perder o prumo, mas tô de volta aos eixos. vida, afinal!
ainda tenho uns troços pra resolver comigo mesmo, mas é só não deixar as coisas acumularem, que tudo se ajeita. enfim...
voltando pra casa, ouvi de um apartamento "sem você", do antônio jobim e do vinícius de moraes, cantada por maria bethânia. coisa finíssima, linda de doer no cu, como diz uma grande amiga. sem sentimentalismo ou nostalgia, reproduzo aqui a letra.
mas vale ouvir a música - ô, se vale.
Sem você
Sem você
Sem amor
É tudo sofrimento
Pois você
É o amor
Que eu sempre procurei em vão
Você é o que resiste
Ao desespero e à solidão
Nada existe
E o mundo é triste
Sem você
Meu amor, meu amor
Nunca te ausentes de mim
Para que eu viva em paz
Para que eu não sofra mais
Tanta mágoa assim
No mundo
Sem você
algum kaváfis
a primeira vez que ouvi falar de konstantinos kaváfis foi no filme "morango e chocolate". o personagem do gay, em meio ao processo de sedução do jovem militante cubano, apresenta-lhe uma poltrona do apartamento, especial "só para ler kaváfis". depois foi meu amigo carlos arimathéia que, numa tarde de preguiça na calógeras, em companhia da laura, nos leu Ítaca.
desde então procurei o livro que, acredito, seja o único do poeta alexandrino (de nacionalidade, não de métrica), editado no brasil pela nova fronteira. quando trabalhava no bondfaro, descobri que o safado não tem isbn. pode checar. alguma mutreta deve ter aí...
mas, enfim, separei alguns poemas do cabra, pra dar vazão de vez à esse mormaço que vai em minh'alma.
(virge! alguém me segura que hoje eu tou co'a breca!)
Desejos
belos corpos de mortos que nunca envelheceram,
com lágrimas sepultos em mausoléus brilhantes,
jasmin nos pés, cabeça circundada de rosas -
assim são os desejos que um dia feneceram
sem chegar a cumprir-se, sem conhecerem antes
o prazer de uma noite ou manhã luminosa.
Fui
Não me deixei prender. Libertei-me de todo e fui
em busca de volúpias que em parte eram reais,
em parte haviam sido forjadas por meu cérebro;
fui em busca da noite iluminada.
E bebi vinhos fortes, como
bebem os destemidos no prazer.
Jura
A cada pouco jura começar vida nova.
Mas quando a noite vem com seus conselhos,
seus compromissos, com suas promessas;
mas quando a noite vem com sua força
(o corpo quer e pede), ele de novo sai,
perdido, atrás da mesma alegria fatal.
Ao fim da tarde
Não duraria muito, em todo caso. A prática
dos anos me ensinou. Então, subitamente,
veio lhe dar um fim a Sorte.
Os aromas, porém, como eram fortes.
Em que leitos esplêndidos deitamos.
A que prazeres demos nossos corpos.
Um eco daqueles dias de prazer,
um eco daqueles dias me voltou,
um pouco da chama de nossos juvenis transportes.
Peguei nas mão uma das cartas, absorto, e
a li, uma e outra vez, até a luz faltar-me.
E saí para o balcão, melancolicamente
- saí para distrair os pensamentos, ver ao menos
um pouco da cidade bem-amada,
um pouco do movimento de suas ruas e lojas.
sly para fechar a noite (ou começar o dia)
tava baixando uns troços e peguei uma seleção de sly and the family stone. tem uns sons que eu aprendi a gostar quando era mais novo, e que se tornaram verdadeiras obsessões: uma delas é jorge ben, e a outra é sly. é batata. podem ser as mais bobas, mas as músicas de ambos têm uma vibração que me dá uma levantada no astral necessária para contrabalancear a sorumba. uma delas, em especial, transborda boas ondas.
(queria poder tocá-las aqui...)
