matsuo bashô é o maior poeta de haikais de todos os tempos. com a morte de seu mestre em 1667, o jovem bashô, com apenas 23 anos, se vê obrigado a tornar-se um ronin - um samurai sem mestre. como integrante de uma casta de guerreiros, ele tem direito de assumir funções administrativas em edo (antiga tóquio).
assim o faz durante um tempo, mas logo abandona tudo para dedicar-se a duas disciplinas, com o afinco e o rigor que caracterizavam um verdadeiro samurai: o estudo da cultura e da poesia chinesas, e a prática zen, num mosteiro dirigido pelo monge bucchô.
tudo isso está no livro vidas, da editora sulina, uma reunião de quatro personagens geniais biografados pelo cahorro louco paulo leminski: cruz e souza, jesus, trótski e bashô. o polaco curitibano era um poeta iluminado, faixa-preta de judô, bebum notório e gênio audidata. aprendeu a ler grego, latim, hebraico italiano e francês ainda jovem, quando estudou num internato beneditino, e desvendou o inglês e o japonês sozinho, para traduzir whitman, fante, ferlinghetti, john lennon, mishima e bashô. em vidas, há uma pequena história, bem ao estilo meio nonsense que o zen, sobre a iniciação do poeta:
Bucchô, do mosteiro de Kompanji, um monge de amplas leituras e profundas luzes, tornou-se professor de Bashô.
Indo ao templo de Chokeiji, em Fukagawa, perto de Edo, um dia, ele visitou o poeta, acompanhado por um homem chamado Rokusô Gohei.
Este, ao entrar no quintal da choça de Bashô, gritou:
- Como vai a Lei de Buda neste jardim quieto com suas árvores e ervas?
Bashô respondeu:
- Folhas grandes são grandes, folhas pequenas são folhas pequenas.
Bucchô, então, aparecendo, disse:
- De uns tempos pra cá, qual tem sido o seu empenho?
Bashô:
- A chuva em cima, a grama verde está fresca.
Então, Bucchô perguntou:
- O que é que era esta Lei de Buda, antes que a grama começasse a crescer?
Nesse momento, ouvindo o som de um sapo que pulava na lagoa, Bashô exclamou:
- O som do sapo saltando na água.
Buchô ficou cheio de admiração a esta resposta, considerando-a uma prova do estado de iluminação atingido por Bashô.
Deste momento, data esta microilíada zen, o mais célebre haikai, o mais lembrado poema da literatura japonesa, isto de Bashô:
a velha lagoa
o sapo salta
o som da água
28 fevereiro 2004
matsuo bashô, por leminski
27 fevereiro 2004
cruci-ficção
não resisti e tarrei o título de um dos manifestantes contrários ao filme do mel gibson, segundo matéria do globo. é genial.
parece que o filme é mesmo de mal-gosto, agressivo e com a sutileza de um ar-condicionado despencando de um edifício em chamas. agora me digam, alguém achou que ia sair algo diferente da cachola do mad max? alguém pensou que ia ver um "evangelho segundo mateus", do pasolini? (esse sim, um filmaço.)
mesmo com toda a celeuma, o mel gibson deve estar rindo de orelha a orelha. afinal, só na estréia, o filme já contabilizou 20 mil capilés (dois terços do que custou). podem falar mal de mim, desde que me forrem de verdinhas; ok, man?
para terminar, o globo publicou um ótimo artigo do new york times. é longo, mas reproduzo porque pode sair do ar.
Uma superprodução com pecados cinematográficos
A. O. Scott
Do New York Times
Num profético episódio de “Os Simpsons”, o convidado especial Mel Gibson, dirigindo e estrelando um remake de “A mulher faz o homem”, pede ajuda a Homer Simpson, que representaria o gosto (ou falta de) popular. Homer convence Gibson a mudar o final, trocando o discurso de James Stewart por um tiroteio que deixa os corredores do Congresso cheios de cadáveres. A platéia sai do cinema enojada. Pensei muito nisso ao ver como Gibson conduziu o lançamento de seu “A Paixão de Cristo” (não, ele não mudou o final, Cristo ainda é crucificado).
Este é um filme tão voltado para a selvageria das horas finais de Cristo que parece ser mais fruto de ira que de amor. Funciona mais para agredir o espírito que para elevá-lo. É enervante, doloroso e, no fim das contas, depressivo, pois é triste ver um filme feito com tão evidente convicção religiosa e tão desprovido da graça cristã.
Esqueça o tom de homilia dominical de antigos filmes americanos sobre o tema: a hora final de “A Paixão de Cristo” consiste basicamente num homem sendo espancado, torturado e morto com requinte de detalhes. Depois de aprisionado e algemado, Cristo (Jim Caviezel) é chutado e sistematicamente chicoteado, primeiro com bastões duros e depois com chicotes de couro com pedras afiadas e cacos de vidro nas pontas. Quando lhe são colocadas a coroa de espinhos na cabeça e a cruz nos ombros, ele virou uma massa de carne ensangüentada, incapaz de ficar em pé direito, gritando e gemendo de dor.
Esfregando nossa cara na dura realidade da morte de Cristo, o filme procura tornar literais acontecimentos que tendemos a imaginar quase que de forma abstrata. Olhe, insiste o filme, quando dizemos que ele morreu pelos nossos pecados, é isso o que queremos dizer. E o espectador, o cristão em especial, é aprisionado num paradoxo sadomasoquista. Por instinto, quer que a carnificina pare; mas, se ela parar, a história não termina e a dádiva da Redenção é recusada.
O paradoxo de desejar que algo horrível pare ao mesmo tempo que você quer que continue tem tanto a ver com teologia quanto com a experiência de se ver um filme. Gibson, intencionalmente ou não, explora a sede de sangue do povo em nome do que considera uma causa nobre, usando meios que em nada diferem dos utilizados por virtuoses do cinema-de-choque como Quentin Tarantino e Gaspar Noé (que submeteu Monica Bellucci, Maria Madalena neste filme, a uma cena de estupro revoltante em “Irreversível”). Gibson é um cineasta formalmente mais conservador, mas conhece a violência tão bem quanto os dois.
Desde que lançou o projeto, o diretor enfatiza sua vontade de fazer este filme o mais realista possível. Assim, os diálogos são em aramaico e num dialeto do latim. A ausência de astros de cinema (à exceção de Monica Bellucci, sempre discreta) adiciona um elemento a mais de verossimilhança. Mas o estilo e o tom do filme estão bem longe do que se convencionou chamar de realismo. A primeira parte, que se passa à noite, tem clima de filme de horror. Enquanto Cristo reza nos jardins do Getsêmani, a câmera se esgueira por trás dele como se estivesse de tocaia. A trilha de John Debney é um grandiloqüente espetáculo macabro de subtons orquestrais ameaçadores e intervenções de coral de arrepiar a espinha. Satã (vivido por Rosalinda Celentano) parece saído de um pesadelo de Wes Craven; Judas, após a traição, é ameaçado por crianças demoníacas.
Os efeitos visuais e auditivos também não são nem um pouco sutis. Os 30 dinheiros de Judas voam em câmera lenta. Quando o primeiro prego perfura a mão de Cristo, é com um ruído que deve ter levado horas de mixagem de efeitos. Os personagens, à exceção de Pôncio Pilatos e sua esposa, são unidimensionais.
Acusações de anti-semitismo, no fim das contas, não têm tanto fundamento
E aí, o filme é anti-semita? Aos meus olhos não pareceu, mas espectadores mais sensíveis poderão discordar. Certamente os fariseus são mostrados como um grupo sinistro e desumano, e a turba que comandam é raivosa. Mas nada disso nunca parece ir além do que está na fonte. O diálogo da já famosa cena cortada, “O sangue dele estará em nós e nos nossos filhos”, está no Livro de Mateus e só um revisionista para querer remover todo e qualquer traço de intolerância e controvérsia numa história localizada bem na fronteira teológica que separa o cristianismo do judaísmo. Pena que Gibson não tenha procurado transcender tais divisões, mas o que realmente fere o filme é sua inabilidade em se articular além dos limites da narrativa cinematográfica mais convencional.
Em muitos filmes (e em muitos filmes de Mel Gibson), a violência contra inocentes clama por vingança no terceiro ato, expectativa que ele, aqui, cria e não satisfaz. Em si, para além de quaisquer acepções da cabeça de espectadores, o filme não esclarece por que tanta carnificina. A Bíblia sugere que o perdão dos pecados é o sentido. Mas talvez Gibson ache que seu público prefere horror e sangue. Vai ver Homer Simpson estava certo.
i shall prevail! (ai chelpa e veio!)
só para deixar registrado: nem tudo está perdido. o jogo só termina quando acaba. mas vai depender de um esforço cabuloso, se eu quiser que o título se confirme.
não importa que não tenha muito mais do que minhas parcas esperanças, o sentimento do mundo nas mãos e o suco gástrico borbulhando a ponto de causar um estrago; o i-ching deu hexagrama 64, com a segunda e quinta linhas saturadas.
pra meio entendedor...é isso mesmo. estamos conversados.
...e com o perdão da má palavra: medo é o caralho! sangue caeté, xará!
o eu velho de guerra é quem está no controle agora. a borduna vai cantar! e feio!
26 fevereiro 2004
minha vida enquanto seriado de tv
estava lendo uma reportagem sobre o excesso de reality shows que vêm tomando conta do mundo.
e pensei que talvez esteja marcando bobeira. poderia estar faturando com a venda dos direitos autorais da minha vida para um seriado de tv. aí vai um resumo:
assessor de imprensa part-time (e a outra part desempregado), vai morar com um casal de amigos roteiristas alucinados num bairro transadinho da zona sul carioca. enquanto tenta acabar uma dissertação de mestrado que ele nunca realmente começou, vai vivendo suas aventuras de balzaco boa-pinta. ele se mete em mil trapalhadas, como pegar trabalhos free-lancers que nunca lhe pagam, ou tentar engajar-se em namoros enrolados. o tom cômico fica por conta do dia-a-dia com seus bem-humorados amigos de casa, ou quando ele se encontra com outros amigos, e esporadicamente entorna algumas, faz palhaçadas e discute cinema, artes, política e, claro, mulheres.
(podemos dar destaque para quando ele tenta tocar caixa num bloco de carnaval, ou quando finge ser cego de um olho para desarmar a empáfia de um valentão, durante um show de forró, ou quando tem seus sapatos roubados numa oficina de teatro alternativo.)
o público infantil vai se deliciar nos episódios em que os dois filhos pequenos do seu homemate (existe isso?) vêm passar o fim-de-semana. eles brincam de desenhar, de pancadaria, de tocar berimbau, de cantar marchinhas e músicas escatológicas, e nosso herói se transforma em dinossauro, para o assombro da petizada.
outro ponto forte para realçar o caráter do protagonista e conquistar o público feminino, é mostrar sua relação com a família, quando ele visita sua mãe-garotona. aí ele e sua irmã mais nova trocam confidências, filosofam sobre a vida e sacaneiam programas de televisão. sua mãe cura-lhe as feridas, dá-lhe carinho, e fala sobre as mil atividades que vêm desenvolvendo. às vezes aparece o namorado da mãe, com quem o protagonista conversa sobre jazz, e com quem faz sessões de piadas.
o pai do protagonista é outro reforço da série. ele mora no maranhão, mas vem ao rio a trabalho ou de férias. as diferenças de temperamento e visão de mundo dos dois podem render bons momentos cômicos.
não é legal? um programa para todas as idades.
acho que poderíamos botar o murilo benício fazendo o papel principal (se a sony comprar, entra o robert downey jr.), e a patrícia perrone (sumiu ela, né?) para ser a ex-namorada que virou amiga - esqueci de citar na sinopse, mas ela é uma espécie de contraponto do protagonista. o fernando meirelles ou o waltinho salles podiam dirigir, mas a fotografia seria do walter carvalho.
pronto, formou.
25 fevereiro 2004
a ignorância é opcional
há pouco tempo, bostejei algo sobre os textos toscos que mandam por imeio, com a suposta autoria de algum escritor ou poeta. pois bem, acabaram de me mandar um texto aparentemente do drummond, que apesar de bacaninha, depunha sem piedade contra o poeta.
(quem estiver curioso faça uma pesquisa no google com "drummond", "sofrimento" e "opcional", que ele vai pipocar aos montes. não quero tomar parte nisso.)
num dos sites tinha uma informação estranha, dizendo que o texto era, na verdade de emílio moura, um "amigo do poeta". continuei encafifado, e catei uma antologia de verso e prosa do itabirano que tem aqui em casa (aquelas de capa dura verde). voilá! emílio moura realmente existiu e foi resenhado por drummond. nascido em dores do indaiá (MG) em 1902, morreu em belzonte, em 1971, e era identificado com a segunda fase de poetas modernistas.
mas, cacete! um cara que escreve coisas com as que eu li aqui e aqui, jamais assinaria um troço que diz "O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana", ou "Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada". a menos que tenha sido vítima de um processo feroz de emburrecimento. ou que tenha sido feito por um homônimo - o que não está nem perto de ser uma solução.
além do mais, identificar o cara, por mais desconhecido que seja, como simplesmente "amigo do drummond", é sacanagem e má-fé.
só para terminar, vou bostejar uma poesia da lavra do autor. dedico a ela...
Poema
Renasces em ti mesma e por ti mesma.
Movimentas o sonho, a poesia e as aventuras imprevisíveis.
O imponderável é a tua matéria.
A poesia só me visita para que te realizes,
para que eu te sinta e te compreenda.
Que caminhos te prendem,
que ignotas rotas te iluminam?
Uma rosa se forma entre o teu sorriso e a aurora.
De repente,
tudo se torna tão irreal
que te sinto visível.
viva a tijuca!
calma, amigos! não virei casaca. nasci na tijuca, e lá morei até os seis anos, mas a única coisa que me liga a ela é uma certa masculinidade repelente, e um respeito injustificado a certos valores éticos. como costumo dizer, você sai da tijuca, mas a tijuca não sai de você. mas ao contrário dos tijucanos, sou debochado, não respeito nem a luta, e sou devoto de nelson rodrigues - que foi excomungado pelo bairro. se ainda estivesse vivo, uma ida do escritor àquelas paragens lhe renderia uma surra de pau como não dariam em uma ratazana prenhe.
estou falando da unidos da tijuca, a única escola que realmente trouxe algo de criatividade ao desfile desse ano. os frankstein, os bailarinos dna, a comissão de frente giratória e o cérebro da bateria se abrindo para deixar escapar bolas de gás coloridas (ok, o efeito não foi 100%, mas a intenção valeu).
pena que a caprichosos não desceu. xuxa, além de baixo-astral, mostrou que é pé-frio.
sobre o filme da paixão de cristo
quero ver o novo filme de mel "maquina mortífera" gibson. não sou religioso (às vezes desconfio da existência de deus), mas sou interessado em assuntos místicos. e atraem as polêmicas, mesmo que burras, como a que envolve o filme.
não sou um expert em assuntos histórico-religiosos, mas qualquer cachorro sarnento de rua sabe que foram raríssimos os períodos em que estado e religião não negociaram uma divisão de poder. na judéia não foi diferente. tinha-se lá uma representação oficial de roma, que permitia a liberdade de culto, desde que os sacerdotes mantivessem o cabresto no povo, em nome da pax romana.
aí veio jesus e bagunçou tudo. enfureceu os fariseus porque, entre outras coisas, não respeitava o shabbat, e os romanos, porque reunia a massa com um papo esquisitíssimo de estabelecer "um reino de meu pai", e por conta do "a césar o que é de césar e a deus o que é de deus". ponto parágrafo.
já se passaram dois mil anos, e neguinho continha discutindo quem crucificou o caboclo. se o cara incomodava todo mundo! a única coisa que o estado fez foi utilizar sua máquina de coerção para "corrigir um erro na matrix", já que sua única função é perpetuar-se eternamente no poder (e isso não sou eu que estou dizendo, é clastres, é foucault, é deleuze, é guattari).
que me perdoem os intelectuais judeus que estão fulos por causa do filme, mas ficar empombando com isso parece coisa de menino que recebe apelido na escola. quanto mais o cara se chatear, mas vão encarnar nele. relaxa, gente! chega de ser vidraça do mundo. vocês encararam o pão que o diabo amassou durante toda a sua história, mas não existe preço a pagar por ser o "povo escolhido", como não existe pecado original (não sirvo de exemplo pra nada, mas não admito que me queiram imputar o peso de uma maçã consumida há sei lá quantos séculos).
vocês são lindos, sua história é riquíssima, seus rituais são fantásticos, produziram e produzem grandes gênios (e um dos maiores amores da minha vida), têm um humor refinadíssimo, sobreviveram a todo tipo de perseguição - tá na hora de vocês curtirem um pouco a vida.
...
só espero que ninguém me cruci...ops!, pegue no meu pé por causa desse texto.
"incompreensível para as massas"
assim as cabeças coroadas do partido definiram a obra do poeta maiakovski, após a revolução bolchevique. mas como burocracia e burrice não rimam com genialidade, ao "gigante com voz de trovão", restou apenas meter um balaço no peito.