Everyday people
Sometimes I'm right and I can be wrong
My own beliefs are in my song
The butcher, the banker, the drummer and then
Makes no difference what group I'm in
I am everyday people, yeah yeah
There is a blue one who can't accept the green one
For living with a fat one trying to be a skinny one
And different strokes for different folks
And so on and so on and scooby dooby doo-bee
Oh sha sha - we got to live together
I am no better and neither are you
We are the same whatever we do
You love me you hate me you know me and then
You can't figure out the bag l'm in
I am everyday people, yeah yeah
There is a long hair that doesn't like the short hair
For bein' such a rich one that will not help the poor one
And different strokes for different folks
And so on and so on and scooby dooby doo-bee
Oh sha sha-we got to live together
There is a yellow one that won't accept the black one
That won't accept the red one that won't accept the white one
And different strokes for different folks
I am now everyday people
é melhor ser alegre que ser triste?
outro dia cheguei à conclusão que tenho uma inclinação atávica para o banzo. avaliando a frio, pelo lado estético, meus gostos musicais, cinematográficos, artísticos, etc., observo um padrão meio deprimido. no entanto, não sou de ficar me queixando da vida que nem a hiena do desenho - "ó dia, ó vida, ó azar...". simplesmente tenho meus calundús. e gosto deles. e os preservo em segredo, num vidro de compota guardado numa prateleira entre o cérebro e o coração.
é como o traço de ciclotimia dos palhaços, muito bem retratada pelo nelson cavaquinho: "volta, que a platéia te reclama/ sei que choras palhaço/ por alguém que não te ama/ (...) faça a platéia gargalhar/ um palhaço não deve chorar". acho que por isso que gosto tanto de palhaços, e porque, no íntimo, gostaria de sê-lo por profissão.
mas nesse sábado pude satisfazer minha verve clóvis (melhor que clown). é que fui, com a bibi, ao aniversário de um ano do tarik, filho da judith, que está com o marido passando o holiday on ice no brasil. foi divertidíssimo, e para completar, todos os ADULTOS ganharam saquinho surpresa, com nariz de palhaço, dentes postiços e língua-de-sogra (ótimo nome, já repararam?). tiramos fotos paramentados e de chapeuzinho, e seguimos para outro aniversário, da rê queveda, no rio scenarium. eu e bibi no carro de palhaço - óbvio. até o flanelinha esqueceu de nos cobrar, na ida. aliás, quando viu a dentadura postiça na boca da bibi, escancarou um sorriso limpa-trilho de fazer inveja. perguntei, com o vidro fechado (pro sujeito não ouvir):
- e aí, onde foi que você comprou os seus?
na fila, todos nos olhavam, e eu retribuá a curiosidade, cumprimentando-os tirando o chapéu - afinal, sou um camarada educado. na hora de pegar a cartela de consumação, o atendente perguntou o nome. num surto esquizofrênico, respondi na lata:
- coçadinha! - mas o dani, sem senso de humor, consertou - marcelo.
lá dentro, a chegada foi uma festa. fiz jus ao apelido de "loco", que essa galera me deu há...treze anos (cacete!), e do qual sequer me lembrava.
vieram falar comigo, e eu cumprimentava batendo na bunda, "como vai, vai bem, veio a pé ou veio de trem?". quando era um pessoal interessante que eu não conhecia, virava de costas, tirava o aparato e me apresentava:
- como vai? marcelo, seu criado. qual a sua graça?
me diverti, dancei pra dedéu, cheirei uns cangotes no forró, reencontrei o povo do boitatá, e sai quase cinquenta reais mais leve. vagabundo tá metendo a mão no finde, 18 paus! e sem direito a consumir uma azeitona sequer. mas valeu.
agora estou aqui - como dizem os gringos - mais azul do que o azul pode ser. ouvindo umas sonatas de piano do beethoven que aprendi no "homem que não estava lá", dos irmão coen, que aliás, no momento aproveito para baixar. filme triste e bonito. preto-e-branco, como convém.
doze dias para ficar assim...boa média para 2004.