...
mas não era nada disso que eu queria dizer, minha intenção era comentar sobre a notícia que li no uol, de que Carlinhos Brown é detido pela PM em Salvador. o genro de chico buarque teria entrado num bate-boca com os homi, ao tentar liberar um dos seguranças de seu bloco. diz que o insubordinado compositor até passou mal. a notícia termina assim:
Restabelecido, cantou o Hino Nacional, fez várias reverências aos orixás, cantou outras músicas e deixou a cena.
eu acrescentaria: "mas como de costume, ninguém da platéia entendeu nada".
journey - don't stop believing
antes de dormir, não sei porque cargas d'água, me veio uma música na cabeça: don't stop believing, do journey. o grupinho era farofa, farofa, mas fez lá seu sucesso nos primóridos dos anos 80. aqui no brasil, a música virou trilha de comercial do cigarro hollywood (os mais velhos hão de se lembrar), pra mostrar que não era pouca coisa. eu, como qualquer moleque que cresceu querendo ter a disney no quintal de casa (e ter casa e, principalmente, ter quintal), era amarradão.
lá fora virou jogo de atari. aliás, no meu aniversário de 11 anos, num longínquo 1984, nos estados zunidos, o jogo que veio de brinde com o videogame que ganhei foi justamente journey escape. e a trilha do troço, claro, era don't stop believing.
o joguinho era de enlouquecer. um integrante do grupo tinha que chegar na nave que o levaria pra fora do show. mas para conseguir isso era preciso driblar uma série de pentelhos (groupies, promoters, fotógrafos e alambrados), que viam descendo na vertical. ele só podia contar com duas ajudas: o roadie, que deixava passar por cima da galera por algum tempo, e o mighty manager da banda, que liberava o caminho geral. mas tinha o risco de o tempo acabar antes, ou a nave passar batida direto pelos cantos da tela e você não conseguir pegá-la. era maneiro. mas pensando bem, na época eu sequer fazia idéia do que era um roadie...
ouvi a música agora umas quatro vezes, direto. boa farofa, muito boa.
ah, achei umas fotos deles, em ordem cronológica decrescente. uma vez farofeiro, sempre farofeiro. mesmo se vestindo de preto, etc., a cafonice é indelével (aliás, matrix que me perdoe, mas se vestir todo de couro preto é meio cafona, não?). parecem o "roupa nova", ou aquele grupo que cantava "venenóóóóósa, ê-ê-ê-ê-ê, erva venenosa....".
se você sobreviver, desça a página para sacar o náipe dos caras no auge do sucesso...
...
vai dormir, moleque!
24 fevereiro 2004
outro livro tombado
tenho as mãos trêmulas: acabei de ler mais um livro. em vez de trabalhar, leio. enquanto isso, a areia escorre da ampulheta, e a corda aperta em torno do pescoço.
the difference engine, do bruce sterling e william gibson, parte do princípio que charles babbage realmente conseguiu construir a sua "máquina de diferença", e a inglaterra vive, em pleno século 18, não apenas a revolução industrial, mas a própria revolução da informação - movida a vapor!
a difference engine era, na verdade, uma monstruosidade capaz de executar diversos cáculos polinomiais (o que quer que isso signifique) com até 20 casas decimais, ao mesmo tempo. mas por falta de tecnologia apropriada na época, a máquina nunca foi construída, e babbage morreu falido e desacreditado. e ainda levou pro buraco sua fiel discípula, ada byron, filha do famoso lorde poeta. só em 1990, uns malucos ingleses resolveram montar a geringonça, segundo as instruções deixadas pelo seu criador. a bicha, ficou com mais de 4000 componentes, pesando três toneladas e com mais de três metros de largura por um e oitenta e tanto de altura. e funcionou como um violino, com precisão de até 31 dígitos. babbage estava certo. antes disso, porém, ele já havioa sido reabilitado pelos primeiros informatas, sendo considerado o pai dos computadores, e ada, a primeira programadora, emprestando o nome para uma linguagem de computador, utilizada até no departamento de defesa estadunidense.
voltando ao livro, ludistas, clackers (os hackers de hoje), anarquistas, comunistas e o governo britânico, digladiam para tomar posse de uma descoberta casual de lady byron, que ela usa para pagar uma dívida de jogo: nada menos que o segredo da inteligência artificial. o problema é que você só fica sabendo disso no fim do livro.
pronto, estraguei a surpresa.
outra coisa divertida, e que só descobri escrevendo essas linhas, é que quase todos os personagens do livro realmente existiram. foi nesse guia-dicionário para o livro.
radiante!
hoje ela me leu. hoje ela me incentivou. hoje escrevi para ela. hoje estou feliz. agora, considerados, é esperar.
como na música dos mutantes (portugal de navio):
Enquanto o tempo está passando eu vou tentar parar e me acalmar
Você ainda não me viu de pijama sorrindo a brincar
Eu vou mudar, shalalalala
Eu vou te amar
de qualquer forma, é bom não esquecer o conselho dos mestres wilson das neves e paulo césar pinheiro (essa é pra quem bebe):
Pra quem sempre bebe muito
Mais devagar com esse andor,
Sobretudo quando o assunto
Geralmente envolve amor.
É melhor que tu não brinques
Porque o amor é enganador
Vale mais viver nos trinques
Beber os seus drinques
Ser mais moderador
...é o seguinte:
Well, God said to Abraham "Kill me a son"
Abe said "Man, you must be putting me on"
God said "No", Abe said "What?"
God said "You do what you want to, Abe but
The next time you see me coming, you'd better run"
Abe said "Where do you want this killing done?"
God said "Out on that Highway 61"
...
highway '61 revisited, do bode dylan, na voz, é claro, de pj harvey.
e por falar em pj harvey...
a primeira vez que a vi foi no book of life, do hal hartley. ela fazia a maria madalena, acompanhante de jesus na virada do milênio, quando ele voltava para decidir se abria ou não os selos do livro da vida, para detonar de vez a humanidade.
pelo que me lembro, ela não dizia uma palavra, mas que presença magnética! magrelinha ("o sol não adivinha"), franjinha na raiz da testa, cabelão preto desgrenhado, boca e nariz parecendo dois números maiores que o resto do rosto - pronto! rapidinho fiquei cativado. nos créditos, um nome que para mim dizia pouca coisa - pj harvey - polly jean, para os íntimos. sabia que era cantora e tal, mas só isso.
corri atrás de alguns discos, mas a tarefa foi inglória. na época, já existia o napster, mas eu era um "pereba" informático, e a riaa já estava caindo em cima do pobre do jordan ritter. depois, ficava morcegando os discos dela na saraiva, ouvindo as músicas aos pedacinhos. hoje tenho uma banda larga na vida, e baixo o que quiser. inclusive a bela e esquisita pj harvey.
uma provinha:
Angelene
My first name Angelene
Prettiest mess you've ever seen
Love for money is my sin
Any man calls, I'll let him in
Rose is my colour, and white
Pretty mouth and green my eyes
I see men come and go
But there'll be one who will collect my soul and come to me
Two-thousand miles away
He walks upon the coast
Two-thousand miles away
It lays open like a road
Dear God, life ain't kind
People getting born and dying
But I've heard there's joy untold
Lays on that open road in front of me
My first name is Angelene
estúpido cupido
decobri o que dá a mistura de alanis morissette com pj harvey, lavada de lua.
mal posso esperar o fim das torturas intelectuais...
19 fevereiro 2004
livros perdidos para mulheres
outro dia estava contabilizando: costumo emprestar livros para mulheres em que estou interessado, e acabo perdendo-os para sempre. e o pior é que não são livros banais - geralmente são edições difíceis de serem encontradas, e que, desconfio, elas sequer sabem dar-lhes o devido valor.
também já me interessei muitas vezes por mulheres qualquer-nota, não posso deixar de dizer. não que as descritas aqui sejam necessariamente assim. foi só uma constatação...
o primeiro livro perdido foi uma edição comemorativa do 1984, do george orwell, em inglês, impressa em 1984. emprestei para uma colega do bahiense, por quem eu estava perdidamente apaixonado. até poesia pra ela escrevi. hoje ela é uma atriz da globo, muito famosa, muito loura e muito siliconada. o livro não é romântico, mas expressava toda minha angústia de estar estudando num colégio de surfistas ricos, onde por uma dessas ironias da vida, acabei virando uma espécie de consultor intelectual informal de um grupinho da turma. não peguei a mulher, e ainda por cima perdi o livro.
o segundo foi para uma menina com quem estava tendo um caso. ela tinha um namorado que estava morando nos estados unidos (com quem depois acabou se casando, e de quem está separada hoje). passamos seis meses namorando escondido dos amigos dela, varando noites bebendo e trepando. emprestei-lhe o noites florentinas, da marina tsvetaieva, uma poeta russa da época da revolução bolchevique. leitura intensa, febril, de uma mulher apaixonada e pouco compreendida no seu tempo. dizem que ela deixou um baú com escritos, que só poderia ser aberto depois do ano 2000, segundo ordem expressa em testamento. a data expirou, a imprensa não noticiou nada e não sei o que foi feito do baú - bem como do livro. era uma edição portuguesa, que eu dei uma sorte impressionante de achar na livraria do estação botafogo, junto com o diabo, livro de contos da mesma autora. até hoje, o diabo me olha inquisidoramente da prateleira, perguntando por seu amigo. posso até procurá-la, mas tantas vezes ela já mudou de casa desde então, que duvido que o livro não tenha se perdido.
depois teve um que tenho até vergonha de contar. uma amiga com quem estava tendo uns encontros fortuitos esporádicos - e por quem até hoje tenho um certo quebranto, apesar de ela ter voltado para o marido - mandou-me pelo correio um livro do frans masereel, passionate journey. uma história toda contada com xilogravuras, sem palavras. emprestei para uma conhecida de anos, com quem comecei a ter um rolo. tempos depois nos afastamos, pelo próprios rumos que a vida tomou. nos reencontramos há pouco tempo, ela está casada e com filhos - mas perguntarei sobre o livro qualquer dia desses.
o outro foi histórias de nasruddin, com estorinhas protagonizadas pelo personagem que personifica diversos ensinamentos sufi. emprestei numa noite de bebedeira para a namorada do irmão da menina que ficou com o livro do masereel (entenderam ou querem que eu explique de novo?). ele acabou o namoro, e a menina morava em brasília. pelo menos esse livro foi reeditado e é fácil de encontar.
e por último, tem o admirável mundo novo, do aldous huxley, com a descrição de futuro mais próxima do que estamos vivendo hoje. manipulação genética elevada a máxima potência, abolição das relações amorosas exclusivistas (todo mundo é de todo mundo), imediatismo absoluto na realização dos desejos, e implantação da estrutura da "civilização" (que ele chama de utopia) apenas em áreas economicamente viáveis. esse não sei para quem emprestei. já achei que foi para uma colega de mestrado, minha irmã ou um amigo meu. realmente o emprestei para minha colega, mas ela já mo devolveu. mas tanto minha irmã quanto meu amigo negam que eu os tenha emprestado. tem uma outra amiga, para quem eu poderia tê-lo emprestado, que também diz não saber de nada. não sei. é uma edição antiga, cuja tradução é muito melhor que essa nova da editora globo.
não sei. acho que tenho que ser menos empolgado das próximas vezes. já tive muito prejuízo para uma vida...
louie louie
richard berry é um daqueles caras que fez pelo menos uma grande coisa na vida. eles fez várias, na verdade, mas a que tornou mais conhecido foi a canção louie louie, o lado dois de you are my sunshine. até a sua morte, em 1995, tinham catalogado nada menos que mil versões gravadas!
suíngue do bom, com a malandragens e a cara-de-pau do puro rock de três acordes. uma das melhores versões é a debochada do dinossauro iggy pop. anárquica, paudurescente e de botar qualquer pista pra ferver. não sei o que fazem esses didjêis (além de ficar girando bolacha de vinil pra trás), porque em todas as minhas andanças pela náite, nunca a tinha ouvido. estou cada vez mais convencido de que esses caboclos ou não entendem nada de música, ou sofrem de mal-gosto congênito. nem só de sucessos da emetevê se faz uma noitada, rapaziada. isso aprendi quando parei de ouvir rádio e procurar novidades.
hoje não tenho angústia de ter que me atualizar a cada 24 horas, até porque 99% do que sai são cópias mal-feitas de coisas antigas, ou absolutamente iguais entre si. apenas míseros 1% tem realmente alguma novidade ou mistura bem ingredientes novos e velhos. e esses, mais cedo ou mais tarde, chegam a mim. não tenho pressa. com isso, ganhei tempo para pesquisar no baú de tesouros de antanho.
mas chega de papo-furado ranzinza. com vocês,
louie louie.
and now...the news:
louie louie
oh baby i gotta go now
louie louie
oh baby i really gotta go now
the communist world is fallin apart
the capitalists are just breakin hearts
money is the reason to be
it makes me just wanna sing louie louie
louie louie
oh baby i gotta go now
louie louie
oh baby i really gotta go now
a fine little girl is waitin for me
but i 'm as bent as dostoevsky
i think about the meaning of my life again
and i have to sing louie louie again
louie louie
oh baby i gotta go now
louie louie oh baby
i really gotta go now
let's give it to' em right now!
oh man, i dunno like...health insurance
the homeless and world peace
and aids and education ... i' m tryin to do right
but...hey
life after bush and gorbachev
the wall is down but something is lost
turn on the news it looks like a movie
it makes me wanna sing louie louie
louie louie
oh baby i gotta go now
louie louie oh baby
i really gotta go now
let's go
18 fevereiro 2004
duas canções
duas boas letras que encontrei porraí, ambas lindas. mas não quero dizer nada em especial com elas.
Lama
(Mauro Duarte)
Pelo curto tempo que você sumiu
Nota-se aparentemente que você subiu
Mas o que eu soube a seu respeito
Me entristeceu
Ouvi dizer
Que pra subir você desceu
Você desceu
Todo mundo quer subir
A concepção da vida admite
Ainda mais quando a subida
Tem o céu como limite
Por isso não adianta
Estar no mais alto degrau da fama
Com a moral
Toda enterrada na lama
...
Tango do Cretino
(Herivelto Martins / David Nasser)
No tempo em que eu a tinha nos meus braços,
Faminta de amor e de desejo,
Eu pensava em partir, ela chorava,
E eu lhe dava por esmola, mais um beijo.
Não me abandones nunca, ela pedia,
Sem o teu amor, não sou ninguém,
Suplicava que eu ficasse, e eu ficava,
Por piedade ou por fraqueza, não sei bem.
De joelhos, aos meus pés ela chorava,
Quando eu tentava partir, num outro ensejo,
E eu na minha vaidade de cretino,
Esbanjava por esmola, mais um beijo.
Um dia a encontrei tão diferente,
Um dia vi morrer o seu desejo,
Cretino, implorei covardemente,
Que me desse a esmola do seu beijo.
e o rei carmesim ficou vermelho
red, do king crimson é bão demais!
curtinho, enxuto e redondo. mas não é pra qualquer um. inclusive para mim, às vezes. sem mais.
"É no que não se vê que aparecem explicações para o que se vê"
ótima frase da antropóloga esther hamburger (não, não é minha parente) nesse artigo analisando o que se vê por trás do nacionalismo na TV.
muito revelador.
a propósito dessa notícia e dessa outra, ambas sobre o almoço dos cineastas com a toda-phoderosa da globo, dona marluce, onde foi discutido o incentivo estatal para a produção de conteúdo nacional.
16 fevereiro 2004
e o kiko?
sei que ninguém perguntou, e pra muita gente vou estar falando grego, mas evening star, do brian eno e robert fripp, é das melhores coisas que jé escutei para trabalhar. mansinho, meio new age, meio minimalista, gostoso à vera.
(música boa para escrever tem que preencher o espaço, colori-lo, mas não posso percebê-la, senão perco o fio da meada. sou cheio de merdinha...)
baixei também outro dia o arkangel, do john wetton. o cara é, na minha humilde opinião, o melhor vocalista do king crimson, mas mesmo com a presença de fodões como o fripp e o steve hackett, o disco é apenas simpático. não, minto, é bom, mas falta um pouco de tempero, de surpresa - e ele acaba naufragando no mar das intenções. não mereceu o espaço que ia ocupar no meu hd. o que é uma pena, certamente.
estou ficando tempo demais na frente do computador...
15 fevereiro 2004
alguém sabe como se faz um morrito?
até agora não consegui encontrar uma página que me explique decentemente como seprepara um morrito.
além de apurar que era a bebida preferida de hemingway em cuba, há controvérsias quanto à origen da tisana: uns dizem que é de cuba, outros que é mexicana (a rima foi intencional).
parece que a receita tradicional leva rum, hortelã e água com e sem gás e limão. mas meu amigo, dueño de fiesta del viernes, dijo que en méxico se lo hace también con jenjibre.
bom, pode-se dizer que bebi então um "morrito perestróika", porque ao invés de rum, foi vodca.
google e macca
caceta! chegaram aqui googando meu nome! estranho saber que tem gente porraí atrás de você.
mas geralmente nunca é uma mulher linda e interessante, são sempre uns barbados safados, meus credores ou detratores.