11 janeiro 2004
humano, demasiado humano...
hoje peguei emprestado dois livros do hesíodo - a "teogonia", que já conhecia e do qual li algumas partes, e "os trabalhos e os dias", como o anterior, um poemão. mas neste, me chamou a atenção um dos trechos em que ele fala das "cinco raças" de mortais criadas por zeus. De ouro, de prata, de bronze, de heróis e de ferro, à medida em que vão decrescendo em termos de perfeição, os graus de selvageria e barbárie aumentam. algo na descrição me remeteu de leve a traços do zigurate, do meu amigo max mallman.
para hesíodo, somos da raça do ferro, dos quais transcrevo o fragmento. atentem para a atualidade do caboclo, que provavelmente entre o fim do século VIII e o início de VII a. C. (!), já havia matado a xarada da civilização ocidental que o sucederia em até quase três milênios.
Raça de Ferro
Antes não estivesse eu entre os homens da quinta raça,
mais cedo tivesse morrido ou nascido depois.
Pois agora é a raça de ferro, e nunca durante o dia
cessarão de labutar e penar e nem à noite de se
destruir; e árduas angústias os deuses lhe darão.
Entretanto a esses males bens estarão misturados.
Também esta raça de homens mortais Zeus destruirá,
no momento em que nascerem com têmporas encanecidas.
Nem pais a filhos se assemelhará, nem filhos a pai; nem hóspedes a
hospedeiro ou companheiro a companheiro,
e nem irmão a irmão caro será, como já havia sido;
vão desonrar os pais tão logo estes envelheçam
e vão censurá-los, com duras palavras insultando-os;
cruéis; sem conhecer o olhar dos deuses e sem poder
retribuir aos velhos pais os alimentos;
[com a lei nas mãos, um do outro saqueará a cidade]
graça alguma haverá a quem jura bem, nem ao justo
nem ao bom; honrar-se-á muito mais ao malfeitor e ao
homem desmedido; com justiça na mão, respeito não
haverá; o covarde ao mais viril lesará com
tortas palavras falando e sobre elas jurará.
A todos os homens miseráveis a inveja acompanhará,
ela, malsonante, malevolente, maliciosa ao olhar.
Então, ao Olimpo, da terra de amplos caminhos,
com os belos corpos envoltos em alvos véus,
à tribo dos imortais irão, abandonando os homens,
Respeito e Retribuição; e tristes pesares vão deixar
aos homens mortais. Contra o mal força não haverá!
10 janeiro 2004
sergio kalili desce o pau
achei uma entrevista espetacular do sergio kalili no comunique-se.
o sujeito ficou mais de dois meses cobrindo a guerra do iraque, e foi o único brasileiro a presenciar o terremoto de bam. na entrevista, ele detona o mito da imparcialidade jornalística e fala dos abusos cometidos pelos americanos, que estão prendendo jornalistas iraquianos a rodo. a seguir, dois trechinhos pinçados a dedo.
"(...) é uma mentira isso, a mentira da imparcialidade. Você vai ouvir o outro lado só para disfarçar a sua opinião. Você sempre vai reforçar mais um dos lados. Até a ordem em que você coloca as declarações dos dois lados. O tempo todo você vai jogar, editar, colocar uma versão da história".
"Os jornalistas iraquianos que estão lá trabalhando são presos direto e somem. As tropas americanas prendem os caras e somem com eles. As famílias não sabem onde eles vão parar, as empresas... Eles denunciam algumas coisas, os caras pegam e somem com eles. Eles são iraquianos.
Link SP- Prendem por quê?
SK- Porque o cara vai lá e escreve uma matéria dizendo que as tropas americanas mataram tantos jovens que estavam protestando num bairro de Bagdá chamado Aadhamyia, onde eles são antiamericanos, são anticoalizão. Fecharam jornais iraquianos. Depois que os americanos dominaram o país, abriram mais de 150 jornais. Muitos que fazem oposição foram fechados pelos americanos. Eles censuraram, fecharam jornal. Ninguém fala isso.
Ser iraquiano no Iraque hoje em dia é não ser cidadão. É melhor ser estrangeiro, americano. Ou você [iraquiano] é colaborador deles, e aí eles te dão uma força. Por que a imprensa internacional não fala nada?"
vá logo, antes que tirem do ar!