...
ninguém perguntou, mas venus and mars, do paul mccartney, é uma pequena jóia. não consigo parar de ouvir.
confesso que bebi
o tom da festa de sexta foi esse mesmo. entornei como há muito não fazia. por sorte, além de cerveja uísque morritos (esse eu não conhecia, fiquei fã), tomei dois engoves antes, e um depois. tranqüilo, e não acordei podre.
o hit da festa foi, casualmente, "eu bebo, sim". uma das músicas mais divertidas que conheço, e que resume perfeitamente o que foi a náite.
eu bebo sim
(luiz antônio - joão do violão)
eu bebo sim,
estou vivendo
tem gente que não bebe está morrendo
tem gente que não bebe
e já ta com o pé na cova
já bebeu e isso prova
que a bebida não faz mal
uma pro santo
desce o choro, a saideira
desce toda a prateleira
diz que a vida ta legal
tem gente que detesta o pileque
diz que é coisa de moleque
cafajeste ou coisa assim
mas essa gente
quando está com a cara cheia
vira chave de cadeia
esvazia o botequim
14 fevereiro 2004
é, meu velho, nós dois sabemos o que acontece quando as coisas ficam assim...
sexta à noite tinha uma festa de um amigo, aqui do lado de casa – que eu não podia recusar. e sabe como é, bebe-se e fuma-se. portanto, saí atrás dos pirulitos de câncer. ao chegar ao serafim, quem vejo numa das mesas, em companhia de dois amigos? tatipiv, pela primeira vez, não em pixels, mas em carne, sorriso e cabelos. fiquei pasmo de vê-la in loco.
mas, calma, marcelo, não há motivo ficar assim. tampouco para me apresentar, confessar-me leitor e possivelmente apaixonado. pedi um chope para fazer cera e poder admirá-la, daquela perspectiva enviesada. é claro que ela sequer notou minha presença, entretida no papo com os amigos. mas fiquei lá, sorvendo com vagar o chope e os detalhes de sua arquitetura, o rosto, os alvos braços e os dedos dos pés nas sandálias pretas.
não falei com ela. se não a conheço além das descrições da internet...estarei obcecado? só sei que, assim que deixei o serafim, liguei para o dudu para dar-lhe as boas novas (boas para mim, bem entendido). para mim, a noite já estava ganha.
e o que posso dizer dela? o dia está nascendo, e ela é a música que as cigarras cantam na rua. a imagem dos pés calçados naquelas sandálias pretas é mais do que qualquer vislumbre que eu jamais possa ter tido do paraíso.
como diz o sting "i burn for you".
13 fevereiro 2004
a propósito do bom e velho otis redding
se tem algo de que me orgulho na vida, um gesto em direção ao próximo, uma realização que sei que vai permanecer, é ter feito minha irmã gostar de otis redding.
uma mudança há de vir
já tinha ouvido essa música em alguns filmes, mas não sabia nem seu nome. é daquelas que dão vontade de chorar de cara, mesmo que você não entenda porra nenhuma de inglês. aí, estou eu, inocentemente baixando umas músicas do otis redding, e descubro a change is gonna come, sem ter idéia do que seria. só o primeiro verso já dá um arrepio no espinhaço e um nó nas tripas. recomendo com ênfase. sem mais:
a change is gonna come
I was born by a river in this little old tent
Oh just like this river I've been running ever since
It's been a long long time coming
But I know a change is gonna come
Oh yes it is
Oh my!
It's been too hard living
And I'm afraid to die
Cause I don't know what's up there
Beyond the clouds
It's been a long long time coming
But I know a change is gonna come
Oh yes it is
Oh my
There's a time I would go to my brother
I asked my brother "will you help me please?"
He turned me down and then I ask my dear mother
I said "Mother! I'm down on my knees"
It's been a time that I thought
"Lord, this couldn't last for very long"
But somehow I thought I was still able to try to carry on
It's been a long, long time coming
But I know a change is gonna come
Oh yes it is
Just like I said, I went to my little bitty brother
I asked my brother "Brother help me please?"
He turned me down and then I go to my little mother
I said "Mother! I'm down on my knees"
But there was a time that I thought
"Lord, this couldn't last for very long"
But somehow I thought I was still able to try to carry on
It's been a long, long time coming
But I know a change is gonna come
Oh yes it will
...
quão apropriado.
12 fevereiro 2004
fluindo como água
li o capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio de um fôlego só. o velho buk está demais. e tanto falou na importância que a escrita teve para que ele continuasse a viver, e tanto exortou para que escrever seja um ato de entrega que envolva risco, que acho que fiquei influenciado. são mais de duas da manhã, e não há sono ou medo, só clareza e a certeza da completude. há muito tempo não me sinto tão feliz.
o texto flui das branquinhas com música, escorrendo como um manancial. é claro que o john coltrane, no disco que comprei há algumas semanas na banca, a R$ 4 pilas, deve ter sua parcela de incentivo (destaque para naima, obra-prima inquestionável. lírica, feroz e caótica, a um só tempo).
amanhã acendo uma vela (ou tomo um trago) em homenagem a são bukowski. ele merece, onde quer que ele esteja.
esse blogspot é uma merda!!!!!!
se eu não bostejar o texto rapidinho, essa buçanga transforma todos os acentos e cedilhas em merdas de pontos de interrogação. mas que sacoooooooooo!
estrabismo ou crise de identidade?
descobri que, assim como a déborah secco, pode ser que eu seja ligeiramente estrábico. estrabismo convergente, não metafórico, bem entendido. (aliás, acabei de ver no houaiss que estrábico e vesgo são sinônimos. sepultada uma dúvida ancestral).
foi vendo as fotos do reveillon no fotolog do cabeção (não consegui fazer o link pegar de jeito nenhum) que descobri que saí vesgo em TODAS as fotos. bizarro! será que sempre fui assim e nunca havia reparado? será que foi o álcool que me deixou daquele jeito?
outro dia, vinha sentado no ônibus atrás do trocador. nas costas dele, normalmente tem um anteparo com um vidro, bem na altura de quem tá sentado. é bom porque, se a viagem estiver chata, o sujeito pode dar uma de narciso, sem culpa de neguinho reparar.
assim estava eu, até que me lembrei de uma coisa que fazia bastante quando chegava bêbedo em casa, ainda com a minha mãe. sentava na frente do espelho e ficava me encarando, sem no entanto focalizar em nenhum ponto específico. o que acontecia era que, em pouco tempo, as feições embaçavam-se e o rosto dava a impressão de se modificar.
como o bumba passasse pelo aterro a uma velocidade constante, sem muitos sobressaltos, resolvi brincar disso para passar o tempo. e me concentrei, até que consegui. e durante quase um minuto, talvez, tive a impressão de que meu rosto ser aquele que tinha se formado, e não o que estava acostumado a ver. fiquei impressionadíssimo, e bolei uma teoria meio louca: se é tão comum as pessoas terem uma opinião completamente equivocada sobre si mesmos, porque não seriam capazes de criar mentalmente uma auto-imagem física? não é tão difícil quanto parece. ou não é o que acontece com anoréxicos e bulímicos - se verem jamantas, quando estão cambaxirras? e quanto ao som da voz gravada? quantas vezes você não estranhou o som de sua própria voz na secretária eletrônica ou num vídeo? por isso não acho tão absurdo que alguém, depois de 30 anos, se descubra vesgo...
fiz o teste, perguntando para o salsão, mas a resposta foi um tanto evasiva: "talvez, ligeiramente, mas de um olho só, sei lá...". lembrei que quando era moleque freqüentei durante um tempo um oftalmo. ia pra lá e fazia aqueles exercícios de olhar dentro de um aparelho e, com alavancas, colocar o leão dentro da gaiola. ou de tentar reproduzir um desenho refletido por um vidro espelhado, numa folha de papel do outro lado. exercícios de convergência? vou perguntar para a minha mãe, ela deve saber disso melhor...
o engraçado é que não estou puto em ser um possível vesgo. estou meio vidrado com a novidade. como quando descobri que talvez tivesse distúrbio de déficit de atenção (dda). é apenas mais uma característica, inconclusiva, que se soma à construção de minha confusa personalidade.
às vezes me acho um camarada bem estranho...
"como você veio parar aqui?"
engraçado, pela primeira vez vejo que esse nedstat (esse quadradinho azul aí abaixo dos archivos, pô) não serve apenas para marcar o total desprezo do público pelo meu blog. serve também para ver como tem maluco na rede, e como você pode chegar aos resultados de busca mais inusitados. teve neguinho que chegou aqui procurando, por exemplo
- borduna (ok, afinal é o nome dessa joça);
- maria zilda playboy (ou deve ser algum adolescente que a descobriu, ou algum coroa saudosista);
- criação de galinhas(alguém do interior de sampaulo, ou querendo montar um camarote no carnaval);
só fico pensando quando é comigo, as escatologias que não saem de resultados, hahaha!
11 fevereiro 2004
prespeiro
deu hoje no gente boa, do joaquim, no globo:
Pinto no lixo
Pérola do folclórico mau humor de Jamelão. O cantor Toni Garrido suplicava, anteontem, no Canecão: "Deixa eu beijar sua mão, mestre!"
Jamelão, tirando a mão fora:
"Beijar a mão pra quê?! Eu não sou pai-de-santo!"
por essas e outras é que eu me amarro no jamela.
gil scott-heron
gil scott-heron é negão e cantor de protesto dos mais tarimbados nos anos 60/70. acho que foi o pai do rap, mas não vi a certidão de nascimento; portanto, posso estar errado.
quase todos os filmes sobre as revoltas negras da época usam - aliás, com muita propriedade - sua música the revolution will not be televised.
de que me lembro agora, tem três: malcolm x, ali, e hurricane. fique com a letra:
The revolution will not be televised
You will not be able to stay home, brother.
You will not be able to plug in, turn on and drop out.
You will not be able to lose yourself on skag
And skip out for beer during commercials,
Because the revolution will not be televised.
The revolution will not be televised.
The revolution will not be brought to you by Xerox
In four parts without commercial interruption.
The revolution will not show you pictures of Nixon
Blowing a bugle and leading a charge by John Mitchell,
General Abrams and Spiro Agnew to eat hog maws
Confiscated from a Harlem sanctuary.
The revolution will not be televised.
The revolution will not be brought to you by the Schaefer Award Theatre
And will not star Natalie Wood and Steve McQueen
Or Bullwinkle and Julia.
The revolution will not give your mouth sex appeal.
The revolution will not get rid of the nubs.
The revolution will not make you look five pounds thinner, because
The revolution will not be televised, brother.
There will be no pictures of you and Willie Mays
Pushing that cart down the block on the dead run,
Or trying to slide that color television into a stolen ambulance.
NBC will not predict the winner at 8:32 or the report from 29 districts.
The revolution will not be televised.
There will be no pictures of pigs shooting down brothers in the instant replay.
There will be no pictures of pigs shooting down brothers in the instant replay.
There will be no pictures of young being run out of Harlem
On a rail with a brand new process.
There will be no slow motion or still life of Roy Wilkens
Strolling through Watts in a red, black and green liberation jumpsuit
That he had been saving for just the right occasion.
Green Acres, The Beverly Hillbillies, and Hooterville Junction
Will no longer be so damned relevant,
And women will not care if Dick finally gets down with Jane on Search for Tomorrow Because Black people will be in the street looking for a brighter day.
The revolution will not be televised.
There will be no highlights on the eleven o'clock news
And no pictures of hairy armed women liberationists
And Jackie Onassis blowing her nose.
The theme song will not be written by Jim Webb,
Francis Scott Key, nor sung by Glen Campbell, Tom Jones,
Johnny Cash, Englebert Humperdink, or the Rare Earth.
The revolution will not be televised.
The revolution will not be right back after a message about a white tornado,
White lightning, or white people.
You will not have to worry about a germ on your bedroom,
A tiger in your tank, or the giant in your toilet bowl.
The revolution will not go better with Coke.
The revolution will not fight the germs that cause bad breath.
The revolution WILL put you in the driver's seat.
The revolution will not be televised, will not be televised, will not be televised.
The revolution will be no re-run brothers;
The revolution will be live.
10 fevereiro 2004
maior stresser. ou será strasser?
eu tenho tesão na guta strasser. desde que a vi como virgem maria na montagem do auto da compadecida, pelos fudidos privilegiados, fiquei vidrado. outro dia, assistindo o vídeo show enquanto almoçava (sou viciado em comer assistindo tv), tive o prazer de descobrir que ela tem a perna pra trás. sabe quando a pessoa fica em pé, e a perna esticada faz uma curva para trás? pois é, acho um tesão. maravilha total, como diria o herbert vianna.
só tenho uma dúvida: ultimamente tenho lido seu nome grafado stresser em todos os lugares. feio, né? será que foi numerologia? ou deu um surto de apuração mal-feita nos coleguinhas?
respostas para esse endereço.
bukowski é o caralho!
hoje tive que resolver uma porrada de coisas lá pelas bandas do largo do machado. postei umas cartas, paguei o último dízimo que me ligava à gabriela, e aproveitei para ir às sendas (pensei que fosse mais barato. também, mais barato que o quê?).
na saída, tinha uma banca perto, com aquela gôndola giratória com livros de bolso da lpm. parei para dar uma bisoiada (já descobri pérolas, como o alberto vásquez-figueroa, do tuareg). achei um bukowski novo. o capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio. últimos escritos, em forma de diário, publicados postumamente, com ilustrações do crumb! saquei os 10 capilés e 50 sem titubear.
quem me apresentou ao velho safado foi meu irimão joânibus. (aliás, o título do bostejo vem de uma brincadeira particular nossa.) mas seu grande entusiasta sempre foi o paulito. ganhei dele notas de um velho safado, no último aniversário. aliás, outro dia ele me confessou que o único presente que dá para os amigos são livros do bukowski. quer espalhá-lo como a um vírus, suponho. (aliás, paulito sequer desconfia que o seu delírios cotidianos, ilustrado pelo mathias schultheiss, está até hoje comigo. devolver-lho-ei).
quem não o conhece acha que é literatura menor, coisa de doidão. mas o velho buk é um lírio nascido da merda. ao mesmo tempo que desenvolve uma reflexão transcedental, lasca uma metáfora escatológica do mais baixo nível. assim ele foi e sempre será. sem perdão. sem concessões.
do seu diário, faço questão de copiar um trecho.
29/08/91 - 22:55
Hoje, foi devagar no hipódromo. Minha maldita vida pendurada no gancho. Vou lá todos os dias. Não encontro ninguém lá, só os funcionários. Provavelmente, tenho alguma doença. Saroyan perdeu seu rabo no hipódromo, Fante, nas cartas, e Dostoievsky, na roleta. E realmente não é uma questão de dinheiro, a não ser que você fique duro. Eu tinha um amigo jogador que dizia: "Não me importo se perco ou se ganho, só quero apostar". Tenho mais respeito pelo dinheiro. Tive pouco na maior parte da minha vida. Sei o que é um banco de praça, e o proprietário bater na porta. Só existem duas coisas erradas com o dinheiro: quando é de mais ou de menos.
Acho que sempre arranjamos uma coisa para nos atormentar. E, no hipódromo você sente as outras pessoas, a escuridão desesperada, e como jogam e desistem com facilidade. A multidão do hipódromo é o mundo em tamanho menor, a vida lutando contra a morte e perdendo. No final, ninguém ganha, buscamos apenas uma prorrogação, um momento sem ser ofuscado. (Merda, a brasa do cigarro queimou um dos meus dedos enquanto estava meditando sobre essa falta de sentido. Isto me acordou, me tirou deste estado sartriano!) Diabos, precisamos de humor, precisamos rir. Eu costumava rir mais, eu costumava fazer tudo mais, exceto escrever. Hoje, escrevo, escrevo e escrevo, quanto mais velho fico, mais escrevo, dançando com a morte. E acho que a coisa está boa. Um dia dirão: "Bukowski está morto", e daí serei verdadeirammente descoberto e pendurado em fedorentos e brilhantes postes de luz. E daí? A imortalidade é uma estúpida invenção dos vivos. Você vê o que faz o hipódromo? Faz com que o texto flua. Relâmpagos e sorte. O último azulão cantando. Qualquer coisa que digo soa bem porque eu arrisco quando escrevo. Gente demais é cuidadosa demais. Estudam, ensinam e fracassam. A convenção apaga sua chama.
Me sinto melhor agora, aqui neste segundo andar com o meu Macintosh. Meu companheiro.
E Mahler está no rádio, desliza com tanta facilidade, arriscado muito, isso é necessário às vezes. Então, ele manda um daqueles trechos apoteóticos. Obrigado, Mahler, pego emprestado de você e nunca poderei pagar.
Fumo demais, bebo demais, mas não consigo escrever demais, o texto fica vindo e peço mais e chega e se mistura com Mahler. Às vezes, paro deliberadamente. Digo espere um pouco, vá dormir ou olhe seus nove gatos ou sente com a sua mulher no sofá. Você está no hipódromo ou com o Macintosh. E então paro, piso no freio, estaciono a maldita coisa. algumas pessoas escreveram que meus livros as ajudaram a seguir em frente. Me ajudaram também. Os livros, os cavalos, os nove gatos. Aqui, há uma pequena sacada, a porta está aberta e posso ver as luzes dos carros na Harbor Freeway sul, nunca param, o rolar das luzes sem parar. Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada.
Continue, Mahler! você fez com que esta fosse uma noite maravilhosa. Não pare, filho da puta! Não pare!
derradeira frase
sei que tem carradas de gentes que odeiam o jabor. eu mesmo não sou dos fãs mais ardorosos, mas não deixo de o ler, e reconhecço que quando ele não quer ser o nelson rodrigues, manda bem.
a frase que o avô disse para ele antes de morrer é um primor, mais grandiosa que a do goethe ("luz! mais luz!"). é para se botar numa placa.
É chato morrer, seu Arnaldinho, porque eu nunca mais vou à Avenida Rio Branco.
tá na coluna de hoje.
quero ficar no teu corpo...
estou considerando seriamente a possibilidade de, em se acabando bem meu suplício (leia-se "aprovação"), fazer uma tatuagem. para marcar mesmo o fim do ciclo, e comemorar a entrada nos "inta".
entre os temas, oscilo entre um urobouros, um nome de deus (para agradecer), ou então uma das calaveras do posada.
os desenhos, obviamente, serão meus, mas ainda não tenho idéia do lugar.