09 janeiro 2004
da série "frases inspiradoras"
"Apesar de não ter nada, ele tinha a si mesmo. E a partir do momento que se tem a si mesmo, se tem tudo".
- josé mojica marins, o zé do caixão, sobre o também cineasta rogério sganzarela, que partiu pra terra do pé-junto hoje (sexta-feira), com 57 cajus.
balancete de 2004
há nove dias em 2004, segue um breve relatório do que já aconteceu esse ano:
- desde a primeira madrugada do ano, estou trocando de pele, depois de cinco horas ininterruptas debaixo de sol (sendo que antes disso, o último encontro entre mim e o astro-rei havia sido há mais de seis meses);
- graças à minha síndrome de jerry lewis, ostento arranhões e machucaduras diversos;
- pintou um trabalho de pintura pra teatro;
- a assessoria arrebanhou novo cliente;
- conheci uma menina espetacular;
- comprei dois cds (john coltrane e ella fitzgerald) na banca por R$ 4,00;
- engordei alguma coisa durante as festas;
-ontem dormi decentemente pela rimeira vez no ano;
- não consegui ler nada ainda;
- mestrado, por enquanto, nem pensar (vergonha!).
e por aí vai. ainda aguardo o que me prometeram na musiquinha, "muito dinheiro no bolso/saúde pra dar e vender"...
08 janeiro 2004
o sueco e o italiano
hoje li duas entrevistas impactantes: lars grael na veja e diogo mainardi na trip.
grael - "A vida é uma questão de parâmetros".
mainardi - "Sou bidimensional, não tenho profundidade psicológica, ninguém consegue me atingir. Tenho um aparato psicológico pobre, não dá para me colocar num estado de exaltação ou de depressão".
vai lá, pô!
millôr de verdade
na época da bolha da internet, quando eu trabalhava num sáite, volta e meia recebia uns textos supostamente assinados por celebridades nacionais, de pena & traço. mas uma leitura um tiquinho mais atenta denunciava rapidinho que os autores não eram os próprios signatários. alguém com um conhecimento mínimo - nem digo da obra, mas da pessoa - de mário quintana acharia realmente que ele usaria uma expressão que se assemelhasse a "corpos sarados"?
ou que o ziraldo abriria mão de sua sutileza mineira para divulgar pela internet um panfleto recheado de palavrões, explicando a razão pela qual não economizaria energia durante o apagão? ah, tem também o caso clássico do suposto poema sentimentalóide do borges, que chegou até a ser utilizado num reclame (alguém se lembra dessa palavra?) de tv. o caso depois virou até notícia de jornal.
é interessante analisar essa inversão estabelecida pelo advento da internet, no que diz respeito à originalidade de uma idéia. antes, a autoria de qualquer boa idéia ou declaração inteligente era disputada a tapa. depois da internet, o volume de informação que se recebe no dia-a-dia é tão grande que, para merecer a atenção do destinatário, ela tem que conter algo de extraordinário imediatamente identificável. para isso, as pessoas camuflam suas próprias idéias sob a chancela de um nome famoso. daí os títulos dos imeios serem sempre "poema de fernando pessoa", "texto do ziraldo - leia", ou coisa que o valha.
esse narigão de cera tem dois motivos: primeiro, porque até hoje esses textos às vezes vêm bater à minha caixa postal, ou alguém vem citá-los, cheio de erudição. e dá um trabalhão desmenti-los. o outro (e real) motivo é porque li uma das famosas "fábulas fabulosas" do millôr, em seu sáite, que me deu vontade de reproduzir. e para que não reste dúvidas quanto à sua autenticidade, eis o link.
O milagre econômico. (à maneira dos... persas)
Um mendigo surdo-mudo entrou num botequim e, com gestos fortes e significativos, pediu esmolas. Os fregueses, irritados em sua generosidade, recusaram. O mendigo ficou insistindo de mesa em mesa, até que o dono do botequim enxotou-o dali. O mendigo continuou pela rua afora, pedindo a todos os passantes do mesmo jeito. Uma hora depois, voltou, sentou com espalhafato numa mesa do botequim e gritou, para que todos ouvissem:
- Uma Brahma estupidamente!
O garçom trouxe a Brahma correndo, abriu e disse:
- Ué, como é? Você não era surdo-mudo? Ficou bom de repente?
E o mendigo respondeu:
- Que adianta a gente falar, quando não tem o puto de um níquel pra pedir uma Brahma?
MORAL: O DINHEIRO FALA MAIS ALTO.
07 janeiro 2004
às vezes elas voltam...
cenas recentes. sempre com um quê de constrangimento.
cena 1: festa. na sala, duas mulheres. uma, há muito tempo. uma combinação de tranqüilidade e delicadeza talvez desconcertantes demais para a minha ansiedade. paralisia total. medo. não durou. a outra, algum tempo atrás. como um trapo emocional, sou colhido, as feridas tratadas, o ego afagado. amado. idolatrado. salvem-me, salvem-me. sufocado, escapo pela tangente. soube por aí que ambas andaram falando mal de mim. aguardo na cozinha até que a multidão de convidados me tornem invisível.
cena 2: festa. terraço. primeira: uma aposta recente, de várias fichas, que resolveu voltar atrás para o antigo proprietário. sem maiores dores e feridas. limpo. segunda: um encontro inconseqüente, mas muito prazeroso. sem maiores alongamentos, embora alguma expectativa rondasse a outra parte. terceira: uma possível futura conquista, ávida. com o timing, entretanto, defasado em alguns dias. pena. nenhuma das três agraciadas, mas até a situação chegar a termo, o livre circular esteve algo prejudicado. prefiro acreditar que, até agora, ninguém fala mal de mim.
fim de episódios? difícil, pela certeza de que amigos comuns me presentearão com a visão de um passado recente aparentemente bem superado. e por melhor que a coisa esteja, é sempre chato ver que seu tempo passou e sua presença não é mais necessária. fatos da vida...
por essas e outras é que ando cansado de topar com esqueletos saídos do armário. esqueletos, é bom que se diga, descarnados pela minha completa ausência de tato e etiqueta sentimental. canso-me, fico ansioso; o passado volta e, com ele, uma certa culpa injustificada e desnecessária. culpa o cacete! tô fora.
tenho buscado contornar a situação com um esforço combinado de atenção, paciência e observação. mas não sei cafajestar. não sei não ligar depois. tampouco sei estabelecer os limites entre envolvimento e curtição. é este o ponto em que troco os pés pelas mãos; onde o caldo entorna e eu me queimo.
procuro familiaridade e disparo no coração. corpo sem cabeça é conjunto vazio; o ideal é a interseção dos elementos. menos do que isso, dispenso. faço o possível para me manter atual. a meu favor, cada vez menos estereótipos.
a seguir, cenas dos próximos capítulos. veremos.
03 janeiro 2004
açúcar marrão é bão!
meninas e meninos, acabei de baixar brown sugar também. diz-se por aí que essa era a gíria pra heroína, na época. bem, a letra é cheia de safadeza, e quem, como eu, achava que misturar-se com as negrinhas era coisa de portuga, percebe que o esporte também era muito apreciado lá pelas bandas de nova orleãs.
de qualquer maneira, ficam escritos na minha carne os versos desse começo de 2004:
brown sugar, how come you taste so good?
brown sugar, just like a young girl should
e salvem gilberto feyre e jorge amado, que já sabiam muito antes...e em português!
isso são horas?
porra, depois de três dias, o caboclo escrevedor tem que baixar logo agora, uma e tal da matina, eu cheio de sono, querendo dormir? tá direito um troço desses?
não, não e não! amanhã conto da festa. amanhã, sim, porque só é amanhã depois que eu acordo.
igual ao problema de "bom-dia-boa-tarde". quem é que nunca chegou num lugar - um elevador, por exemplo - deu bom-dia e teve que ouvir a correção "boa-tarde"? (em frases desse tipo invejo os espanhóis, que colocam logo um ponto de interrogação de cabeça pra baixo no início, para avisar logo de sua natureza interrogativa.)