...sem piadinhas de duplo sentido, por favor...
09 fevereiro 2004
meu bisavô
seu nome era eustórgio wanderley. isso mesmo, eustórgio. pernambucano do recife, nasceu em 28 de fevereiro de 1882, cantou para subir em 31/05/62, antecipando em 11 anos e um dia meu nascimento.
foi jornalista (desde os 15 anos), poeta, dramaturgo, cenógrafo, músico, escritor e pintor laureado pela academia nacional de belas artes. entre suas muitas artes, participou durante anos da revista o tico-tico, (tendo escrito alguns números quase inteiros, sob pseudônimos como maurício maia, venceslau semifusa e trancoso); escreveu dois volumes intitulados tipos populares do recife antigo, que reúnem diversas crônicas ilustradas por ele mesmo; em 1925, como integrante do ciclo de cinema de recife, roteriza e dirigir o filme história de uma alma, considerado o projeto mais ambicioso da época(e que quase o levou à falência), sobre a vida de santa teresinha de lisieux.
a última que descobri foi que ele deu um pitaco no hino nacional. osório duque estrada tinha recém-escrito no primeiro verso da segunda parte:
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, jóia da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
e meu bisavô então escreveu-lhe dizendo que o jóia, pela métrica, seria cantada joiá, o que não convinha de forma alguma. e sugeriu ao poeta que trocasse o termo por "florão". dito e feito.
ao invés de facilitar...
bom, acho que sei a quem puxei, afinal de contas.
notícias de hoje
Bush, o presidente da guerra
deu no jb. entre outras sandices, bush filho confessou que toma decisões com a "guerra na mente". segundo a matéria, ele também "advertiu para os perigos que o mundo enfrenta".
resta saber se ele se referia a outros além dele mesmo.
quanto ao iraque, o xerife do mundo afirmou que a invasão do iraque se tratou de uma "guerra por necessidade".
sim, econômicas, dele e de seus comparsas.
o momento"é-ou-não-é-piada-de-salão", entretanto, deveu-se à seguinte declaração:
Desejo liderar o mundo em direção à paz e à liberdade. Quero comandar este grande país para trabalhar com os outros e mudar o mundo de maneira positiva.
07 fevereiro 2004
raduan nassar
peguei para folhear (ainda não posso ler nada) o "lavoura arcaica" do salsão. a prosa poética do raduan nassar tem algo de hipnótico, de embriaguez de clarinete. logo me remeto à beleza das imagens que o luiz fernando carvalho extraiu do texto, sem perder a fluência da prosa. do outro filme, não gostei.
meu primeiro contato com a obra do autor foi na faculdade, através do conto ventre seco. a intensidade e o estilo da prosa logo me seduziram, mas sequer sabia a nacionalidade do autor. parti numa pesquisa incessante, até seus livros serem reeditados pela companhia das letras.
curiosa, a decisão de deixar a carreira de sucesso como literato para a criação de galinhas, no interior de sampaulo. como se chegasse à conclusão que o que vale é o torvelinho da vida, e não sua representação estética. mas para isso, ele primeiro mostrou que subjugou o leão da arte.
06 fevereiro 2004
outra ingerência lusa
tirei daqui. é um ponto de vista...
I give up
Estou absolutamente farta de gajos com complexo de Peter Pan!!!
Eu explico. Um gajo com 30 anos que não esta casado ou é gay, ou está magoado, ou então tem uma grande rodagem. Este último tipo é-me bem familiar. Sabe como as coisas funcionam. Como começam e como acabam. Está sozinho porque quer, porque se habituou a isso. Age como se tivesse menos 10 anos (daí o Peter Pan), conhece a natureza humana e aproveita-a. Sobretudo, esta-se a cagar. É naquela.
Este tipo de gajo exaspera-me pela falta de consideração.
I give up!
edilásio, o gênio (sic) da raça
sempre gostei de programas de tv toscos. dos genuínos, toscos de conteúdo e pobres de produção (a eles será dado o reino dos céus!). sou assim desde o "perdidos na noite", do falecido fausto silva (abduzido pela besta do jardim botânico e substituído por um clone pasteurizado).
até pouco tempo, quando eu ainda via alguma televisão, não perdia aos domingos o "samba de primeira", do meu guru jorge perlingeiro ("só se for agora!"). e mais esporadicamente, o "deles e delas", "plantão de notícias", e onde tinha tv a cabo, "hermes e renato". todos no mesmo nível de indigência.
mas bom mesmo é o edilásio jr, com seu "vip". é demais! uma vez teve a "cobertura" da festa de aniversário do dono da water proof, gravado na casa do sujeito, com direito a imagens do tipo "tia-gorda-espremida-no-sofá-da-sala-de-estar", família sorrindo amarelo para as câmeras, e memórias constrangedoras do aniversariante, a língua solta pelo uísque. passei o programa bestificado, tentando calcular quanto ele pagou à facha pelo diploma de jornalista.
(depois perguntam porque sou favorável ao fim da obrigatoriedade do diploma.)
e apesar de o jorge perlingeiro ter passado um programa interio chamando o edney giovenazzi de "giovanezzi", nada se aproxima das pérolas do edilásio, como essas, descaradamente chupadas do xingatório da imprensa:
Terça-feira, Fevereiro 3
Intervalo
Edilásio Barra é um sujeito que se diz jornalista, professor universitário e empresário. Nesta segunda, seu programa na Bandeirantes, Vip, mostrou entrevistas feitas na festa de aniversário do secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Estado, Wagner Victer. Eis os melhores momentos:
- E aí, você veio prestigiar nosso amigo, o secretário Wagner Vict?
- [...] esse trabalho à frente da Rosinha Matheus, da Rosinha Garotinho...
- Estou feliz por estar aqui [...] viu, Wagner Vict?
- Como é que tá o trabalho no TRE? [...] Daqui a pouco vai começar o credenciamento.
- Fala um pouquinho da festa desse secretário, que é amigo de todos os prefeitos, o Wagner Vict.
- Fala um pouquinho do seu trabalho na pirataria.
- Estou aqui com o chefe de gabinete do Wagner Vict.
...
é ou não é genial?
05 fevereiro 2004
e por falar em suvaco...
alvíssaras! reencontrei os pêlos da madonna!
para quem (?) acompanha essa baiúca desde os primórdios, num dos primeiros bostejos (um dia aprendo a linkar direito), falei da importância dos pêlos do suvaco da madonna na construção da minha libido.
pois bem, aqui você pode vê-los, os pêlos, os mesmos daquela longínqua playboy da maria zilda, que perderam-me para sempre.
mulher de uniforme
definitivamente, uniformes não fazem parte da minha lista de fetiches. a não ser pela combinação "sapato-boneca-meia-até-o-joelho-saia-plissada-e-camisa-branca" do pedro II que me assombrou a adolescência, uniformes em geral só me arrancam bocejos.
bem, acho que as coisas mudarão, depois do ensaio do fotógrafo ashkan sahihi sobre as mulheres das forças de defesa de israel, que encontrei pelo belle de jour. mexeu comigo. não perguntem.
no mesmo site também tem uns ensaios bizarros, como de suvacos, gente sob o efeito de psicotrópicos e estupefaciantes, e com gozo na cara, entre outros. estranho, algumas vezes desagradável, mas ainda assim, interessante.
04 fevereiro 2004
manara, pratt, corto & bergman
manara conheci por volta dos 14, apresentado por um amigaço. para quem não sabe, maurillo (milo) manara é para a minha geração o que o carlos zéfiro foi para a do meu pai. desenhista italiano de primeira linha, é doutor em safadezas. suas mulheres de papel estão entre as mais gostosas do mundo, concorrendo inclusive com as de carne e osso (aliás, “homem de papel” é um de seus títulos lançados no brazuca).
hugo pratt eu só descobri mais tarde, já batendo a casa dos 30. quer dizer, conhecia algo de sua obra, mas tive que amadurecer para me apaixonar pelo seu traço. esse é MESTRE, com direito à maiúscula em tudo. veneziano, das viagens que empreendeu por boa parte do mundo, tirou subsídio para histórias inesquecíveis, muitas delas vividas por seu personagem-alter-ego, corto maltese.
marinheiro mercenário, charmoso e enigmático, corto é filho de uma cigana feiticeira, "la niña de gibraltar". ainda menino, nota a surpresa da mãe ao constatar que o filho nascera sem a “linha do destino”. assim, corto pega escondido a navalha de seu pai e traça-a ele mesmo na palma da mão. suas histórias ocorrem por volta das décadas de 10 e 30, passando pela primeira guerra até a guerra civil espanhola, onde relatos dão conta de que ele desaparece de vez.
guiseppe bergman é o cruzamento da colaboração dos dois mestres. ganha vida em 78, pelo traço de manara, no álbum hp e guiseppe bergman. na história, bergman, de saco cheio da vida, aceita a proposta de uma grande corporação de viver uma aventura onde ele imaginar, com tudo pago, em troca da exploração comercial da mesma. só que o personagem é incapaz de lidar com os imprevistos. maldizendo sua sorte a todo momento, ele tenta se convencer de que “agora, sim, começa a aventura!”. seu mestre de aventuras, espécie de quebra-galhos para orientação nos momentos críticos, é um certo hp, ou, nada menos que o hugo pratt em pessoa. bela e merecida homenagem.
tudo isso para dizer que, bom a dissertação não anda, mas “agora sim, começa a aventura!”
alea jacta est!
"o futuro é o que o presente consegue agüentar"
a frase é do robert fripp. guitarrista cabra macho, alternativo, empreendedor e experimental, desde os anos 60 é o cérebro por trás do king crimson. tocou com porrilhões de gente boa (talking heads, david bowie, peter gabriel, blondie, brian eno).
tem milinques aqui sobre o fripp e o king crimson.
mas legal mesmo é essa letra "trava-línguas" dele:
I may not have had enough of me, but i've had enough of you
That is the way it is because it is that way
It is that way in that it is the way it is
In the way that it is that way that is the way it is
In the way that that is the way that is the way it is that is it is the way
Or, that it is that way is the way it is
The way it is that is the way it is
In that it is the way it is is because it is that way
Or that it is the way that it is is the way that it is that
That is the way that it is the way that it is is the way that it is that way
I may not have had enough of me but I've had enough of you
03 fevereiro 2004
teta terrorista
engraçado o povo ao norte do rio grande. todos ficaram chocados quando aquele rapaz de nome de marca de sapato, justin timberland(tm) botou o peito da janet jackson pra fora, na final da supertigela.
ora, não tem duas semanas, jantei com as cenas de pilotos de helicóptero despedaçando civis desarmados no iraque. fine! aí são "nossos rapazes" cumprindo seu dever cívico. mas um peitinho, onde já se viu!
mas não nos melindremos: o garoto jã se desculpou, a mtv e a cbs também declararam não ter nada a ver com o peixe. quem parece que não gostou mesmo foi o cacique do federal communications comission, um tal michael powell. depois de quase se engasgar com um pretzel, a bicha subiu nas tamancas:
- Fiquei ultrajado com o que vi. Como milhões de americanos, minha família e eu nos juntamos na frente da televisão para uma celebração. Em vez disso, a celebração foi manchada por uma deplorável e inqualificável atração.
calma, gente! como diria clara nunes, "é um peito só"! 'cês nem parecem ameircanos... tá certo, a tetinha parece já ter visto dias mais empinados, (aliás, aquilo no mamilo é um pilsen ou uma estrela ninja?), mas pelo menos era natural. queria ver se fossem as bolas de capotão da pamela anderson ou da carmen electra, se os "milhões de americanos" achariam a atração "deplorável e inqualificável". tá mais é me cheirando a racismo. ô janet, tá na hora de você vingar seu mano. processo nesse cabra!
enquanto isso, do lado de fora, tudo corria de acordo com o american way of life:
A violência esteve presente nas comemorações pela vitória do Patriots nas ruas de Boston. O caso mais grave foi registrado perto da Universidade de Northeastern, quando um rapaz de 24 anos, embriagado, atropelou três pessoas, matando uma e deixando outra gravemente ferida.
vai entender...
02 fevereiro 2004
Sharon surpreende e anuncia fim de assentamentos em Gaza
apesar de parecer uma notícia boa, ela é matreira. sharon não bom. é um homem com um plano, e este, por sua vez, também não é bom. entretanto, de arrepiar mesmo é o fim da notícia:
Na segunda-feira, um militante palestino que havia perdido as duas pernas e um braço há um ano, vítima do disparo de um tanque, resistiu à prisão na Faixa de Gaza e acabou sendo morto por soldados israelenses, junto com três outros homens armados.
Cerca de 10 mil pessoas, muitas delas fazendo disparos para o alto, participaram dos funerais dos quatro homens. "Sharon, prepare os sacos para os cadáveres. Sangue por sangue", gritava a multidão.
...
à parte as demonstrações de estupidez de ambas as partes, gostaria de que alguém na platéia me esclarecesse uma dúvida: que resistência à detenção um cara sem as duas pernas e sem um braço pode oferecer a um monte de soldados saudáveis e armados?
mantra pra espantar a tristeza
do bom e velho macca:
Its my carnival, it's a lovely day
Well its my carnival, it's a lovely day
Well all you people, getting ready to play
I want to hear you say, come on down
This is my carnival, it's a lovely day
(My carnival - Venus and Mars)
...
agora vê se senta o rabo e vai trabalhar, vagabundo de merda! ó o prazo correndo e você sem nada ainda, imbecil!
01 fevereiro 2004
'tis good to be alive (tisco tubim a laivo)
acordo às três, com a roupa de ontem e o mundo sapateando na minha cabeça. no celular, mensagens desaforadas. abro o computa, e dou de cara com um imeio cabeludo. trago litros de café e um cigarro, coisa que não faço há anos. calafrios percorrem meu corpo toda vez que bate um vento.
vejo as canções baixadas antes de começar a trabalhar. quando ligo o alto-falante, esbarro no telefone, que derruba a xícara, que se espatifa no chão. seu conteúdo, já frio, derrama-se sobre o teclado, minha bermuda e o estofado da cadeira (gabi vai me matar!). tudo isso com o wilson pickett aos berros, cantando
Ow! Do it!
Wow! Do it!
Just watch me do it
Ah help me!
Ah help me!
Ah help me!
hoje é dia.
pode a vida ser melhor?
carta aberta de peito idem
acordo às três da tarde, a cabeça desse tamanho, e a certeza de que nunca
mais volto a beber até a próxima semana. ou até o fim do meu karma dissertativo. me lembro vagamente (de não começar frase com pronome oblíquo) e de ter ouvido um pipipi enquanto dormia. era o celular, com uma porrada de mensagens. ao mesmo tempo em que levava esporro, me perguntavam sobre música dos anos 80 (!).
...
ontem saí porque estava a fim de te conhecer, mas como vc mesmo lembrou num dos pipipi, não tinha a menor intenção de nada. sinceramente, não sei de onde veio essa fixação comigo, sei lá, a sua amiga pode ter falado etc., mas essa história morreu. finito. e mais ainda, não sei de onde veio a idéia de que eu pudesse ser um cara bacana. não sou. ou melhor sou, algumas vezes. outras não, como acho que acontece com a maioria das pessoas, à exceção do papa, que tem por profissão, se não gostar, ao menos perdoar os outros.
sinto se ontem meio larguei de mão nosso encontro, mas há muito não via aquele cara, que é um dos meus maiores amigos, e um dos sujeitos por quem mais tenho apreço. e posso até ter realmente me galanteado pra prima dele, assim como me galanteio pra meio mundo, mas como já afirmei, sem a menor intenção de nada. e não te "rifei", como você afirmou. o outro camarada é um dos caras mais interessantes que eu conheço, um puta escritor e um sujeito que eu levaria para uma ilha deserta. se ele se mostrou interessado, bacana, mas não tenho nada a ver com isso.
sou chato, egoísta e, depois de uns merecidos pés-na-bunda, fiquei cético e cínico. talvez a imagem que a sua amiga tenha te passado seja a de um cara que estava mostrando o melhor de si para impressionar. mas não sou aquilo. como também não sou apenas isso que acabei de escrever. não sei o que quero, mas sei o que não quero. mal-resolvido, duro e desempregado, a última coisa que quero é me envolver. já disseram que tenho dois corações: um que dou pra todo mundo, e outro que não dou pra ninguém. mas há controvérsias. porque também já me compararam ao homem-de-lata, do mágico de oz. se vc não lembra, ele não tinha coração (mas isso, eu e o norton nascimento sabemos que temos. o meu talvez esteja no intestino). mas enfim, como um puta narcisista que sou, gosto até dos meus defeitos, e gostei da imagem. e vivo bem sendo um enclausurado sentimental.
sinto se te decepcionei, mas pensando fria e sobriamente (apesar da dor de cabeça), chego a considerar a possibilidade de, levado pelo álcool e privado de sentidos (sempre achei que um dia usaria essa expressão), poder ter querido desconstruir a imagem de bom moço. não sou um desafio, não sou a esfinge que pede para ser decifrada, não sou inteligente ao ponto de não fazer cagadas, e tampouco capaz de me interessar verdadeiramente pelas pessoas. e gosto disso. para o bem ou para o mal.
mas não estou aqui para pedir desculpas. o que fiz está feito, e só me resta viver com isso. ou não.
em face dos últimos acontecimentos
Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
Fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados
que o melhor é ser pornográfico.
só drummond, só drummond, só drummond. tirado daqui.