até o dia em que fui mal-criado:
- boa tarde, não. bom dia, porque eu ainda não almocei. o senhor já? então é bom-dia mesmo. boa-tarde só depois do almoço - reagi.
minha vida mudou desde então. eis meu testemunho de fé.
ponto final em 2003
sabe essas músicas que você passa a vida inteira escutando sem nunca prestar atenção à letra? pois bem, baixei hoje angie, dos stones, e qual não foi a surpresa quando mais não digo. quem sabe, sabe, quem não sabe, bobeou. leiam e julguem por si mesmos, condenem, executem, esquartejem, salguem o terreno e cuspam em cima, ou calem-se para sempre.
pensando melhor, apenas calem-se para sempre...
Angie
Angie, Angie, when will those clouds all disappear?
Angie, Angie, where will it lead us from here?
With no loving in our souls and no money in our coats
You can't say we're satisfied
But Angie, Angie, you can't say we never tried
Angie, you're beautiful, but ain't it time we said good-bye?
Angie, I still love you, remember all those nights we cried?
All the dreams we held so close seemed to all go up in smoke
Let me whisper in your ear:
Angie, Angie, where will it lead us from here?
Oh, Angie, don't you weep, all your kisses still taste sweet
I hate that sadness in your eyes
But Angie, Angie, ain't it time we said good-bye?
With no loving in our souls and no money in our coats
You can't say we're satisfied
But Angie, I still love you, baby
Ev'rywhere I look I see your eyes
There ain't a woman that comes close to you
Come on Baby, dry your eyes
But Angie, Angie, ain't it good to be alive?
Angie, Angie, they can't say we never tried
...e a vida segue plena de alegria.
happy new year's eve...brussel!
esse foi o título do post que tentei publicar no dia 31, e que por uma goiaba inexplicável, foi perdido sem chance de apelação. o título, pra quem é mais lento ou está desatento, é uma brincadeira com a canção do jorge ben + caetano veloso.
era mais ou menos sobre a arbitrariedade da comemoração, que por mais que haja gente envolvida, não passa, a frio, de uma troca de folhinha. a prova é que chineses, árabes e judeus (os irmãos brigões) contam do tempo de outra maneira, e todos ficam contentes.
e que se a gente fosse seguir a lógica da renovação, teríamos que comemorar o início de cada novo mês, e aprofundando mais a matéria, de cada dia. e afinal, assim é que deveria ser, porque cada novo despertar sobre essa terra tão cheia de miséria e beleza só pode ser um milagre.
mas parece que muito pouca gente se toca disso. às vezes é preciso uma professora primária perder as pernas para lembrar-nos do óbvio ululante.
e aí eu seguia desejando uma boa virada de ânus para todos etc. e para compensar a grosseria, recuperava dois trechinhos do "agora é que são elas", do cachorro doido polaco paulo leminski, um livro relido ao acaso no dia. e que não tinha nada a ver com o assunto, mas também não importava, era só pra ver se ao menos transcrevendo, a fluência dele passava um tiquinho que fosse pra mim.
(há muito deixei de querer sê-lo, bem como ao nelson rodrigues, mas isso é um outro capítulo apócrifo da minha vida...)
ei-lo:
Com aquela cara de homem fingindo estar interessado no papo de uma mulher apenas porque está com vontade de comê-la, com aquela cara de mulher costurando e bordando pensamentos apenas porque está afim de ser comida por ele, cheguei, caprichei, relaxei, lembrei de tudo o que tinha aprendido em Kant e Hegel, repassei toda a teoria dos quanta, a morfologia dos contos de magia de Propp, o vôo do 14-bis, cheguei e não perdoei:
- Tem fogo?
(...)
Isso lá é jeito de se chegar numa dona, conversar com uma senhora, hein, seu isso e aquilo, que pensou ter atingido a sabedoria? Mulher tem que ser abordada com vinte e cinco canhões de bolha de sabão, princesa e flor do oriente, rosa de incenso, filé minhon da parte esquerda do meu cérebro, abre os braços, isto é, os pássaros, isto é, faça-se luz, paradise me now...